CPI mira o presidente do TCU

30/07/2015

João Valadares

 

Aroldo Cedraz está na mira da oposição desde maio na CPI da Petrobras (Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press - 19/3/15)

Aroldo Cedraz está na mira da oposição desde maio na CPI da Petrobras



Mesmo em recesso branco, integrantes da CPI da Petrobras se mobilizam nos bastidores para convocar o presidente do Tribunal de Contas da União, Aroldo Cedraz. O requerimento, de autoria do deputado Izalci Lucas (PSDB-DF), foi encaminhado ao colegiado em maio. Só agora, após novas revelações a partir da delação premiada do dono da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, deve ser votado. A previsão é que seja no início de agosto. 
Estamos trabalhando para o requerimento ser votado. Deve ser votado logo na volta do recesso. Ainda mais agora, que novas denúncias surgiram. Quando apresentei, ainda não tínhamos o conhecimento das delações premiadas, explicou o parlamentar. 
O filho do presidente de Aroldo Cedraz, o advogado Tiago Cedraz, teve o nome mencionado por delatores a partir da atuação do cartel na construção da usina de Angra 3, no Rio de Janeiro. Ricardo Pessoa contou ao Ministério Público Federal (MPF) que fazia repasses ao advogado para obter informações privilegiadas e vantagens no TCU. O advogado receberia, de acordo com Pessoa, R$ 50 mil por mês. 
A licitação do empreendimento chegou a ser suspensa temporariamente pelo tribunal ainda na fase de pré-qualificação. O relator do caso e atual corregedor da Corte, ministro Raimundo Carreiro, proferiu a decisão. No entanto, no julgamento do mérito, ele liberou a continuidade do empreendimento. Tanto Cedraz quanto Carreiro negam qualquer irregularidade. 
O deputado Izalci afirmou que o novo contexto político brasileiro, a partir do rompimento oficial do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, com o governo Dilma Rousseff, deve facilitar a aprovação de requerimentos de convocação de várias pessoas que podem causar dor de cabeça à presidente. 

Cunha já articula a ida dos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Secretaria de Comunicação), e ainda do ex-ministro José Dirceu. Os três haviam escapado após um acordo entre oposicionistas e governistas, costurado pelo relator do colegiado, deputado Luiz Sérgio (PT-SP). No lugar de aprovarem os requerimentos mais antigos, que tinham Dirceu como principal alvo, acertaram a convocação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. 
Em entrevista coletiva para anunciar o rompimento com o governo, Cunha citou que, no Planalto, há um bando de aloprados, numa referência implícita ao ministro Mercadante. Numa eventual ida à CPI da Petrobras, o petista teria que explicar o repasse de R$ 250 mil feito pela UTC para sua campanha ao governo de São Paulo, em 2010. Em delação premiada, o dono da empreiteira apresentou documentos que comprovam a doação, de acordo com ele, fruto de propina. Em nota oficial, o ministro aponta que o dinheiro é legal e registrado no TSE.
Edinho Silva, que exercia a função de tesoureiro da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, é mencionado pelo dono da UTC, Ricardo Pessoa, por ter o pressionado para que a construtora realizasse doação de R$ 7,5 milhões. O ministro nega as acusações. 
O peemedebista, que também prepara uma pauta-bomba para ser votada após o recesso, atribui ao governo e ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o depoimento bombástico do executivo Júlio Camargo. Cunha foi acusado de receber propina no valor de US$ 5 milhões referentes a contratos de R$ 1,2 bilhão assinados entre a Petrobras e a Toyo Setal. 

Encontro 

Na manhã de ontem, o presidente da CPI, deputado Hugo Motta, se reuniu com o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB). Na saída, o parlamentar não quis revelar o teor da conversa. O governo trabalha para evitar a convocação de Mercadante e Edinho Silva.