Com dólar pressionando inflação, juros podem subir com mais força

 

A taxa básica de juros ( Selic) deve subir mais 0,5 ponto percentual, passando dos atuais 13,75% para 14,25% ao ano, na reunião do Comitê de Política Monetária ( Copom), do Banco Central, que termina amanhã. Trata- se de um consenso de economistas ouvidos pelo GLOBO. Mesmo com a economia em recessão, o que, em tese, poderia levar o BC a reduzir um pouco o aperto nos juros, especialistas avaliam que a Selic deve subir tanto agora como na reunião de setembro, devido ao efeito que a alta do dólar deve ter sobre a inflação.

— Acreditamos que a Selic vai, agora, a 14,25% e esperávamos em setembro mais uma alta de 0,25 ponto percentual. Mas, em meio ao atual cenário político- econômico, acreditamos que o BC poderá ser até mais firme em setembro — disse Cláudio Frischtak, presidente da consultoria Inter B.

Se a alta for de 0,25 ponto em setembro, a Selic terminará o ano em 14,50%. Na ponta mais pessimista, poderia chegar a 14,75%. Ou seja, o Brasil deve permanecer com o maior juro real do mundo.

META CADA VEZ MAIS DISTANTE

Os economistas alertam que a escalada do dólar é mais um ponto de pressão sobre a inflação. Ontem, a divisa bateu em R$ 3,36 no câmbio comercial, refletindo incertezas no mercado internacional e a redução da meta de superávit primário no Brasil. E, para os analistas, uma Selic entre 14% e 14,25% não terá força para trazer a inflação para o centro da meta ( 4,25%) em 2016, como deseja o BC.

Para Frischtak, com a redução drástica do superávit primário, a política monetária terá de compensar a política fiscal para deter a inflação, já que os gastos do governo continuam aumentando:

— Para amenizar a alta da moeda americana, o BC poderia rolar uma quantidade maior de contratos de

swap cambial que vencem em agosto.

O swap cambial é uma operação que equivale à venda de dólares no mercado futuro. O mercado estima que o BC role apenas 53% dos papéis vencendo.

O economista- chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, também aposta em uma alta de 0,5 ponto percentual da Selic agora e outra de 0,25 ponto em setembro:

— Com uma Selic a 14% agora, dificilmente o BC conseguirá trazer a meta de inflação para o centro.

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central ( IBCBr), espécie de sinalizador do PIB, mostrou que a economia do país iniciou o segundo trimestre com uma contração pior do que a estimada, com recuo de 0,84%, em abril sobre março.

Em relatório, a consultoria Tendências também sustenta sua expectativa de mais duas elevações na Selic no atual ciclo de aperto monetário: de 0,5 ponto e, na sequência, de 0,25.

“Embora a rápida deterioração das condições econômicas, especialmente do ponto de vista da atividade e confiança, aponte para uma ação menos agressiva do Banco Central, o fato de a instituição insistir no objetivo de recolocar a inflação no centro da meta, no próximo ano, sugere que o ritmo de aperto deve ser mantido por ora”, diz o texto.

Para o economistachefe do banco Santander, Maurício Molan, o BC deve manter o discurso mais austero para o controle da inflação, pois ainda não há fatores que sinalizem uma queda do índice a curto prazo.

— Mantemos nossa expectativa de alta de 0,5 ponto percentual nessa reunião. Mas, a partir de setembro, acreditamos que o BC já verá variáveis mais positivas para subir somente 0,25 ponto percentual e parar de elevar a Selic — disse Molan.

Para ele, o dólar ainda continuará pressionando a inflação, mas entrará na conta outra variável: a dívida pública.

— Com o risco de o Brasil perder o grau de investimento depois da redução da meta de superávit primário, a Selic alta vai impactar tanto o juro da dívida como o crescimento do país. É provável, então, que o BC não se mantenha tão agressivo com os juros, ao ponto de elevar muito a dívida pública. O governo deverá tolerar a convergência da inflação mais lenta do que pretendia, para estimular o crescimento econômico — disse Molan.

Flávio Serrano, economista sênior do BES Investimento, também espera aumento de 0,5 ponto esta semana:

— Estimamos que na próxima reunião, em setembro, a alta deverá ser de 0,25 ponto percentual. O discurso do BC é, até então, idêntico e sucinto, mas o espaço para novos aumentos está diminuindo.

ESTABILIDADE: UMA ÚNICA APOSTA

Luciano Rostagno, estrategista chefe do Mizuho Bank, disse que o BC deu sinais bem claros de manutenção do ritmo de alta da Selic para controlar a inflação. Ele também prevê aumento de 0,5 neste mês e de 0,25 em setembro.

— Desde a última reunião, nos dias 2 e 3 de junho, o dólar vem subindo bastante. Para se ter uma ideia, a moeda americana era cotada a R$ 3,13 no início de junho e, agora, chegou ao patamar de R$ 3,36. O BC provavelmente vai continuar com uma postura mais vigilante — afirmou Rostagno.

Já a economista do banco ABC Brasil, Natália Cotarelli, acredita que o Copom aumentará em 0,5 a Selic nessa reunião, mas, em setembro, deverá votar pela estabilidade da taxa. Segundo ela, a busca pela retomada do crescimento econômico deverá ser a variável mais considerada nas próximas reuniões do Comitê:

— O quadro econômico está desafiador, por isso, acreditamos em estabilidade da Selic a partir de setembro.

 

Balança registra superávit de US$ 1,8 bi no mês

 

A uma semana do fechamento do mês, a balança comercial já registra superávit de US$ 1,861 bilhão em julho. Nas quatro primeiras semanas, as exportações somaram US$ 14,651 bilhões, e as importações, US$ 12,790 bilhões, segundo dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

No ano, há um saldo positivo acumulado de US$ 4,082 bilhões, resultado de US$ 108,980 bilhões em exportações e US$ 104,898 bilhões em importações. No mesmo período de 2014, havia um déficit de US$ 857 milhões.

A média diária exportada este mês foi de US$ 813,0 milhões, 18,7% menor que em julho de 2014. As quedas mais significativas ocorreram nos embarques de petróleo, minério de ferro, carne bovina, óleos combustíveis e motores para veículos.

Já a média diária importada, de US$ 710,6 milhões, ficou 23,8% abaixo da média de julho de 2014, com a queda de gastos, principalmente, com combustíveis e lubrificantes, plásticos e obras, automóveis e partes, aparelhos eletroeletrônicos e equipamentos mecânicos.