Risco de rebaixamento põe governo em pânico

30/07/2015 

Paulo Silva Pinto

 

A um passo do abismo, o Brasil está inclinando o corpo para olhar o tamanho da queda. Agora, já são grandes as chances de o país perder o selo de bom pagador nos próximos meses, afirmou ontem a Standard & Poor´s (S&P). A agência de classificação de risco manteve a principal nota dos papéis do governo no patamar mais baixo do grau de investimento: BBB-. Mas passou a colocar o país em perspectiva negativa: portanto, na iminência do rebaixamento para o nível especulativo. Ministros tentaram minimizar esse risco. Contudo, a tensão no Palácio do Planalto é enorme. Entre assessores da presidente Dilma Rousseff, já se conta com esse tombo, que provocará a disparada do dólar, maior pressão sobre a inflação e agravamento da recessão. 

Nós rebaixamos a nota do Brasil em março do ano passado devido à piora do quadro fiscal. Mantivemos a nota neste ano diante de importantes mudanças na condução da política econômica. Mas o risco de execução das medidas piorou, disse a diretora da S&P Lisa Schineller. Ela ressaltou que os problemas do país estão na economia, com o baixo crescimento, que piora a arrecadação de tributos, mas também na política, diante das dificuldades que o governo enfrenta para a aprovação de medidas de ajuste fiscal. As tensões reemergiram. 

Para a S&P a primeira agência a dar o selo de bom pagador ao Brasil, em 2008 , se o país continuar como está, o rebaixamento será inevitável. É preciso que o Brasil apresente melhoras para manter a nota que tem hoje e retornar da perspectiva negativa para a de estabilidade. Isso depende, sobretudo, da relação entre o governo e o Congresso. Os ratings poderiam se estabilizar se o elevado nível de incerteza política diminuísse e as condições para uma execução de políticas consistente melhorassem. É nossa opinião que tais melhoras dariam suporte a uma virada mais rápida e poderiam ajudar o Brasil a sair de sua atual recessão, facilitando um resultado fiscal melhor e oferecendo um espaço de manobra maior diante de choques econômicos, afirmou a agência por meio de nota, ao comunicar a perspectiva negativa do país. 

Impeachment 
A possibilidade de impeachment da presidente Dilma é um sinal das dificuldades do governo para angariar suporte consistente à correção de curso de suas políticas e para uma revirada na economia, segundo a nota. Mas Lisa disse que, caso seja instaurado um processo para que Dilma deixe o poder, não haverá automaticamente perda do grau de investimento, desde que não haja ruptura institucional. O Brasil já passou por esse processo antes, ressaltou a diretora da S&P. De acordo com a agência, as investigações de corrupção provocaram aumento das incertezas políticas no curto prazo, mas também são positivas para a imagem do país, como testemunho da estrutura institucional, que se contrasta com a de muitos outros mercados emergentes. 

A S&P destacou que a melhora das condições políticas não é vista como um objetivo em si, mas um meio para o país conseguir sair do atoleiro. Se a política continuar como está, mas a economia melhorar, podemos mudar nossa avaliação sobre o país, ressaltou outro diretor da agência, Roberto Sifon-arevalo. O problema é que a tendência de melhora independentemente de decisões do Executivo e do Legislativo é mínima. As previsões para a economia que a própria S&P divulgou ontem deixam isso claro. Espera agora queda de 2% no Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, pior do que a mediana dos analistas de mercado no último boletim Focus, do Banco Central, de 1,7%. E no próximo ano ainda não haverá alívio: o crescimento, segundo a agência, será nulo. 

A única chance para o país parecer melhor aos olhos do mercado, portanto, seria aprovar mudanças que apontem para melhora fiscal futura. A mudança da meta de superavit primário para apenas 0,15% do PIB foi avaliada como realista pela S&P. Não consideramos que sejam o reflexo de um menor comprometimento com uma correção da política. Porém, indicam exatamente a dificuldade do governo de conseguir seus objetivos. O Orçamento do governo é muito rígido, criticou Lisa Schineller. 

A reação dos mercados foi ruim num primeiro momento, mas houve certo alívio após a entrevista dos diretores da agência. O dólar atingiu R$ 3,43 na cotação máxima do dia. Mas fechou a R$ 3,37, com alta de 0,15%. Para o gerente de câmbio da corretora Icap, Ítalo Abulcater, a tendência continua a ser de elevação da moeda norte-americana. A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) oscilou bastante durante o dia, mas fechou em alta de 1,78%. Para analistas, investidores aproveitaram pechinchas depois de sete pregões de queda.