Presidente reúne ministros e partidos da base para discutir defesa do governo, além de receber Cunha
AILTON DE FREITASConvocação. No Alvorada, após a reunião do Conselho Político, Dilma abre a porta para Temer: conversas sobre “pedaladas” e estratégias para reagir à crise políticaA presidente Dilma fez ontem uma série de reuniões para tentar reagir ao agravamento da crise política. De manhã, encontrou-se com o vice Michel Temer e ministros. Em seguida, convocou reunião de emergência do Conselho Político, com líderes e presidentes dos partidos aliados, para discutir estratégias de defesa no caso das “pedaladas” em julgamento no Tribunal de Contas da União (TCU). Por volta das 21h, ainda recebeu reservadamente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), junto com Temer. Segundo os presentes, Dilma se mostrou tranquila. O presidente do PT, Rui Falcão, informou que hoje os aliados vão se reunir com Temer para elaborar nota de apoio a ele e Dilma. -BRASÍLIA- Em meio ao agravamento da crise política, insuflada nos últimos dias pelos depoimentos relacionando arrecadação irregular de recursos para sua campanha no ano passado, a presidente Dilma Rousseff fez ontem uma série de reuniões para tentar reagir. Pela manhã, Dilma encontrou-se com ministros e o vice-presidente Michel Temer. Após esse encontro, a presidente decidiu convocar às pressas uma reunião do Conselho Político, que reúne os líderes e os presidentes dos partidos da base. Onze líderes da Câmara, outros 11 do Senado e seis presidentes de partido compareceram ao encontro no Palácio da Alvorada, no início da noite. Depois, por volta das 21h, Dilma ainda recebeu reservadamente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), junto com Temer.
Diante dos aliados, a presidente e os ministros Luís Inácio Adams (Advocacia-Geral da União) e Nelson Barbosa (Planejamento) explicaram a defesa do governo no caso das “pedaladas fiscais”, que está em julgamento no Tribunal de Contas da União. Como o TCU é um órgão consultivo do Congresso, mesmo que a presidente seja condenada pela Corte, suas contas só poderão ser aprovadas ou reprovadas pelos deputados e senadores. No encontro, Adams contestou o termo “pedaladas” e disse não ter havido irregularidades.
“MUITO TRANQUILA E SEGURA”
Os líderes sugeriram à presidente e aos ministros que compareçam à Câmara e ao Senado para dar aos parlamentares suas explicações. Segundo os presentes, Dilma se mostrou “muito tranquila e segura” dos fundamentos jurídicos da defesa.
— A presidente demonstrou estar muito tranquila (em relação às “pedaladas”) e otimista em relação ao Programa de Proteção ao Emprego ( PPE, lançado ontem) — afirmou o líder do PDT, André Figueiredo (CE).
Para aliados, o encontro serviu como um primeiro passo para tentar acabar com o distanciamento de Dilma de sua base. Eles afirmaram, no entanto, que ainda é cedo para dizer que surtiu efeito. O presidente do PT, Rui Falcão, disse que hoje os aliados vão se reunir com Temer para elaborar uma nota de apoio a ele e Dilma.
— Vamos discutir a nossa solidariedade apresentada a ele e a ela, compromisso irrestrito de defesa da Constituição e da legalidade democrática — disse Falcão, negando que seja uma resposta à oposição: — Não é nenhuma resposta, é uma declaração dos partidos que aqui estavam.
Segundo um dos presentes, a única pessoa a tocar no tema do eventual afastamento de Dilma foi a presidente do PCdoB, Luciana Santos, que, em discurso, disse que o partido ficaria contra “essa tentativa de golpe”. Dilma, no entanto, não fez qualquer comentário e mudou de assunto.
Segundo os presentes, Dilma fez um apelo para que a Câmara adie a votação do projeto que aumenta a correção do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que Eduardo Cunha pretende votar na próxima semana. Segundo o governo, a medida pode prejudicar o financiamento do programa Minha Casa Minha Vida. No fim da noite, Cunha falou sobre a reunião com Dilma:
— Foi uma conversa genérica, para quebrar o gelo. Sobre a situação geral, a economia.
De manhã, após o encontro com a presidente, Temer disse que é preciso evitar que uma crise institucional se instale no governo. Segundo ele, Dilma está tranquila em relação ao avanço do movimento dentro do Congresso em torno da possibilidade de ela ser afastada da Presidência.
— A presidente está inteiramente tranquila. Todos nós achamos que é algo impensável para o momento atual (a saída da Presidência). Eu vejo essa pregação com muita preocupação. Nós não podemos ter a essa altura, em que o país tem grande repercussão internacional, uma tese dessa natureza sendo patrocinada por diversos setores. Levar-se adiante uma ideia de impedimento da presidente da República poderia revelar uma crise institucional, que é indesejável para o país — disse Temer.
O vice-presidente colocou panos quentes na relação com o PSDB. Anteontem, no congresso que reconduziu o senador Aécio Neves (MG) à presidência do partido, os principais caciques tucanos disseram acreditar que o mandato de Dilma possa terminar antes de 2018. Apesar disso, Temer disse que partidos como o PSDB estão no seu papel de criticar o governo, e afirmou que espera que Dilma só deixe o governo nas próximas eleições presidenciais.
