Título: Em evento brasileiro, Assange ataca mídia
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Fonte: Correio Braziliense, 02/09/2011, Mundo, p. 15

Na semana em que vazou o conteúdo de 134 mil documentos secretos dos Estados Unidos, o fundador do WikiLeaks deu as caras no Brasil. Na verdade, não presencialmente. Julian Assange realizou uma conferência virtual na manhã de ontem, durante a abertura da InfoTrends ¿ o evento, em São Paulo, discute tendências da cultura digital. Proibido pela Justiça britânica de deixar o país, ele disparou contra a imprensa, ao afirmar que jornais renomados, como o The Guardian e o The New York Times, são coniventes com as autoridades de seus países e escondem informações importantes. "Nós estamos produzindo um jornalismo forte e imparcial, mas outros foram contaminados pelo medo do governo."

Assange acusou o New York Times de omissão em relação à denúncia de execução de uma família inteira em Bagdá. O jornal também teria ignorado informações sobre assassinatos em massa no Afeganistão. O fundador do WikiLeaks denunciou a existência de uma lista com o nome de 2 mil pessoas que podem ser mortas a qualquer momento. "São execuções extrajudiciais. Ninguém tem acesso a isso. O governo afegão não tem ciência dessa lista, e os procurados não sabem que devem se entregar ou morrerão", denunciou Assange.

O ativista disse, ainda, que o britânico The Guardian já publicou uma notícia falsa, que teria sido plantada pelo governo dos EUA. Em maio, o jornal divulgou uma matéria em que apontava a exportação de mísseis de longo alcance da Coreia do Norte para o Irã. A intenção era cercear ainda mais o governo iraniano, dando a entender que ele teria condições militares de ameaçar a Europa. Para Assange, a parceria entre autoridades e a imprensa ocidental amedronta a população. "Quando as pessoas têm medo, elas aceitam coisas que não tolerariam em outras circunstâncias", argumentou.

Disputa antiga A alfinetada é mais uma na briga entre o ativista e a mídia. Assange acusa o Guardian de ter sido o responsável pela postagem, sem edição, dos 134 mil documentos revelados no início desta semana. O jornal é um dos cinco periódicos mundiais que tiveram acesso aos primeiros conteúdos vazados pelo WikiLeaks. Por conta disso, seus editores saberiam a senha de acesso aos arquivos e teriam agido de má-fé. A versão parece contraditória a uma declaração da porta-voz do Departamento de Estado dos EUA. "O WikiLeaks nos advertiu sobre a publicação iminente de informações e sobre sua intenção de continuar revelando dados confidenciais", afirmou Victoria Nuland. "O site ignorou nossos apelos para que não publicasse ou divulgasse qualquer documento americano que pudesse ter em sua posse."

Enquanto Assange falava aos brasileiros, o WikiLeaks lançou, em sua conta no microblog Twitter, uma consulta pública para saber se deve divulgar a íntegra de 250 mil despachos diplomáticos norte-americanos. Até o fim da tarde de ontem, o site informou que a votação estava "favorável a mais de 100 por 1" pela divulgação total do material.