Passageiro de negócios some, e aéreas recorrem a promoções

 

Com menos passageiros viajando a negócios devido à crise econômica, aéreas apostam em promoções para turistas. Viagens noturnas e férias concentram atrasos em voos. -BRASÍLIA- Apertem os cintos, o passageiro de negócios sumiu... Esta é a percepção das companhias aéreas, que, com o agravamento da crise econômica, constataram queda acentuada no número de viagens a trabalho. Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), a proporção entre passageiros que viajam a negócios e os demais, que era de 60% e 40%, inverteu-se nos últimos três meses.

MÁRCIA FOLETTO/28-4-2015Turbulência. Ponte aérea Rio-São Paulo: empresas ajustam rede de voos na crise

As empresas têm direcionado suas ações de marketing para atrair mais usuários que viajam a lazer, turismo ou em visita a parentes, com a ampliação das tarifas promocionais. A Gol lançou neste fim de semana o Super Feirão de passagens, com volta a R$ 59 para diversos destinos. O resultado de campanhas como essa são aviões lotados, com ocupação acima de 80%, mas a um custo alto para o setor.

— A procura está mais fraca, e a oferta bastante abrangente. Não há crescimento da receita. Pelo contrário, existe uma pequena diminuição. Eu diria que as promoções são uma questão de sobrevivência — disse Mário Carvalho, diretorgeral da TAP no Brasil.

As empresas relatam que os executivos de empreiteiras sumiram. Muitas construtoras estão quase paralisadas pela Operação Lava-Jato e, além disso, não há grandes obras de infraestrutura em franca expansão, diz uma fonte. Poucos setores mantêm a demanda de passageiros de negócios.

Para as companhias, a mudança é ruim porque o passageiro de negócios viaja em cima da hora e paga preços mais elevados pelo bilhete. Segundo estimativas da Abear, o valor médio pago por passageiro a cada quilômetro voado, indicador de rentabilidade do setor, está 20% mais baixo em relação ao ano passado, já considerando a inflação. Com as promoções, o universo de passageiros transportados cresceu 3,77% em maio, em relação ao mesmo período do ano passado. Porém, a avaliação é que a onda de promoções não é sustentável por um longo período.

— A promoção é um esforço mercadológico, de curto prazo. Não existe promoção permanente — destacou o consultor da Abear, Maurício Emboada.

Segundo ele, se a atividade se mantiver desaquecida por um período mais prolongado, as empresas devem reduzir a oferta, o que pode afetar os preços. Mas, destacou, essa não é uma medida simples, porque significa abrir mão de parte do mercado, empurrar o cliente a outra empresa. Em alguns aeroportos, como Congonhas, cancelar voos pode levar à perda do slot (autorização para pousos e decolagens).

NO MEIO DE UMA ‘TEMPESTADE’

O diretor de uma grande companhia disse que as empresas vão amargar mais um resultado negativo neste ano. A expectativa é que a situação só comece a mudar no fim de 2016:

— Estamos atravessando uma tempestade. Não vamos sair dela tão cedo. O objetivo agora é reduzir os danos —disse.

As empresas passaram a monitorar mais de perto o mercado e a fazer ajustes finos na malha, reduzindo a frequência nos voos ou alterando planos de abertura de rotas. A Azul, que inaugurou a rota Brasília-Santos Dumont, no ano passado, passou a mirar outros mercados, como Uberlândia, Florianópolis e Navegantes. Também intensificou os voos a partir do aeroporto central de Belo Horizonte (Pampulha), fazendo ligações para Brasília, Santos Dumont e Vitória.

— A gente olha preço toda hora, por minuto. O mercado é livre e tem muita competição. Se meu concorrente aumentar a oferta, o preço cai. Estamos preparados para fazer os ajustes necessários — disse o presidente da Azul, Antonoaldo Neves.

Já a TAM prevê “crescimento conservador” diante do cenário.

“A empresa avalia de perto a evolução da demanda, planejando a malha aérea com flexibilidade para permitir adequações às condições do mercado. Diante do cenário desafiador de volatilidade da demanda e do câmbio, a companhia projeta crescimento conservador da oferta e disciplina de capacidade dos voos para gerar rentabilidade de suas operações”, disse em nota.