Dólar tem a cotação mais alta em 12 anos

25/07/2015 

Rosana Hessel

 

Divisa fechou cotada a R$ 3,47, nível mais elevado desde março de 2003. Bolsa teve a pior semana do ano (Federico Parra/AFP - 19/2/15)

Divisa fechou cotada a R$ 3,47, nível mais elevado desde março de 2003. Bolsa teve a pior semana do ano



O mercado continuou ontem reagindo negativamente á redução da meta de superavit primário do governo. Ontem, o dólar disparou pelo terceiro dia seguido, atingindo o maior patamar em 12 anos diante do real, e a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) voltou a cair, encerrando a pior semana do ano. 

Em reunião com economistas e investidores, em São Paulo, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse que não esperava uma reação do mercado tão intensa como a que houve. Segundo um dos participantes, Barbosa insistiu em afirmar que o esforço fiscal só aumentou e que a nova meta é desafiadora e não é frouxa. Também em São Paulo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, teve encontro. Fora da agenda, com outro grupo de economistas. Ele disse estar tranquilo com a reação do mercado e acreditar que ele vai reconhecer logo o exagero. 

Os dois ministros contaram que conversaram com representantes das maiores agências de classificação de risco para explicar as mudanças e tentaram demonstrar confiança de que o país não perderá o grau de investimento. Fitch Ratings e Moodys já sinalizaram que devem cortar a nota de crédito do país. No entanto, o Brasil ainda se encontra dois degraus acima da classificação de mercado especulativo. Já caso da Standard & Poors, está a apenas um passo de perder o selo de bom pagador. Uma fonte disse que o governo reconhece que o rebaixamento pode ocorrer dentro de nove meses. 

Problema sério 

Ontem, o dólar subiu 1,55% no confronto com o real e fechou em R$ 3,347, o patamar mais elevado desde 31 de março de 2003. Ao longo do dia, a divisa chegou a ser negociada acima de R$ 3,35. A moeda norte-americana acumulou alta de 2,97%, na semana e de 26% no ano. O Índice Bovespa caiu mais 1,13%, para 49.245 pontos. O tombo semanal de 5,92% foi o maior desde setembro de 2014. 

Na avaliação do mercado, ao reduzir a meta fiscal de 1,1% para apenas 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB), o equivalente a R$ 8,7 bilhões, o governo admitiu que não vai economizar o suficiente para pagar os juros e reverter o crescimento da dívida pública bruta, um dos principais indicadores usados pelas agências para avaliar a solvência de um país. Mais do que isso, indicou que pode apresentar deficit pelo segundo ano consecutivo, já que deixou em aberto a possibilidade de descontar R$ 26,4 bilhões do objetivo estabelecido. 

A reação (dos mercados) mostra a aceitação tardia da magnitude do problema fiscal brasileiro. Ou bem a governo assume que tem uma responsabilidade para com o país ou enfrentaremos um problema sério, avaliou o consultor Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central. 

Algumas estimativas, como a do Itaú Unibanco, apontam que a dívida bruta poderá ultrapassar 70% do PIB em 2017, uma das piores taxas do mundo emergente. Com isso, a onda de rebaixamento do país já começou. Um dia após o anúncio da nova meta, a agência brasileira Austin Rating retirou o grau de investimento dos títulos públicos brasileiros. Ontem, foi a vez de o banco norte-americano Morgan Stanley. Em relatório a clientes, a instituição mudou a recomendações dos papéis brasileiros para underweigth (abaixo da média do mercado), ou seja, uma recomendação de venda. No Brasil, a baixa performance fiscal deve limitar o ritmo de crescimento econômico nos próximos anos, informa o documento. 

O mau humor dos investidores, na avaliação do economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, reflete o aumento da desconfiança no país. Ele acredita que não deve demorar para que as demais agências também rebaixem o país. É uma questão de tempo. O governo não consegue entregar o que promete e os indicadores econômicos estão muito ruins. A queda na bolsa e a alta do dólar mostram que o governo não fez o dever de casa. O ambiente político negativo e de corrupção só piora o cenário e afasta ainda mais o investidor, explicou. 


 
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    O Tesouro Nacional informou ontem que concluiu em 15 de junho a venda de 5,6 milhões de ações ordinárias do Banco do Brasil que estavam na carteira do Fundo Soberano. A operação, iniciada em 29 de junho, rendeu R$ 134 milhões. Os papéis foram vendidos pela cotação de R$ 23,84. Os títulos do BB sofreram forte desvalorização com a descoberta de que o governo estava se desfazendo gradualmente dos ativos. Segundo o Tesouro, foi uma medida prudencial, em um contexto de política de consolidação fiscal do setor público.