FH: ‘Momento não é de aproximação com governo’

 

Em mensagem postada ontem no Facebook, o expresidente Fernando Henrique Cardoso descartou conversa que não seja pública com o governo federal. Segundo ele, qualquer encontro reservado neste momento “pareceria conchavo”.

Na quinta-feira, o jornal “Folha de S.Paulo” publicou a informação de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a amigos em comum que marcassem um encontro dele com Fernando Henrique, com o objetivo de reaproximar o governo da oposição num momento de grande crise política. Mas a tentativa de aproximação foi criticada por líderes políticos do PSDB, partido de Fernando Henrique.

“O momento não é para a busca de aproximações com o governo, mas sim com o povo. Qualquer conversa não pública com o governo pareceria conchavo na tentativa de salvar o que não deve ser salvo”, afirmou o ex-presidente no Facebook.

Fernando Henrique já havia se valido da mesma frase em março, quando foi divulgado que ele aceitaria se encontrar com a presidente Dilma Rousseff para buscar saídas para a crise e firmar um pacto de governabilidade.

O objetivo de Lula ao tentar se reaproximar de Fernando Henrique seria pedir ao seu antecessor que barrasse qualquer movimento do PSDB pelo impeachment de Dilma.

Na semana passada, o Instituto Lula negou a intenção do expresidente petista de conversar com Fernando Henrique. Já o tucano, que está de férias na Europa, disse que aceitaria discutir temas como a reforma política, desde que houvesse uma agenda clara e de conhecimento público. Os dois não chegaram a marcar o encontro.

Depois da divulgação da movimentação de Lula, auxiliares de Dilma disseram que ela também teria interesse em se encontrar com Fernando Henrique. No PSDB, a suposta tentativa de reaproximação provocou reações duras. Os tucanos dizem que não há como o encontro ocorrer no momento em que a legenda adversária é colocada no centro do esquema de corrupção na Petrobras.

Fernando Henrique já declarou publicamente ser contra o impeachment. Apesar de pressionado por grupos que lideraram manifestações de rua contra o governo, o PSDB não tomou uma posição oficial em favor da abertura de um processo para que Dilma seja obrigada a deixar o cargo.

Em paralelo, a presidente Dilma gravou ontem um depoimento para ser apresentado na TV durante o programa político do PT, previsto para 6 de agosto, com uma mensagem otimista sobre situação do país. Em seu depoimento, Dilma afirma, segundo petistas, que o Brasil vai superar as dificuldades e voltará a crescer.

Em março, a presidente foi alvo de um panelaço, ao usar o pronunciamento pelo Dia Internacional da Mulher para pedir “paciência e compreensão” da população diante da crise.

 

Planalto tenta melhorar sua relação com Renan

 

Depois que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rompeu com o governo, o Palácio do Planalto aposta na reaproximação com o presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB-AL), para tentar equilibrar a correlação de forças no Congresso.

Na Câmara, o governo busca reconstruir a relação com antigos aliados, que romperam na campanha de 2014, como o PSB, e apela para a oposição “responsável”, pedindo que ela se afaste de Cunha, após a acusação de cobrança de propina em contratos da Petrobras. Quanto aos partidos da base aliada, o Planalto tenta trazer para a linha de frente deputados que não tenham alinhamento automático com o presidente da Câmara.

No Planalto, a avaliação é que Renan não vai radicalizar como Cunha, apesar de ter se comportado como oposição no primeiro semestre. Para justificar sua mudança de orientação política, o presidente do Senado quer, segundo aliados, que o governo faça acenos de mudanças na economia, com medidas para além do ajuste fiscal. O primeiro passo foi a redução da meta fiscal, anunciada semana passada. Após se reunir com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e senadores do PMDB, o presidente do Senado sinalizou o apoio do partido.

Levy e os senadores combinaram discutir, na próxima semana medidas para reestruturar a economia e dar previsibilidade aos agentes econômicos. Entre as propostas, estão ajustes na legislação das Parcerias Público-Privadas (PPPs) para reduzir o intervencionismo do governo e dar mais garantias aos investidores; ajustar a legislação das concessões, destravando a legislação ambiental; e modernizar os mecanismos de relação com os agentes produtivos.

— O Renan quer ajudar, mas depende mais do governo do que dele. Ele não vai segurar bucha do governo, não vai se sacrificar. Não dá para se suicidar — disse um senador próximo de Renan.