Título: Última chance para uma vaga
Autor: D"angelo, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 26/08/2011, Economia, p. 8

Taxa de desemprego chega a 6% em julho, menor patamar mensal desde 2002. Desaquecimento da economia deve interromper redução

Um dos últimos indicadores a reagir ao bom desempenho da economia, mantido até o primeiro trimestre do ano, o desemprego no Brasil chegou em julho ao seu nível mais baixo para o mês desde 2002. A taxa caiu para 6%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), menor patamar desde dezembro passado. O desaquecimento da economia e da atividade industrial, no entanto, deve mudar essa realidade e interromper a tendência de queda, tradicional no segundo semestre.

Embora menor que o verificado em junho, de 6,2%, o desemprego em julho é considerado estável, segundo o IBGE. "A desocupação só vai ceder em ritmo forte quando gerar postos de forma significativa e parece que o mercado não está aquecido o suficiente para isso", afirmou o coordenador do IBGE e da Pesquisa Mensal de Emprego, Cimar Azeredo. De acordo com ele, a indústria ainda não acelerou a produção para atender à maior demanda do fim do ano. Os empregos no país estão sendo mantidos graças aos setores de serviços, que continuam contratando. Os demais ficaram estáveis no mês passado. "A taxa de desocupação pode continuar caindo, mas vai ser num ritmo bem mais lento", afirmou Azeredo.

Cenário Na comparação com o ano passado, o cenário ainda é positivo. As contratações com carteira assinada cresceram 1,2% em julho. O rendimento médio dos trabalhadores atingiu R$ 1.612,90, alta de 4,4% frente ao mesmo mês do ano passado e de 2,2% ante junho. O maior aumento foi constatado entre empregados do comércio em geral, incluindo os de oficinas mecânicas e postos de gasolina. A massa salarial total ficou 2,7% acima da registrada em junho e 6% mais sobre julho de 2010.

Para o economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo, professor da PUC/Rio, não vai haver tempo para a desaceleração da atividade compensar o efeito do segundo semestre, quando as vendas no comércio tendem a aumentar até o Natal. "O emprego na indústria está reduzindo, mas os setores de serviços e do comércio estão crescendo em um ritmo forte, mais que compensando a desaceleração da indústria", afirmou.

Qualificação A equipe de economistas do banco Credit Suisse destaca que o desemprego de julho, que ficou abaixo da expectativa do mercado (que esperava os mesmos 6,2% de junho) se deveu à menor expansão da População Economicamente Ativa (PEA) ¿ parcela de trabalhadores que está à procura de uma colocação. Essa fatia cresceu apenas 1,1%.

Com isso, as vagas geradas pelo comércio e setor de serviços, ainda que em menor quantidade que no ano passado, foram suficientes para manter a taxa de desocupados estável. Os analistas do banco acreditam que, embora o cenário de crescimento, da atividade e do emprego sejam bem mais desfavoráveis que no início do ano, a taxa de desemprego não se elevará expressivamente nos próximos trimestres.

A auxiliar de limpeza Eliandia Ferreira da Conceição, 38 anos, é uma das trabalhadoras que foi beneficiada com o que pode ser o melhor momento do emprego. Contratada há um mês, ela comemora. "Eu tinha uma videolocadora, mas com a pirataria, faliu. Fiquei desesperada, mas não tive dificuldades em encontrar trabalho, principalmente nessa área. Quando decidi buscar, em cerca de dois meses estava na vaga", contou.

Já a vendedora Josi Karla de Araújo, 26 anos, demorou um pouco mais para se recolocar no mercado de trabalho. "Sempre trabalhei em loja e demorei seis meses para encontrar um novo emprego quando deixei o último trabalho", lamentou. Há também um mês, a jovem teve a carteira assinada. Para ela, os índices baixos de desemprego não são sinal de facilidade para ser admitida. "Existem muitas vagas, mas falta qualificação profissional. As empresas não contratam quem não tem formação e experiência", destacou Josi.