— Todos nós esperamos que seja daqui a três anos e meio — afirmou Temer: — O PSDB está fazendo seu papel. Acha que terá suas razões... A oposição existe para ajudar a governar. Nós achamos que devemos evitar qualquer espécie de crise institucional.
CUNHA REAFIRMA QUE TEMER FOI SABOTADO
Ao chegar à Câmara, ontem à noite, Cunha (PMDB-RJ) contestou a afirmação de Temer de que não foi sabotado pelo governo em sua atuação como articulador político. Cunha disse que Temer foi sabotado “até a semana passada”, e que isso resultou em derrotas para o governo na Câmara, já que o vice não conseguiu “cumprir” os compromissos que assumiu com a base para garantir a aprovação de matérias do ajuste fiscal.
Cunha afirmou que, se não houver mudança de fato, a crise será reinstalada em breve:
— Até quinta-feira, ele estava sendo sabotado. Não adianta querer pôr o Michel na articulação política e ele ficar sendo desmoralizado por sabotagem, como estava acontecendo até quinta passada. Se ele não tivesse sido sabotado, talvez o governo não tivesse perdido tanta votação como perdeu.
Um dia após líderes do PSDB apostarem em sua convenção que a presidente Dilma Rousseff pode não completar o mandato e se dizerem “prontos” para assumir o governo, integrantes do PT foram para o ataque contra o que chamaram de “golpismo”. O ministro de Direitos Humanos, Pepe Vargas, disse que o impeachment de Dilma, defendido por setores da oposição, não tem base legal nem jurídica:
JEFFERSON RUDY/AGÊNCIA SENADOEm plenário. A petista Gleisi e o tucano Aloysio Nunes (no telão) batem boca— Então, quem defende uma posição dessa natureza está defendendo uma posição de golpe ao estado democrático de direito e à Constituição.
Embora dirigentes tucanos tenham evitado usar o termo impeachment, essa foi a mensagem da convenção, na interpretação de alguns petistas.
O ministro Miguel Rossetto ( Secretaria- Geral) criticou a oposição por, em suas palavras, armar para tirar a presidente do poder:
— O país acabou de sair de um processo eleitoral com grande participação da sociedade, portanto o que a consciência democrática faz é rejeitar esses movimentos golpistas e ilegais que infelizmente ainda residem no nosso país.
O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse que não haja motivo para impedimento e afirmou que não há ilegalidade nas contas do governo que estão sendo analisadas pelo Tribunal de Contas da União.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães ( PT- CE), afirmou que o PSDB presta um desserviço ao defender “atalhos autoritários”:
— Ficar apregoando o caos não é nada responsável para quem quer um dia governar o Brasil. Essa história de discutir impeachment é coisa de uma direita truculenta.
Guimarães disse que ficou espantado ao ver na convenção do PSDB o ex-presidente Fernando Henrique dizer que “o PT quebrou o Brasil”:
— Eles quebraram o Brasil! Dizer que o PT quebrou o Brasil parece uma piada dessa gente que governou durante oito anos, comprou reeleição conforme a imprensa divulgou.
No Senado, Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) bateram boca em plenário. Gleisi acusou o PSDB de pregar o golpe na convenção, ao defender o impeachment. Aloysio disse que estava “fervendo e indignado” com a acusação.
— Só posso chamar isso de golpe, não há outra forma de avaliar. Desculpe se ofende o PSDB. Mas o que ouvi na convenção do PSDB foi isso — disse Gleisi.
— Estou impaciente, fervendo! A senhora está abusando no direito de nos atacar! Eu me senti insultado por Vossa Excelência quando fui chamado de golpista. Não tenho, na minha vida política passada e atual, porque ser acoimado de inimigo da democracia ou das instituições — rebateu Aloysio.
— Não o chamei de golpista. Falei que o PSDB, que a oposição estava sim com atitudes golpistas. Vossa Excelência vestiu a carapuça! — retrucou Gleisi, irônica.
A senadora disse que ficou “muito assustada” com o tom da convenção do PSDB.
— O golpe não é legítimo! Um partido não pode se prestar a esse papel: querer que o Tribunal Superior Eleitoral casse a presidente por conta disso ou querer preparar, no TCU uma situação de não aprovação de suas contas de governo, para levá-la a um impeachment. Dispute-se a eleição, ganhe-se na eleição. Faça-se isso, mas não o golpe — disse Gleisi.
“NÃO HÁ GOLPE COISA ALGUMA”
Depois, Aloysio disse que não quer ver o fim do governo Dilma, mas admitiu que o PSDB está preparado se ela for afastada do poder.
— Não há golpe coisa alguma. A tese de que a oposição busca um golpe é simplesmente é uma fantasia, uma forma escapista dos governistas de não enfrentarem os problemas. Não desejo o fim do governo da presidente. Quero ganhar no voto, em 2018. Mas, se acontecer algo antes, se a Justiça trabalhar, cumprir o seu papel e decidir no sentido de interromper o mandato, estaremos em condições de fazer uma transição tranquila do governo.
Ao lado de Aloysio, o senador Telmário Mota disse (PDT-RR):
— O golpe foi dado pelo PT.