Título: Sindicatos e governo declaram vitória
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Fonte: Correio Braziliense, 26/08/2011, Mundo, p. 15

Manifestação em Santiago: em dois dias, cerca de 500 prisões

O Chile fechava ontem o balanço de uma greve geral de 48 horas, a primeira enfrentada pelo presidente Sebastián Piñera, com a expectativa de novos confrontos entre o governo e as centrais sindicais, reforçadas por organizações estudantis e outros movimentos sociais. Dois dias de marchas, piquetes e choques isolados entre policiais e grupos mais exaltados de manifestantes terminaram com quase 500 detidos e pelo menos 40 policiais feridos.

A paralisação foi convocada pela Central Unitária de Trabalhadores (CUT), que recebeu a adesão de estudantes, educadores e funcionários públicos. Eles reclamam a redação de uma nova Constituição para substituir a Carta legada pela ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990), mudanças na legislação trabalhista e mais investimentos nos sistemas públicos de saúde e educação, entre outras reivindicações.

"Esta é a resposta do povo do Chile àqueles que negam seus direitos, aos que não querem conversar. É hora de conversarmos de verdade, caso contrário isso vai continuar", ameaçou o líder da CUT, Arturo Martínez. "Estamos pensando em novas convocações. A educação é um problema social", acrescentou a líder estudantil Camila Vallejo. Para ambos, a greve foi exitosa e teve grande respaldo no país, o que poderia levar o governo a ceder.

Representares do governo de Piñera disseram o contrário. "Tivemos um protesto tranquilo e organizado, sem maiores problemas", afirmou o porta-voz do presidente, Andrés Chadwick. A ministra do Trabalho, Evelyn Matthei, calculou em 9% a adesão de funcionários públicos à greve. Ela ressaltou que os trabalhadores das áreas de transporte e saúde teriam se negado a cruzar os braços.

Confrontos Independentemente da guerra de informação, dezenas de milhares de pessoas foram às ruas da capital, Santiago, no segundo e último dia de greve geral. Durante a madrugada de quinta-feira, houve confrontos violentos. Cerca de 40 policiais ficaram feridos e 108 manifestantes foram detidos. Na véspera, a polícia tinha feito 348 detenções. A CUT declarou que os detidos não participavam da manifestação, e seriam setores ultrarradicais que usavam máscaras e capuzes para promover desordem, saques e vandalismo, ações rejeitadas pelo comando da mobilização.

Segundo dados da polícia, cerca de 80 mil pessoas participaram das quatro grandes marchas realizadas nas ruas do centro de Santiago, e mais 100 mil nas manifestações realizadas em outras cidades. De acordo com a imprensa chilena, a caminhada na capital ocorreu de forma pacífica, embora com momentos de tensão. Manifestantes fizeram uma barreira humana para impedir que os encapuzados ¿ a quem denunciaram como estranhos à mobilização ¿ atirassem pedras e paus contra a tropa de choque. As forças de segurança agradeceram por alto-falante a inusitada proteção, e dissiparam os mascarados sem impedir a marcha.