Título: Distritais petistas não se entendem
Autor: Taffner, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 26/08/2011, Cidades, p. 28

Eles são da mesma legenda, mas fazem parte de correntes diferentes e disputam as bases eleitorais. Têm relações próximas com o governo, mas se esbarram na hora de representá-lo na Câmara Legislativa. Com personalidades bem distintas, em algumas oportunidades, como na última quarta-feira, três petistas levaram a público as divergências. Patrício, Wasny de Roure e Chico Vigilante ocupam posições de destaque na Casa. São, respectivamente, presidente da Câmara, líder do governo e líder do bloco PT-PRB. No entanto, a tensão entre os três faz com que a liturgia dos cargos nem sempre seja seguida à risca.

O que seria a última sessão ordinária desta semana se tornou palco de desentendimento entre Wasny e Patrício. O presidente pretendia votar, na quarta-feira, o projeto de lei que altera o gabarito do subsolo do Conselho da Justiça Federal (CJF) para a construção de uma biblioteca. No entanto, Patrício chegou tarde ao plenário e a sessão acabou encerrada sem a aprovação do texto. Foi o suficiente para ele ir tirar satisfações com o líder do governo.

Os dois bateram boca em plenário. Vigilante ainda tentou intermediar, mas os dois não deram muita atenção ao colega. Saíram estremecidos. Segundo Wasny, era preciso discutir melhor o tema em audiência pública, até para evitar possível ação contrária do Ministério Público. O presidente, no entanto, enxergou a atitude como manobra para aprovação de emenda "submarino". "Não vamos aceitar protelação para ele tentar regularizar o lote de uma igreja. Esta Casa não vai fazer nada inconstitucional", esbravejou.

A emenda em questão tratava do terreno da Igreja Batista Central de Brasília, em área vizinha ao CJF. Wasny afirmou, porém, que havia retirado a proposta por conta de acordo na Comissão de Assuntos Fundiários. A solução foi transformar a comissão geral que ocorreria na tarde de ontem em nova sessão ordinária a fim de votar o projeto. Antes, porém, os dois fizeram as pazes publicamente.

Wasny é o mais polido dos três. Paciente e de temperamento calmo, consegue ouvir atentamente as demandas dos colegas a fim de levá-las ao governador, Agnelo Queiroz. Foi escolhido para o cargo justamente por conta do perfil conciliador. Com conhecimento técnico na área financeira e tributária, concorre ao cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do DF, contando com a promessa do governo em indicá-lo. "Minha natureza é política. Disputo com o Chico há muitos anos e com o Patrício só mais recentemente. Acho que o PT devia ser mais unido aqui dentro, mas a gente não consegue nem se reunir", diz.

Combativo Vigilante é o mais combativo. Fundador do partido no DF e amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, confunde a própria história com a do PT. No entanto, seu estilo causa antipatia dos colegas. Sempre que alguém do governo é criticado em plenário, ele saca o celular e liga para a pessoa a fim de repassar as explicações em seguida. A atitude é vista com maus olhos. "Não levo desaforo para casa. Eu sou direto e muitas vezes acabo parecendo um "antideputado". Tenho personalidade forte, acredito no governo e vou até as últimas consequências, mas não tenho desentendimento com ninguém."

Patrício está na política há menos tempo, mas construiu rapidamente carreira de destaque. Próximo ao governador Agnelo e ao secretário de Governo, Paulo Tadeu, foi escolhido a dedo para ocupar a Presidência da Casa. Nos momentos mais difíceis, atua para ajudar o Executivo na articulação com os distritais. No entanto, é criticado pelos colegas por faltar às sessões e tomar medidas impopulares no comando da Câmara. "O PT é assim mesmo. Cada um é militante e tem ideias diferentes das dos outros. Ao contrário de pessoas de outros partidos, a gente não é como uma claque que executa sem questionar", afirma.

Desavenças Nos bastidores, as desavenças entre os petistas são mais comuns. No partido, Vigilante faz parte do Campo Majoritário, enquanto Wasny é do Movimento Alternativa Socialista (MAS-PT) e Patrício, que já foi da Articulação, tem procurado trilhar um caminho sem amarras a tendências. A disputa entre eles começa na concorrência das eleições. Por conta da legislação, com o coeficiente eleitoral, é mais pragmático derrotar um correligionário do que o candidato de outra legenda. Internamente, eles ainda brigam por fortalecimento no PT e, principalmente, por espaço no governo.