Título: Ajuda bilionária
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Fonte: Correio Braziliense, 26/08/2011, Mundo, p. 14

Diplomatas anunciam acordo no Conselho de Segurança para permitir o acesso do governo rebelde a US$ 1,5 bilhão que estavam bloqueados. Liga Árabe vai reconhecer embaixador designado pelo CNT

Enquanto tenta encerrar a batalha dentro da Líbia, o Conselho Nacional de Transição (CNT, braço político dos rebeldes) comemorou ontem o desbloqueio, pelas Nações Unidas, de US$ 1,5 bilhão em ativos do país que estavam congelados. Após duas semanas de negociações entre os Estados Unidos, que propuseram a liberação, e a África do Sul, que resistia por não reconhecer ainda o CNT como governo legítimo, um acordo no último minuto foi fechado ontem para permitir o desbloqueio das contas, determinado em resolução do Conselho de Segurança.

Os ativos eram reivindicados pelo CNT como ajuda de emergência para a reconstrução do país. Líderes rebeldes alertavam que a Líbia poderia afundar no caos se não recebesse o benefício. Caso a África do Sul não retirasse o bloqueio, Washington acenava com a opção de levar o assunto a votação, para que o dinheiro fosse liberado "o mais rápido possível". O governo sul-africano insistia em aguardar um pronunciamento da União Africana (UA), que se reuniu ontem, mas ainda não chegou a uma posição comum.

Segundo estimativas internacionais, cerca de US$ 160 bilhões pertencentes ao Estado líbio estão congelados em bancos de vários países. Os fundos estão bloqueados desde fevereiro, quando o Conselho de Segurança adotou a Resolução nº 1.970, com o voto favorável do Brasil. O texto impôs uma série de sanções ao regime de Muamar Kadafi, na tentativa de frear a resposta violenta do ditador aos protestos de rua que pediam sua saída.

Diplomacia O CNT continuou colecionando sucessos diplomáticos durante a quarta-feira também na Europa, onde o número dois da coalizão rebelde, Mahmud Jibril, está percorrendo capitais em busca de apoio e reconhecimento. Ontem ele foi recebido em Roma pelo primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, que já foi próximo a Kadafi, mas promete agora transferir 350 milhões de euros para o CNT. Na véspera, a França já tinha anunciado a intenção de descongelar fundos. Os dois países, porém, precisam de autorização da ONU e da União Europeia (UE).

Mais cedo, a Liga Árabe confirmou uma posição já tida como certa desde a terça-feira e identificou o CNT como o único representante legítimo da Líbia. Um embaixador da coalizão rebelde será reconhecido oficialmente como representante do país na reunião de chanceleres marcada para amanhã na sede da organização, no Cairo.

A França anunciou na quarta-feira a convocação de uma reunião de "países amigos", em Paris, na próxima semana, para discutir a transição na Líbia.

O presidente Nicolas Sarkozy manifestou a intenção de convidar países cujos governos se opuseram à intervenção militar ocidental no país, como Rússia, China, Índia e Brasil. Os quatro, mais a Alemanha, se abstiveram na votação da Resolução nº 1.973 do Conselho de Segurança, que autorizou o uso da força.

Em visita a Buenos Aires, o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, não quis confirmar a participação no encontro. "Nossa posição é de que nenhum grupo fora do Conselho de Segurança pode se atribuir a prerrogativa de adotar decisões que somente o Conselho de Segurança pode adotar", disse Patriota.