Aécio: PSDB vai convocar ‘ indignados’ para protesto

 

Em meio ao recesso parlamentar, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves ( MG), reapareceu ontem em Brasília para anunciar que o partido mergulhará de cabeça nas manifestações contra o governo marcadas para 16 de agosto. É a primeira vez, desde que se iniciaram os protestos de rua contra o novo mandato da presidente Dilma Rousseff, que o partido apoiará oficialmente o movimento.

ANDRÉ COELHO/ 02- 07- 2015Manifestação. Aécio, presidente do PSDB: “Se decidir, vou como cidadão”

Aécio informou que, na próxima semana, o PSDB usará suas inserções no rádio e na TV para estimular “os cidadãos indignados” com a grave crise política e econômica a irem às ruas.

Nas duas grandes manifestações deste ano, Aécio só manifestou apoio em entrevista e pela internet, mas não usou espaço oficial do partido para convocar a militância, tampouco foi às ruas. Aécio disse que, desta vez, poderá participar como cidadão — em duas outras manifestações, ele chegou a cogitar fazer o mesmo, mas desistiu.

As inserções também serão usadas para mostrar a unidade do partido, com falas do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do ex- presidente Fernando Henrique Cardoso, do senador José Serra ( SP) e outras estrelas tucanas.

— O PSDB não vai ser o protagonista dessa manifestação do dia 16, mas vai participar como um segmento da sociedade. Nas inserções vamos dizer que os que estiverem indignados ou arrependidos com o voto do passado, aos que cansaram da mentira e da incompetência que nos trouxeram para o isolamento no qual nos encontramos, que devem participar da marcha do dia 16. Vamos estimular a participação dos nossos companheiros. Se decidir, vou como cidadão — disse Aécio.

LIDERANÇAS MAIS PRÓXIMAS

Repetindo que defenderá sempre saídas dentro da ordem democrática, Aécio disse que, nas primeiras manifestações, houve uma resistência a participação de políticos. Porém, em sua avaliação a situação evoluiu desde então. Ele está se aproximando dos líderes dos movimentos que preparam a nova marcha.

— Há movimentos distintos. Uns pedem impeachment, outros até intervenção militar. Nosso apoio à marcha e aos movimentos busca uma saída dentro da ordem democrática. Tenho conversado com os líderes dos movimentos. Se desconsideramos que existe essa realidade da indignação da sociedade, vamos ficar à margem. As cobranças são enormes — disse o tucano.

Segundo Aécio, o PT e o governo erram o alvo ao culpar a oposição por um eventual impeachment da presidente.

— O que queremos é que as instituições funcionem e façam o seu trabalho. Digo uma coisa: se um dia eu tiver a oportunidade de ser presidente da República, será unicamente pelo caminho do voto, não por outra saída qualquer. Mesmo porque ninguém conseguirá enfrentar a profunda crise que atravessamos, se não for legitimado pelo voto. Para nós, o calendário de 2018 sempre foi o mais adequado, mas a presidente Dilma só agrava a situação a cada dia, o que deixa a incerteza de cumprir seu mandato até o final — disse.

O tucano criticou a forma como o advogado- geral da União, Luís Inácio Adams, a presidente e seus ministros conduzem o processo das contas do governo, que serão julgadas pelo Tribunal de Contas da União ( TCU). Ele chamou de patética a entrevista de Adams, em que o advogadogeral disse que o julgamento precisa ser técnico. Para o tucano, “por debaixo dos panos”, os ministros do TCU estão sendo constrangidos para agir politicamente e impedir a reprovação das contas. Os governadores, segundo Aécio, também estão sendo alvo desse constrangimento, ao serem convocados esta semana para uma reunião com a presidente.

— O constrangimento chega ao inimaginável de ameaças veladas e de trazer a Brasília os governadores para dar apoio a presidente Dilma para tirar uma fotografia e simular apoio por uma coisa com a qual não têm nada a ver. Essa reunião é uma busca de socorro de alguém que quer que lhe joguem uma boia salva- vidas. O que a presidente tem é de fazer um mea- culpa para ver se recupera um pouco da credibilidade que ainda lhe resta — criticou.

Sobre os recados dados pelo Planalto, em busca de um pacto pela governabilidade com as oposições, Aécio disse que Fernando Henrique deu o tom certo: não se dá socorro para salvar o que não deve ser salvo. Aécio ironizou e disse que o PT trava uma disputa desleal com o PSDB, porque faz mais oposição ao governo Dilma do que todos os partidos de oposição juntos:

— Fernando Henrique deu o tom certo: quem pariu Mateus que o embale. Não nos culpem. A instabilidade que atravessam é obra desse governo. Isso não é mais um governo. É um arremedo de governo e o desfecho da presidente Dilma é responsabilidade exclusiva dela, não das oposições — disse Aécio, completando:

— Não se conversa com quem não se confia. E nós não confiamos no PT.

 

ALCKMIN DE OLHO EM 2018

 

Com pretensões de disputar a Presidência da República em 2018, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin ( PSDB), planeja viajar mais pelo país para se reapresentar à população e a políticos de outros estados quase dez anos depois de ter disputado a eleição presidencial de 2006. Ele foi derrotado pelo ex- presidente Lula. Amanhã será a segunda viagem de Alckmin desde que desencadeou um plano para se fortalecer no cenário político nacional e enfrentar uma eventual disputa interna com o senador Aécio Neves ( PSDB) pela candidatura. Alckmin visitará uma feira de agronegócio em Campo Grande ( MS), a Expocorte. Em maio, ele esteve no maior evento de pecuária do país, a Expozebu, em Minas Gerais.

Uma equipe formada para cuidar do projeto político nacional do governador tem considerado convites de entidades setoriais uma oportunidade para Alckmin percorrer estados. Viagens a Brasília também se tornaram frequentes. O tucano já foi à capital federal este ano nove vezes, mais do que as sete do ano passado.

Alckmin também organiza a agenda em São Paulo sob a ótica nacional. Ontem, recebeu o presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ).