'Não a aventuras'

 

Na cúpula do Mercosul, a presidente Dilma Rousseff disse não haver mais espaço na região para “aventuras antidemocráticas”. Nicolás Maduro, da Venezuela, não foi ao almoço oficial para protestar por críticas feitas a seu país pelo presidente da Guiana, recebido por Dilma. Em meio a uma grave crise política no Brasil e falando para os chefes de Estado na reunião de cúpula do Mercosul, a presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que não há espaço para aventuras e atitudes antidemocráticas na América Sul. Dilma disse que a região sofreu duramente com ditaduras e que, graças às eleições, vive um clima de normalidade.

AILTON DE FREITASDescompasso. Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, não foi ao almoço oferecido por Dilma em Brasília

— Somos uma região que sofreu muito com as ditaduras. Somos uma região onde a democracia floresce e amadurece. No ano passado, houve eleições gerais no Uruguai e no Brasil. Este ano, é a vez da Argentina e da Venezuela. A realização periódica e regular desses pleitos dá capacidade de lidar com as diferenças políticas. Temos de persistir nesse caminho, evitando que as disputas incitem a violência. Não há espaço para aventuras antidemocráticas na América do Sul — enfatizou.

SAIA JUSTA COM MADURO

Durante o encontro, Dilma passou por uma saia justa ao tentar colaborar com um impasse entre Venezuela e Guiana, ex-colônia britânica. Esses dois países protagonizam uma disputa por uma faixa do litoral, localizada na zona fronteiriça, chamada Essequibo. Irritado com o tratamento dispensado por Dilma ao presidente da Guiana, David Granger, o líder venezuelano, Nicolás Maduro, saiu mais cedo da cúpula, no Itamaraty. A delegação venezuelana abandonou o evento e não participou do almoço que seria oferecido pela anfitriã, após ouvir as declarações de Granger a respeito do que ele chamou de provocações de Caracas.

Tudo começou quando Dilma recebia Granger num encontro bilateral, momentos antes da cúpula. Maduro chegou mais cedo e tentou participar da conversa. A presidente brasileira, porém, não autorizou sua entrada. No encontro, o presidente da Guiana pediu que o Brasil mediasse uma solução pacífica. Dilma aceitou. Mais tarde, durante os pronunciamentos dos chefes do Estado, enquanto o venezuelano evitou tocar no assunto em seu discurso, Granger fez questão de citar o conflito.

— O mundo inteiro já reconhece nossas fronteiras. A Guiana foi obstruída dentro do desenvolvimento de seu próprio território. Nossos vizinhos expulsaram uma de nossas embarcações petroleiras, e nossa economia tem sido paralisada. Já temos provocações incansáveis há muitos anos — disse Granger, sem citar diretamente a Venezuela.

O presidente da Guiana afirmou também que as violações de fronteiras delimitadas por acordos internacionais podem deteriorar a integração. Segundo ele, seu país está sendo vítima de provocações e violações.

Essequibo é uma zona marítima onde a americana Exxon Mobil descobriu uma importante reserva de petróleo. A expectativa é que Maduro também conversasse sobre o tema com Dilma, mas o Itamaraty não confirmou se isso realmente aconteceu. Estima-se que o projeto de exploração da Exxon ocorrerá numa área, terrestre e marítima, de 159.500 quilômetros quadrados. A soberania do lugar é reclamada por Guiana e Venezuela. A fronteira entre os dois países foi delimitada no fim do século XIX.

O governo brasileiro está disposto a mediar essa negociação, para que seja encontrada uma solução pacífica.

— Ele pediu apoio, e o Brasil vai ajudar — revelou ao GLOBO uma fonte do governo brasileiro, referindo-se ao presidente da Guiana.

PEDIDO VENEZUELANO À ONU

Maduro pediu a mediação da ONU para o conflito territorial e afirmou que a União de Nações Sul- americanas ( Unasul) vai convocar uma reunião extraordinária, em agosto, para analisar o assunto.

— Agradeço o acordo para convocar uma reunião da Unasul para debater um tema que, como todos sabem, tornou-se polêmico — disse Maduro.

Por sua vez, Dilma chorou ao mencionar que esta é a última reunião de cúpula de sua colega argentina Cristina Kirchner. Lembrou que as eleições na Argentina acontecerão em outubro deste ano, quando um novo presidente assumirá o cargo de Cristina, e arrancou aplausos demorados para a mandatária argentina.