Dia do pediatra

27/07/2015

 

DIOCLÉCIO CAMPOS JÚNIOR 
Médico, professor emérito da UnB, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria

EDUARDO DA SILVA VAZ
Médico, pediatra, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria

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A pediatria nasceu em 1722, na Suíça. Brotou da aguçada percepção do médico Theodore Zwinger, professor da Faculdade de Medicina de Basileia. Ele notou que os sinais e sintomas de uma mesma doença que acomete tanto a criança como o adulto são diferentes na forma e no conteúdo. Criança não é, pois, miniatura do adulto, é um ser em formação. O mestre foi bem criativo, inclusive no título da obra que publicou, Paedoiatreia — as doenças na infância. Daí a palavra “Pediatria”.

Surgiu assim um novo domínio de conhecimento médico, que passou a despertar crescente atração vocacional nos jovens que optam pela medicina como profissão. O resultado é visível no Brasil. A despeito do pouco valor que o SUS atribui à saúde da criança e do adolescente, a pediatria ocupa o primeiro lugar no ranking das especialidades médicas. São cerca de 40 mil profissionais. A medicina faz a sua parte, os governos, não.

O Dia do Pediatra é celebrado em 27 de julho. Nessa data, em 1910, foi criada a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Seus objetivos maiores e indissociáveis têm sido a saúde na infância e na adolescência, e a devida valorização do pediatra como especialista diferenciado para cuidar desse grupo etário. Trata-se de uma entidade da sociedade civil que ganha crescente respeitabilidade nas diversas camadas da população, tanto pelas posturas que assume quanto pelas ações que desenvolve. Conta com mais de 22 mil pediatras associados, prova cabal da credibilidade alcançada.

A construtiva representatividade de seus dirigentes se revigora no trabalho participativo das entidades filiadas de cada estado da Federação e do DF. A SBP é a segunda maior sociedade de pediatria do mundo. Com sede no Rio de Janeiro, descentraliza iniciativas, realizando relevante papel para a construção da cidadania. Graças ao apoio dos sócios, conseguiu uma independência orçamentária que lhe confere a indispensável autonomia.

Conquistas da entidade pediátrica nacional enaltecem sucessivas gerações de médicos que deram tudo de si para o bem da criança e do adolescente. Algumas mais recentes são bem marcantes: 1— A participação no Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde contribuiu para o legado das campanhas de vacinação que erradicaram doenças como a poliomielite e sarampo; 2 — O Programa de Reanimação Neonatal, destinado a capacitar o profissional que assiste o recém-nascido na sala de parto, já qualificou mais de 40 mil médicos e 20 mil enfermeiros, em colaboração com o 
Ministério da Saúde; 3 — A Lei Empresa-cidadã, que aumenta a licença-maternidade para seis meses, elaborada e liderada em parceria com a ex-senadora Patrícia Saboya, é outro grande avanço; 4 — A consulta diferenciada de puericultura, defendida pela pediatria brasileira, foi incluída no rol da ANS. Delineia-se, no universo dos planos de saúde, a assistência de qualidade ao ser humano em crescimento e desenvolvimento. As operadoras passam a incorporar a lógica da prevenção, que é a essência da especialidade pediátrica.

Outras conquistas merecem destaque, como o lançamento do Tratado Brasileiro de Pediatria, um livro abrangente e qualificado, escrito por mais de 500 autores nacionais, que revela a dimensão da especialidade no país. Já entrando na quarta edição, constitui sólida referência para a atualização científica. No âmbito internacional, ressalte-se que a SBP integra o Global PediatricEducation Consortium (GPEC), instância composta por entidades representantes de 55 países, e o Fórum das Sociedades de Pediatria do Cone Sul (Fospecs), liderando iniciativas de qualificada educação pediátrica para o Brasil e demais países do Cone Sul. E, no que se refere à qualificação profissional, destaca-se que o Programa Nacional de Residência Médica em Pediatria, com duração de três anos, proposto pela SBP e fundamentado no Currículo Pediátrico Global, foi aprovado pelo MEC. A implantação do programa evolui solidamente, representando um grande salto de qualidade na formação de um pediatra com perfil adequado à sociedade do século 21.

Tudo isso se deve ao elevado grau de consciência da comunidade pediátrica nacional. Ela não considera a SBP como entidade corporativa ou sindical, nem como espaço político-partidário ou movido por interesses pessoais. Sempre prevaleceu o compromisso de seus membros com os objetivos maiores, por meio dos quais se identificam pela coerência e lealdade. Assim, o firme percurso na rota de progressos em favor da causa da infância e da adolescência, e da correspondente valorização do pediatra, projeta-se cada vez mais no respeitável cenário da pediatria brasileira. Um grandioso exemplo a ser comemorado. É o Dia do Pediatra!