Dólar dispara, mas recua e fecha a R$ 3,37

 

 O rebaixamento da perspectiva da nota de risco do Brasil para negativa, pela agência Standard & Poor’s ( S& P), pesou ontem sobre os mercados, mas no fim do dia, a pressão diminuiu, e a valorização do dólar perdeu força. A Bolsa de Valores de São Paulo ( Bovespa) acabou até fechando em alta. Na avaliação dos analistas, isso aconteceu porque os investidores já contavam com a decisão da S& P. O dólar comercial, que chegou a bater a máxima de R$ 3,435 — a maior cotação desde os R$ 3,494 registrados em 20 de março de 2003 —, acabou encerrando com valorização de apenas 0,17% ante o real, a R$ 3,370. No câmbio turismo, a moeda chegou ao fim do dia valendo até R$ 3,77. Já o índice de referência Ibovespa subiu 1,78%, aos 49.601 pontos, após sete quedas consecutivas.

Para agentes do mercado financeiro, o panorama se explica pelo fato de a decisão da agência ser esperada, apesar de, logo após o anúncio, ter havido uma volatilidade elevada. E houve também um certo alívio. Havia quem temesse que a S& P rebaixasse diretamente a nota do Brasil — hoje apenas uma acima do nível especulativo —, sem a mudança de perspectiva.

PESO MAIOR DA POLÍTICA

Alexandre França, gestor da Arbitral Gestão de Recursos, lembra que, como nas outras duas agências ( Moody’s e Fitch) o Brasil está duas notas acima do grau especulativo, a perda de grau de investimento no curtíssimo prazo está descartada. Para ele, essa mudança pode ajudar a melhorar o ambiente político — sobretudo, as relações entre o Executivo e Legislativo:

— Pode ser uma luz no fim do túnel, já que a S& P deixou claro que o problema político contribuiu e, agora, isso terá de ser resolvido. Além disso, o risco é grande da perda do grau de investimento por essa agência até o ano que vem, mas ainda não aconteceu. A piora da perspectiva já estava no preço.

Entre as razões citadas para a mudança está o ambiente desafiador — tanto no âmbito econômico como político. Ou seja, a situação inspira cuidado, e o ajuste fiscal tem de avançar.

— O cenário econômico e o rebaixamento da perspectiva fazem com que as notas do Brasil fiquem no fio da navalha, bem perto de perder o grau de investimento — disse Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.

A alta do dólar também preocupa. A moeda já vinha pressionada devido à redução da meta de superávit fiscal e à preocupação crescente com a China, principal parceiro comercial do Brasil. Para Marcelo Castello Branco, economista da Saga Capital, são vários os fatores que explicam a escalada da moeda — no ano, a valorização é de 26,6%:

— A alta teve início na semana passada, com a mudança da meta fiscal, mas de lá para cá a preocupação com a China aumentou. Isso influencia o preço das matériasprimas e acaba por impactar na taxa de câmbio dos países exportadores de commodities.

Em casas de câmbio do Rio, o dólar turismo chegou a ser vendido, na máxima, a R$ 3,48, em espécie, ea R$ 3,77, no cartão pré- pago. O euro turismo também entrou em curva ascendente. Ao fim do dia, a moeda europeia era vendida na Ultramar Câmbio a R$ 3,90 ( papel- moeda) e R$ 4,14 ( cartão pré- pago). Na máxima, esses valores chegaram a R$ 3,96e R$ 4,17. Eles valores já consideram o IOF.