Valor econômico, v. 16, n. 3795, 10/07/2015. Política, p. A5

 

Dilma reage e acusa Aécio de 'golpista'

 

Por Assis Moreira e Raquel Ulhôa | De Ufá (Rússia) e Brasília

 

A presidente Dilma Rousseff partiu para o ataque ao reagir ontem à afirmação do presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves (MG), de que ela e alguns petistas têm estratégia para "constranger" a ação das instituições e da imprensa com as acusações de golpismo, em referência às denúncias que estão sendo apuradas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e as investigações em curso pela Polícia Federal e o Ministério Público.

Em resposta, Aécio desafiou Dilma a demonstrar que ele deu "qualquer declaração de desrespeito à Constituição e à soberania das instituições". Candidato à Presidência derrotado em 2014, Aécio subiu à tribuna do Senado para rebater, mais uma vez, que a oposição tenha feito prejulgamento e seja "golpista", por avaliar as possibilidades de afastamento de Dilma do cargo - como impeachment ou cassação pela Justiça Eleitoral.

A presidente, em entrevista em Ufá, na Rússia, onde participa da cúpula do Brics, disse que "ao contrário, quem coloca como já tendo tido uma decisão está cometendo um desserviço para a instituição, para o TCU e para o TSE".

A presidente declarou que "não há nenhuma garantia para que qualquer senador da República, muito menos o senhor Aécio Neves, possa prejulgar quem quer que seja, possa definir o que uma instituição vai fazer ou não". Acrescentou que "respeitar a institucionalidade começa por respeitar as instituições, por respeitar suas decisões e o seu caráter autônomo, soberano e independente".

Dilma disse também que não fica discutindo quem é e quem não é golpista. "Quem é golpista mostra na prática as suas tentativas, que começam por isso: prejulgar uma instituição. Não há dentro nem do TCU, nem do TSE, a possibilidade de dizer qual será a decisão. Até porque o futuro é algo que ninguém controla. Nem eu, nem ninguém", afirmou.

Ela insistiu que o TCU ainda não deu um parecer definitivo sobre suas contas. "Eles abriram a possibilidade de nós nos explicarmos, e nós vamos nos explicar bem explicado. A mesma coisa o TSE. Eu não passei por cima de nenhuma instituição. Nenhuma instituição se pronunciou. Nesse sentido é estranho que prejulguem. Estranho que se trate como se tivesse havido uma decisão, quando não houve decisão alguma".

Perguntada se vai vetar o reajuste dos aposentados, Dilma disse que ainda não avaliou "completamente" a questão.

Em Brasília, Aécio disse que "não somos nós, da oposição, que vamos decidir o que vai acontecer com o futuro da presidente. Depende mais dela e do povo brasileiro. O que nós, da oposição, não vamos permitir é que as instituições sejam, de alguma forma, constrangidas pelo seu governo."

O senador considerou "fora de sentido" as declarações dadas pela presidente em entrevista na Rússia, chamando-o de "golpista".

Aécio disse que a presidente "errou, fracassou e falhou" na condução da economia e citou o aumento do desemprego e os altos índices de inflação. Afirmou que a oposição não faz pré-julgamentos, "mas ninguém no país, inclusive a senhora presidente da República, está acima das instituições". Disse, ainda, que, "apesar do desastre que tem sido o governo", a oposição cumprirá o papel de lutar para que o Brasil "possa encontrar a reconciliação".

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também se manifestou sobre a tentativa da oposição de depor Dilma e, em texto publicado no Facebook, afirmou que o "tempo do golpismo passou para nunca mais".

"Hoje, vivemos o período de maior solidez da nossa democracia desde a proclamação da República. O acúmulo das lutas do povo brasileiro forjaram as bases de um país mais rico, menos desigual e consciente de seu potencial. Por isso, não há espaço para retrocesso: o tempo do golpismo passou para nunca mais", disse.

Lula divulgou ainda um manifesto de movimentos sociais e sindicais "contra o golpismo", assinado por entidades como a CUT e o MST. "Não aceitaremos a quebra da legalidade democrática, sob que pretexto for", afirmam os grupos populares no texto. (Colaborou Cristiane Agostine, de São Paulo)