Para bancada petista, governo precisa reagir e enquadrar a PF

 

Diante da baixa popularidade do governo, das acusações de corrupção na Operação Lava-Jato e dos prognósticos da oposição e de partidos da própria base aliada de que a presidente Dilma Rousseff não concluirá seu mandato, a bancada do PT na Câmara tem criticado reservadamente a falta de reação do Planalto.

GIVALDO BARBOSA/5-5-2015Desagrado. Zarattini diz que PF age como se fosse um “quarto poder”

“Nossa bancada é uma voz clamando no deserto às vésperas da crucificação. Não estou preparada para ver esse cortejo”, escreveu ontem a deputada Benedita da Silva (RJ), no grupo de WhatsApp da bancada, segundo deputados petistas.

O deputado Afonso Florence (BA) defendeu, no mesmo espaço, segundo relatos, a necessidade de o governo criar um gabinete de crise. Para a deputada Maria do Rosário (RS), a crise é “gravíssima”, ainda segundo os integrantes do grupo.

CARDOZO É COBRADO

Já o deputado Zé Carlos (MA) escreveu, segundo petistas, que o PT e o governo não podem continuar na defensiva, porque “quem abaixa demais o fundo aparece”.

A gota d’água foi a entrevista do diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, publicada anteontem em “O Estado de S.Paulo”. Na entrevista, Daiello afirmou que as investigações da Lava-Jato não vão parar nem se chegarem perto de Dilma, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de suas campanhas. Disse ainda que as investigações continuarão “com o ministro José Eduardo Cardozo na Justiça ou não, com o Daiello na PF ou não”.

Lula e seu grupo no PT têm atacado Cardozo em conversas reservadas. Eles reclamam que o ministro “não controla” a Polícia Federal e de supostos excessos na Lava-Jato, além de vazamentos “seletivos”.

A primeira mensagem com esse tom, no grupo de WhatsApp, foi postada pelo deputado Assis Carvalho (PI) anteontem, segundo colegas de bancada. Ele cobrou providências do Ministério da Justiça e do governo porque, segundo ele, o diretor da PF “extrapolou”.

CRÍTI CA À AÇÃO DA PF

O deputado Leo de Brito (AC) foi na mesma linha, segundo integrantes do grupo: “Não tenho nada contra o ministro (da Justiça), mas o que está acontecendo com a Polícia Federal é inadmissível. A Polícia Federal virou instrumento político”.

O deputado Carlos Zarattini ( PT-SP) confirmou que a entrevista de Daiello não repercutiu bem na bancada:

— Eu não gostei. Esse diretor da Polícia Federal acha que ali é um quarto poder, que não tem que se submeter a quem foi eleito, a quem tem voto. Até os ministros do Supremo (Tribuna Federal) são indicados pela presidente da República e referendados pelo Senado.

Assis Carvalho recomendou, na troca de mensagens, que o líder do PT, Sibá Machado (AC), e o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães ( CE), procurem Lula para conversar.

O deputado Paulo Pimenta (RS) ponderou, segundo petistas, que a bancada perdeu essa oportunidade na semana passada, ao se reunir com o expresidente.

 

MPF: Odebrecht pagou propina a Costa no exterior

 

O Ministério Público Federal afirma ter encontrado novos indícios de que a Odebrecht pagou propina ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa por meio de contas no exterior abertas por Bernardo Freiburghaus, apontado como um dos operadores do esquema de corrupção que envolvia a empreiteira. Os procuradores acharam uma relação entre os depósitos que teriam sido efetuados pela empresa a Costa e telefonemas feitos pelo ex-executivo da Odebrecht Roberto Araújo a Bernardo entre 2011 e 2012.

Costa contou à Justiça que foi Araújo quem lhe apresentou Bernardo para, segundo o MPF, de “operacionalizar depósitos de vantagens indevidas em favor do colaborador diretamente no exterior”. Para fazer a análise entre os telefonemas e os depósitos, foi preciso quebrar o sigilo telefônico dos suspeitos. O MPF utilizou o material para pedir, ontem, que o juiz Sérgio Moro reforce a prisão preventiva de Araújo, de de outro executivo da empresa, Márcio Faria, e do presidente da companhia, Marcelo Odebrecht.

Para fazer o cruzamento de informações, os procuradores considerando um intervalo de oito dias entre as ligações e as remessas de dinheiro. A partir desse critério, identificaram 28 depósitos que atribuíram a possível ordem de pagamento feita por Araújo. As transferências somaram US$ 5,044 milhões entre março de 2011 e dezembro de 2012 em contas de 17 diferentes offshores da Suíça, Ilhas Caymann, Bahamas, Luxemburgo e Hong Kong. Houve ainda uma transferência de € 550 mil.

Uma planilha detalha o raciocínio. Houve um contato telefônico entre os dois no dia 21 de março de 2011 e, dois dias depois, um depósito de US$ 81,04 mil na conta Total Tec Power Solutions, na Suíça. Uma ligação do dia 17 de maio foi seguida de quatro depósitos, por quatro dias consecutivos, no valor total de US$ 2 milhões na conta de quatro offshores também na Suíça — o maior deles (US$ 1 milhão), para Smith and Nash Engineering.

Além de expor a ligação entre Araújo e Costa, os procuradores explicaram porque acham que Márcio Faria e Marcelo Odebrecht devem continuar presos. Faria, assim como Bernardo, tem passaporte suíço e poderia fugir do país. Bernardo se mudou para a Suíça no ano passado e não pode ser ouvido pela força-tarefa da Lava-Jato. Chegou, inclusive, a figurar como foragido na lista da Interpol. Marcelo deve ser mantido na carceragem da Polícia Federal porque, de acordo com os procuradores, “não é crível” que ele não tivesse conhecimento do pagamento de propinas.

Segundo o texto do MPF, “a alternativa seria crer que o diretor Rogério Araújo tenha pago, de seu bolso, mais de US$ 23 milhões para Paulo Roberto Costa. É certo que os pagamentos, que beneficiavam a empresa, saíam dos cofres desta. Não é crível que pagamentos dessa dimensão não tivessem a concordância de seu principal gestor, Marcelo Odebrecht”.

Em nota, a Odebrecht disse que “desconhece completamente os fatos e o teor dos supostos telefonemas apontados, e mais uma vez questiona o vazamento seletivo de informações, vício que compromete o exercício do direito de defesa”.