Cardozo sob fogo cruzado

14/07/2015

JOÃO VALADARES
 
A oposição promete ir para cima do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, na CPI da Petrobras, com o objetivo de fragilizar ainda mais a presidente Dilma Rousseff (PT), que enfrenta a mais grave crise política do seu governo. Ele presta depoimento amanhã à tarde. Oficialmente, o petista foi convocado para explicar a instalação, por parte da Polícia Federal, de uma escuta sem autorização da Justiça na cela do doleiro Alberto Youssef, um dos principais operadores do esquema de corrupção na petroleira. No entanto, entre outros temas, os oposicionistas vão questionar Cardozo sobre o encontro fora da agenda presidencial entre ele, a presidente Dilma Rousseff e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski.

A reunião ocorreu na cidade do Porto, em Portugal, na semana passada. Nos bastidores, circulou a informação de que Cardozo teria articulado o encontro para tratar de questões relativas à Operação Lava-Jato, um dos principais combustíveis da crise. Na versão oficial, os três trataram apenas do reajuste do Judiciário. Cardozo informou que se tratou de um encontro casual e que a Lava-Jato não entrou na pauta.

Outro episódio que o ministro terá que explicar ocorreu em fevereiro deste ano. O petista encontrou-se com advogados que defendem as empreiteiras acusadas de envolvimento na Lava-Jato. De acordo com publicações do jornal Folha de S. Paulo e da revista Veja, os defensores das empresas, como UTC e Camargo Corrêa, tentavam uma ajuda do governo para soltar os executivos que foram para a cadeia.

No encontro com Sérgio Renault, advogado da UTC, Cardozo teria dito que os rumos da Operação Lava-Jatomudariam radicalmente. O ministro ainda teria orientado o advogado a não fechar um acordo de delação premiada. Na época, por meio de nota oficial, Cardozo reconheceu a reunião com Renault e negou que eles tinham tratado sobre a operação que apura pagamentos de propina no âmbito da estatal. Na ocasião, o petista comunicou que a conversa foi muito rápida e que, como comandante da pasta, tinha a obrigação de receber advogados.

Outro ponto que os oposicionistas vão utilizar para minar o governo é o conteúdo da delação premiada do dono da UTC, Ricardo Pessoa. Ele afirmou à Justiça Federal e ao Ministério Público Federal que o dinheiro sujo do esquema bilionário de corrupção na petroleira irrigou as campanhas de reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma no ano passado. Em 2006, segundo relato do empreiteiro, a campanha presidencial petista recebeu
R$ 2,4 milhões do esquema que envolvia direcionamento de licitação, pagamento de propina e superfaturamento de obras. Para a campanha de Dilma, o empresário alega que foi repassado R$ 7,5 milhões.

Na CPI, o ministro vai insistir na tese defendida pelo PT e pelo Palácio do Planalto: todos os recursos recebidos pela legenda foram proveniente de doações legais, que contaram com o aval do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O petista também falará sobre as escutas sem autorização da Justiça colocadas na cela de Youssef. Policiais federais relataram ao colegiado, em reunião fechada, que os grampos estavam em pleno funcionamento e foram colocados de maneira ilegal. A Polícia Federal nega e o ministro deve manter a versão da corporação.

Citações
A convocação de Cardozo partiu de uma estratégia para evitar a ida à CPI do petista José Dirceu e dos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Secretaria de Comunicação Social da Presidência), cujos nomes foram citados em delações premiadas da Operação Lava-Jato. Em acordo com a oposição, o relator da CPI da Petrobras, deputado Luiz Sérgio (PT-SP), incluiu o nome de Cardozo no bloco de 73 requerimentos de convocação aprovado na semana passada.

Uma ala do PT mais ligada ao ex-presidente Lula tem se queixado bastante, nos últimos dias, da postura de Cardozo em relação ao que chama de “perda de controle das ações da Polícia Federal”. Nos bastidores, alguns petistas tentam minar o ministro. Mostram insatisfação com os chamados “vazamentos seletivos”. Logo após ser informado da convocação, o ministro afirmou que não teria nenhum problema em comparecer ao Congresso para esclarecer todos os pontos. “Se eu puder colaborar de alguma forma para a elucidação dos fatos, eu o farei. Comparecer ao parlamento é sempre uma honra para mim.”


Os alvos
Confira os principais pontos que serão abordados no Congresso com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

A tática da oposição
1) Pela proximidade do episódio, o ministro terá que explicar o encontro fora da agenda, na cidade do Porto, em Portugal, na semana passada, entre ele, a presidente Dilma Rousseff e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski. A oposição acusa o petista de articular a reunião no exterior para tratar dos desdobramentos da Operação Lava-Jato.

2) Em fevereiro, Cardozo recebeu advogados de empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato. Na época, as informações de bastidor apontavam que os defensores das empresas, a exemplo da UTC e da Camargo Corrêa, tentavam uma ajuda do governo para soltar os executivos que estão presos.

3) Na ocasião, o ministro foi acusado de ter solicitado aos advogados que não fechassem acordos de delação premiada. Cardozo ainda teria dito, conforme reportagens da revista Veja e do jornal Folha de S.Paulo, que os rumos da investigação mudariam radicalmente.

4) O petista também será pressionado para esclarecer as escutas colocadas sem autorização da Justiça na cela do doleiro Alberto Youssef, um dos principais operadores do esquema de corrupção na Petrobras. Um delegado e um agente da Polícia Federal confirmaram à CPI que o grampo estava ativo e era ilegal.

5) A delação do dono da UTC, Ricardo Pessoa, também será utilizada para pressionar o ministro. O empreiteiro informou que para a campanha da reeleição da presidente Dilma, em 2014, foram destinados R$ 7,5 milhões. Em 2006, a campanha do ex-presidente Lula teria recebido R$ 2,4 milhões. O empresário sustenta que os recursos são provenientes do esquema de propina na petroleira.

A estratégia do governo
1) O ministro vai alegar que o encontro entre Lewandowski e Dilma foi casual. Deve explicar que estavam em Coimbra e tinham um almoço na cidade do Porto. Cardozo vai repetir que, na reunião, o tema foi apenas o reajuste do Judiciário e que a Lava-Jato não entrou na pauta.

2) Cardozo repetirá a versão apresentada em nota oficial na época. Vai confirmar a reunião com o advogado Sergio Renault, da UTC, mas negar que eles tinham tratado sobre a operação que investiga irregularidades e pagamento de propina na Petrobras. Dirá que é sua obrigação receber advogados 3) O petista deve negar que tenha orientado os defensores das empreiteiras a não fechar acordos de delação premiada.

4) O ministro deverá informar o que a Polícia Federal já disse oficialmente. Em nota, a corporação negou que tenha feito escutas ilegais. Cardozo repetirá o discurso de que o governo do PT deu autonomia à PF e que aLava-Jato só se tornou possível por este motivo.

5) A estratégia é continuar dizendo que todos os recursos recebidos pela campanha petista foram legais e aprovados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).