EUA grampearam telefone do avião de Dilma

 

A presidente Dilma Rousseff mal desembarcou de volta da viagem aos Estados Unidos e já voltou ao foco do escândalo que revelou a espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA) americana sobre autoridades e chefes de Estado de vários países, justamente o motivo que havia adiado a visita dela ao presidente Barack Obama em 2013. Novos detalhes da espionagem americana sobre integrantes do governo brasileiro revelados pelo site WikiLeaks mostram que 29 linhas telefônicas do alto escalão foram monitoradas. A NSA espionou não apenas Dilma, mas também servidores de seu gabinete, auxiliares próximos e ministros. Até mesmo o telefone via satélite do avião presidencial foi grampeado.

JONATHAN ERNST/REUTERS/30-6-2015Confiança abalada. Pouco depois de renovar aliança com Barack Obama, na Casa Branca, Dilma volta ao centro do escândalo da NSA

O Planalto tratou as novas revelações como parte de “um caso superado”, que não afetam os acordos firmados na visita de Dilma aos Estados Unidos na última semana e a reaproximação entre os países.

A lista do WikiLeaks foi revelada pela Globo News, em parceria com a publicação on-line “The Intercept”. Na relação de espionados pelos EUA, estão o ex- chefe da Casa Civil Antonio Palocci e o atual ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. Na época, Barbosa era secretárioexecutivo da Fazenda. Também estão na lista o ex-ministro das Relações Exteriores e atual embaixador do Brasil em Washington, Luiz Alberto Figueiredo Machado, então subsecretário-geral de Meio Ambiente no período do monitoramento.

SECRETÁRIA DE DILMA FOI GRAMPEADA

Ainda segundo o WikiLeaks, há ainda quatro números do gabinete de Dilma, no Palácio do Planalto, que foram monitorados pela NSA, além dos telefones do assessor pessoal dela, Anderson Dornelles, e da secretária Nilce. Outro espionado foi o general José Elito Carvalho Siqueira, que é o diretor do Gabinete de Segurança Institucional, responsável pela assistência direta e imediata à presidente sobre assuntos de segurança nacional e de defesa.

A lista também indica que a espionagem chegou ao Banco Central. Luiz Awazu Pereira da Silva, ex-diretor da área Internacional da instituição, foi outro alvo.

Na cúpula da diplomacia brasileira, além do celular do embaixador Figueiredo, também foram objeto da espionagem americana as linhas de Marcos Raposo, que foi embaixador do Brasil no México e chefe do cerimonial da Presidência. Outros diplomatas com cargos técnicos no Itamaraty foram monitorados: André Amado, da Subsecretaria de Ambiente e Tecnologia; Valdemar Leão, da área econômica; Paulo Cordeiro, da Secretaria de Assuntos Políticos; e Roberto Doring, assessor do ministro das Relações Exteriores.

O embaixador Luiz Filipe de Macêdo Soares, informou o WikiLeaks, teve grampeado um telefone da residência oficial dele em Genebra, onde era representante permanente do Brasil junto à conferência internacional de desarmamento. Outro alvo da NSA foi o embaixador do Brasil na França, José Maurício Bustani, que antes foi diretor da Organização Internacional para Proibição de Armas Químicas. Ele perdeu o cargo sob pressão do governo americano. Também aparece na lista o então embaixador do Brasil em Berlim, Everton Vargas.

Ao GLOBO, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva, disse ontem que a questão da espionagem de autoridades brasileiras, incluindo a própria Dilma, está superada. Ele afirmou que os Estados Unidos assumiram o compromisso de suspender essa prática.

— Tudo isso já foi noticiado. É um fato antigo. O governo americano já se manifestou a respeito e assumiu compromissos internacionais de mudança de prática. Para o governo da presidenta Dilma, é um episódio superado — disse o ministro.

GOVERNO RENOVA CONFIANÇA NOS EUA

Nota divulgada no fim da tarde pelo Planalto ratificou a declaração do ministro dizendo que, “em várias circunstâncias”, Dilma ouviu de Obama “o compromisso de que não haveria mais escutas sobre o governo e empresas brasileiras, uma vez que os EUA respeitam os ‘países amigos’”. A nota diz que Dilma “reitera que confia no presidente Obama e no compromisso por ele assumido”. O governo renova a confiança na aliança com os Estados Unidos e diz que os dois países “tornarão cada vez mais forte a sua parceria estratégica, que está baseada no respeito mútuo e no desenvolvimento de seus povos”.

Na semana passada, durante um encontro em Washington, Dilma e o presidente Barack Obama deixaram claro que estavam virando a página do escândalo de espionagem. Anunciaram que a prioridade é impulsionar os laços econômicos.

O escândalo começou em 2013, com o vazamento de documentos pelo ex-técnico da NSA Edward Snowden que mostravam a espionagem sobre cidadãos dentro e fora dos Estados Unidos. Ele também apontou o monitoramento das comunicações de chefes de Estado, como a chanceler alemã Angela Merkel, e de autoridades de vários países. O “Fantástico”, da TV Globo, revelou que Dilma e o presidente do México, Enrique Piñera Nieto, também haviam sido espionados. A Petrobras também foi alvo. O GLOBO mostrou que a NSA também espionou cidadãos brasileiros. O escândalo fez Dilma cancelar uma visita oficial aos Estados Unidos.

Segundo Snowden, que está refugiado na Rússia, telefonemas e e-mails foram rastreados através de pelo menos três programas. O Brasil aparece com destaque em mapas da NSA, ao lado de países como China, Rússia, Irã e Paquistão.