Título: A faxina e a corrupção
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Fonte: Correio Braziliense, 26/08/2011, Opinião, p. 12

A pontada em ranking da revista Forbes como a terceira mulher mais poderosa do mundo, atrás apenas da chanceler alemã, Angela Merkel, e da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, a presidente Dilma não aceita o rótulo de faxineira da corrupção. Diz que passar a vassoura nos malfeitos são "ossos do ofício". E que a verdadeira faxina à qual se dispõe é varrer a miséria do país.

Tem razão a presidente quando destaca que a limpeza ética deveria ser obrigação de qualquer governante. Mas também é fato: a ladroagem de dinheiro público chegou a tal ponto que, se o combate à corrupção fosse transformado em meta de governo, certamente faltariam celas para tantos larápios e sobrariam recursos para educação, saúde, segurança, transportes e, claro, políticas mais efetivas de distribuição de renda e erradicação da miséria.

Em três meses, Dilma surpreendeu os aliados ao mandar para a rua quatro ministros. Três envolvidos em denúncias de supostas irregularidades. O outro, por revelar que votou em adversário da presidente nas eleições de 2010 e por insistir em falar coisas que ela não gostou de ouvir. As demissões contrariaram interesses no PT, PMDB, PR... E parte da base aliada no Congresso passou a chantagear o Planalto.

No parlamento, o senador Pedro Simon tenta encampar uma frente suprapartidária para dar suporte às ações de Dilma contra a corrupção. Aqui e ali, na sociedade, surgem focos de apoio ao movimento. Mas ainda é pouco. Vai crescer ao ponto de constranger os Três Poderes a levar adiante essa luta? O tempo dirá.

Enquanto esse tempo não vem, os esquemas de desvio de dinheiro concorrem para ver quem rouba mais o que pagamos de imposto. Investigação da CGU, por exemplo, mostra que, entre 2008 e 2009, o Instituto Educar e Crescer (IEC) recebeu R$ 8,8 milhões do Ministério do Turismo para promover eventos como micareta, rodeio e festivais de música em Goiás e no DF. Desse total, o IEC só comprovou a aplicação de R$ 258 mil. Apesar de nenhum centavo ter voltado aos cofres do governo, até agora ninguém foi punido. Pelo visto, somos mesmo reféns dos corruptos.