Com alta da inflação, poupança tem pior resultado em 20 anos

 

Com a piora no emprego e a alta na inflação, os saques da poupança superaram os depósitos em R$ 38,5 bilhões este ano. Foi o pior semestre para a caderneta em 20 anos. Em junho, os resgates somaram R$ 6,3 bilhões. O aumento dos juros também influenciou, já que os investidores migraram para aplicações mais rentáveis. -BRASÍLIA- Os saques na caderneta de poupança superaram os depósitos em R$ 6,3 bilhões no mês passado. É o pior resultado da aplicação financeira mais popular do país, em meses de junho, dos últimos 20 anos, desde que começou a série histórica em 1995. Nos seis primeiros meses de 2015, as retiradas da caderneta ultrapassaram os depósitos em nada menos que R$ 38,5 bilhões. Neste caso, também é o pior desempenho desde 1995, conforme dados do Banco Central. Segundo analistas, o aumento dos saques é resultado de uma combinação de fatores: queda da renda por causa da inflação, aumento do desemprego e alta dos juros.

Economistas preveem piora dos resultados da caderneta. Um dos principais motivos é que as famílias brasileiras estão com renda apertada por causa da inflação. Em vários casos, o correntista saca os recursos que estavam depositados para fazer frente às despesas do mês, que aumentam com a remarcação de preços. Além disso, o desemprego está em alta e isso afeta o colchão de recursos feito pelas famílias.

Outro motivo que tem levado a poupança a ter resultados negativos nos últimos meses é o aumento dos juros para conter a inflação. Atualmente, a taxa básica (Selic) é de 13,75% ao ano. Enquanto a caderneta de poupança tem correção de 6% ano ano, mais Taxa Referencial (TR).

Assim, os depósitos da poupança são corrigidos por uma taxa abaixo da inflação, que deve fechar 2015 acima de 9%.

EFEITO NO CRÉDITO HABITACIONAL

Por isso, é mais vantajoso para o brasileiro investir em renda fixa do que guardar o dinheiro na poupança, mesmo se não for um grande investidor e não tiver acesso às taxas de administração diferenciadas oferecidas aos maiores aplicadores. Isso faz com que várias pessoas deixem a aplicação popular e migrem para fundos de investimento.

Atualmente, os brasileiros guardam R$ 646,6 bilhões na poupança. No fim do ano passado, esse número era maior: R$ 662,7 bilhões. Normalmente, mesmo com saques maiores que os depósitos, o saldo costuma crescer porque os rendimentos pagos pelos bancos aos clientes aumentam o volume de recursos da caderneta.

Não foi o que aconteceu em 2015, quando os rendimentos chegaram a R$ 22,4 bilhões, no primeiro semestre. O saldo caiu porque os saques foram mais elevados do que a soma dos depósitos e rendimentos.

Com menos recursos na poupança, o financiamento imobiliário é afetado, já que, no Brasil, a lei determina que os bancos usem esses recursos basicamente para financiar a compra da casa própria.

No fim de maio, preocupado com os saques da poupança, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou mudanças nas regras para liberar R$ 22,5 bilhões para o crédito habitacional, por meio da flexibilização dos depósitos compulsórios sobre a poupança, a parcela que os bancos têm de deixar parada no BC.

PROJEÇÃO PARA INFLAÇÃO EM 2016 RECUA

Depois de o BC sinalizar que continuará a subir os juros, mesmo com o baixo nível de atividade e o aumento do desemprego no horizonte, os analistas do mercado financeiro, enfim, diminuíram a previsão para a inflação em 2016. A pesquisa feita pelo BC com economistas das principais instituições financeiras do país mostra que a projeção está em 5,45%, depois de ficar por oito semanas em 5,5%. A autoridade monetária tem repetido que o objetivo é levar a inflação para a meta de 4,5% no ano que vem, porque, neste ano, o Banco Central não tem mais o que fazer e deve entregar para a sociedade uma alta de preços maior que o dobro desse objetivo.

Segundo o Boletim Focus, a estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano passou de 9% para 9,04%. A missão do BC era fazer com que ela ficasse em 4,5% ou dentro de uma margem de tolerância de dois pontos percentuais. Porém, de acordo com o próprio Banco Central, a probabilidade de isso acontecer é de 1%.

ANALISTAS PREVEEM DÓLAR A R$ 3,22

O BC joga a culpa do descontrole da inflação no câmbio e nas tarifas públicas, represadas no passado e que explodiram neste ano. E a expectativa do mercado em relação a isso só piora. Segundo o BC, a estimativa para a alta de preços administrados subiu de 14,6% para 14,9% neste ano. Foi a nona revisão para cima seguida.

Já a perspectiva para o dólar — um dos responsáveis pelo estouro da inflação neste ano — subiu de R$ 3,20 para R$ 3,22 no fim deste ano. E a aposta dos analistas é de mais números ruins pela frente. Isso inclui o IPCA de junho, que será divulgado na quarta-feira.

Em relatório, Octavio de Barros, diretor de Pesquisas Econômicas do Bradesco, projeta alta de 0,83% para o IPCA de junho, que deve ser divulgado amanhã.

Com juros em alta para combater a inflação, a recessão econômica deste ano deve ser mais grave que o esperado anteriormente. A previsão dos analistas passou de uma retração de 1,49% para 1,5%. Foi a sétima piora seguida. A projeção para a crise da indústria também piorou.

O mercado espera que o setor encolha 4,72% em 2015. Até a semana passada, a aposta era de uma retração de 4%.

As apostas para o ano que vem são de recuperação, mas, a cada semana, os economistas acham que essa retomada será mais fraca. A estimativa para o crescimento industrial passou de 1,5% para 1,35% em 2016. Já para o crescimento total da economia brasileira é de 0,5%.