28/07/2015
Simone Kafruni
Maior produtora mundial de minério de ferro, pelotas e níquel, a Vale atravessa um período de grande turbulência. Com a queda no preço das commodities e a desaceleração econômica da China, principal comprador global de metais, a indústria da mineração está diante de um cenário desolador, que impõe grandes desafios à empresa brasileira. Desde 2011, os preços do minério de ferro caíram cerca de 67%, o que derrubou a rentabilidade da companhia. De um lucro líquido de R$ 9,8 bilhões em 2012, passou a um prejuízo de R$ 9,5 bilhões apenas no primeiro trimestre de 2015. De novembro de 2013 até a semana passada, o valor de mercado da mineradora despencou 57%.
Sem qualquer chance de uma reação dos preços das commodities no curto prazo, a companhia precisou adotar uma série de medidas para melhorar sua competitividade e assegurar a liderança internacional. Em 2014, a participação da Vale foi estimada em 20,4% do volume total negociado no mercado transoceânico de minério de ferro. A empresa busca aumentar a capacidade de produção, com ganhos na redução de custos e despesas e maximização de margens. Um dos trunfos é a substituição de volumes de produção de minério de alto custo e baixa qualidade pela oferta de produtos de menor custo e teores maiores de ferro.
O momento é extremamente ingrato para a Vale, com curtíssimo prazo suscetível à volatilidade da economia chinesa, destaca Renato Nobile, presidente do Bullmark Financial Group. De crescimentos acima de 10%, a economica da China passou a evoluir na ordem de 6%. Além disso, a China mudou o foco e se voltou para o mercado interno, reduzindo a demanda por commodities. A despeito de repiques pontuais, o momento da China pode levar o minério dos US$ 50 a tonelada atuais para US$ 40 a tonelada até o fim do ano, estima Nobile. A tonelada já custou mais de US$ 100.
O diretor-executivo de Ferrosos da Vale, Peter Poppinga, acredita que haverá uma recuperação. Encolher é uma solução em momentos como este. Vender negócios periféricos para fazer caixa, fechar escritórios no exterior ou ganhar em produtividade são medidas fundamentais para enfrentar momentos de crise, recomenda Miguel Neto, especialista em negócios do escritório Miguel Neto Advogados. Mas encolher também significa demitir em massa. De maio de 2014 a abril de 2015, o setor demitiu quase 10 mil pessoas a mais do que contratou, o maior número desde 2004. A cidade de Itabira, em Minas Gerais, onde a Vale tem projetos, teme virar uma cidade fantasma com as demissões.
Controle
Desde 2011, a Vale está focada em reduzir sua exposição a ativos considerados não essenciais. Em 2012, se desfez de concessões de petróleo e gás e vendeu 25% do fluxo de ouro da mina Salobo, em operações que garantiram R$ 1,5 bilhão ao caixa . No ano seguinte, os desinvestimentos chegaram a R$ 6 bilhões. Este ano, vendeu sua parte na usina Belo Monte.
Em 2015, com desinvestimentos e parcerias, a Vale espera levantar entre US$ 6 bilhões e US$ 7 bilhões em caixa, afirma a companhia. Além do foco na atividade fim, o que tem garantido estabilidade à empresa, em meio ao turbulento cenário para a indústria da mineração, é o programa de controle e redução de custos e despesas operacionais.
Em relação às despesas, a Vale fez um corte de 50% em três anos. Embora a redução nas despesas seja significativa, a empresa vê espaço para uma evolução mais favorável em custos nos próximos trimestres, garante a Vale. O resultado financeiro do segundo trimestre será divulgado dia 30.
O projeto de investimentos da companhia se tornou mais enxuto desde 2011, com reduções anuais de aportes, de US$ 14 bilhões em 2012 a US$ 4 bilhões em 2018. Mas projetos grandiosos foram mantidos. Estimado em US$ 5,5 bilhões, Itabiritos vai viabilizar o beneficiamento de minério de baixo teor e aumentar a produção em 65 milhões de toneladas por ano. Itabiritos é muito importante para a Vale no atual cenário, em que a qualidade do produto e o aumento da produtividade são fundamentais, explica o diretor de Projetos de Ferrosos Sudeste, Carlos Miana.
Em produção, a Vale continua crescendo, o que pressiona ainda mais os preços para baixo. Na semana passada, a companhia anunciou que a produção de minério no primeiro semestre alcançou um novo recorde de 159,8 milhões de toneladas, 9,3 milhões acima do mesmo período de 2014. Isso significa que ela pode superar a meta de 340 milhões de toneladas. Já conseguiu quase a metade e o segundo semestre tende a ser melhor, projeta a analista da Concórdia Corretora Daniela Martins.
Dever de casa
Para a analista, a Vale está fazendo a lição de casa, mas o mercado está de olho, principalmente, nos desinvestimentos. Não deve ocorrer melhora no cenário e as ações vão cair mais. Mas a empresa mostrou que consegue ter rentabilidade e os papéis voltarão a subir. No longo prazo, é um bom investimento, sobretudo porque os planejamentos da empresa visam 2018.