Suíça amplia cerco a transações suspeitas da Odebrecht no exterior

 

A Procuradoria da Suíça incluiu a Odebrecht nas investigações sobre movimentação de dinheiro desviado da Petrobras. A empresa é suspeita de pagar propina no país. - SÃO PAULO E PARIS- A procuradoriageral da República da Suíça ampliou as investigações sobre corrupção na Petrobras para incluir a Odebrecht e empresas associadas, e pediu colaboração de autoridades brasileiras, como a partilha de documentos e interrogatórios de suspeitos residentes no Brasil na Operação Lava- Jato.

“Com base nas descobertas feitas até o momento, suspeitase de que companhias do grupo Odebrecht pagaram propinas via contas na Suíça para depósito em contas de ex- dirigentes da Petrobras também em instituições bancárias suíças”, diz um comunicado divulgado ontem pelo órgão da Suíça. “Os resultados iniciais destas investigações indicam que o centro financeiro suíço tem sido seriamente afetado pelo escândalo.”

O dinheiro da corrupção na Petrobras circulou por, pelo menos, 19 bancos da Suíça, entre eles as três maiores instituições financeiras daquele país. Já foram identificadas cerca de 300 contas utilizadas pelos chamados “operadores de propina” na Lava- Jato. No total, sete bancos suíços são investigados. Os outros 12 são filiais suíças de instituições de outros países.

A Odebrecht já tem contratos investigados no Peru, Equador e Panamá. Na Europa, há apurações em Portugal e na Itália. Nem todas estão diretamente ligadas à Lava- Jato. Segundo a investigação brasileira, a Odebrecht utilizou um esquema mais sofisticado que as demais empreiteiras para abastecer o esquema de corrupção da Petrobras. Seu operador seria Bernardo Freiburghaus, que vive em Genebra. Dinheiro da construtora teria passado por contas na Suíça em nome de quatro ex- diretores da Petrobras presos: Paulo Roberto Costa ( Abastecimento), Renato Duque ( Serviços), Nestor Cerveró ( Internacional) e Jorge Zelada ( Internacional). Também havia contas em nome do ex- gerente Pedro Barusco ( Engenharia).

Costa, um dos delatores da LavaJato, disse ter recebido da Odebrecht entre US$ 3 milhões e US$ 5 milhões por ano, entre 2006 e 2012. Foi ele quem apontou Freiburghaus como o operador da construtora. Disse que o conheceu por meio de Rogério Araújo, então executivo da Odebrecht, também investigado.

MENÇÃO AO PAÍS EM CELULAR

Barusco, outro delator, afirmou ter recebido US$ 1 milhão da Odebrecht na Suíça por meio da Constructora Del Sur, do Panamá. A Odebrecht nega relação com essa empresa.

Há duas semanas, documentos trouxeram novos indícios de que a Odebrecht pagou propinas a Cerveró por meio de Freiburghaus. Zelada também movimentou conta na Suíça para enviar dinheiro para Mônaco antes de ser preso, no início deste mês.

Documentos apreendidos na Lava- Jato mostram ainda movimentações em bancos suíços feitas pela Global Petroproject, cujo beneficiário pode ser Renato Duque. A suspeita é que o dinheiro tenha saído da Odebrecht, uma vez que a Global era controlada por um ex- executivo do grupo, João Antonio Bernardi Filho. Ele controlava também a offshore Hayley, que teria movimentado dinheiro na Suíça para o ex- diretor de Serviços.

Referências a contas na Suíça aparecem com frequência nas anotações do celular de Marcelo Odebrecht, apreendido pela Polícia Federal ( PF). São citados ao menos dois bancos: Pictet e PKB. Em outro tópico, Marcelo escreve sobre um “risco Swiss”, sem explicar o que significa. Para a PF, é uma preocupação com a movimentação bancária no exterior.

A defesa do empresário pediu ontem mais tempo para explicar ao juiz Sérgio Moro o que querem dizer as anotações. O prazo terminaria hoje. Os advogados argumentaram que não teriam tempo hábil para ouvir antes o cliente. “A única pessoa que pode interpretar as anotações é o seu autor”, afirmaram.

A Odebrecht informou que entrará em contato com as autoridades suíças “para entender o alcance das investigações e o motivo pelo qual está sendo inserida no contexto de apuração de irregularidades cometidas por executivos da Petrobras”.

INQUÉRITO CONTRA LULA

Atendendo a um pedido de advogados do ex- presidente Lula, o Conselho Nacional do Ministério Público ( CNMP) abriu investigação sobre a conduta do procurador Valtan Timbó Mendes Furtado, que abriu inquérito no âmbito da Procuradoria da República do Distrito Federal para apurar a suspeita de tráfico de influência internacional do ex- presidente em favor da Odebrecht. O corregedor Alessandro Assad afirmou que a reclamação disciplinar feita pela defesa do ex- presidente atende aos requisitos de admissibilidade e deu prazo de dez dias para que Furtado se manifeste. Assad, porém, negou pedido para que a abertura do inquérito fosse revogada.

Furtado não é o titular da apuração, que é conduzida pela procuradora Mirella Aguiar, mas a abriu durante as férias dela. Para a defesa de Lula, o procurador violou deveres funcionais.

 

Após delações, advogada abandona réus

Aadvogada Beatriz Catta Preta, uma das maiores especialistas em delação premiada do país, está abandonando a causa de seus principais clientes na Operação Lava- Jato. Nessa segunda- feira, ela comunicou o juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná, de que vai deixar de atender os réus Augusto Mendonça, da Setal, e o ex- gerente da Petrobras Pedro Barusco. Na quinta- feira da semana passada, ela já havia deixado a defesa do lobista Júlio Camargo. Beatriz não informa ao juiz a razão de sua decisão.

No mesmo ofício, a advogada anexa e- mails enviados aos clientes dizendo que eles terão dez dias para constituir novos procuradores, mas informa que, nesse prazo, continuará a representálos em “ações e procedimentos em andamento, exceto perante a CPI ( da Petrobras), Cade, CGU, Receita Federal, dentre outros”. Conhecida pela discrição, Beatriz também defendeu o ex- diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Foi ela quem o orientou na adesão ao acordo de colaboração que o tirou da carceragem da PF.

Beatriz não foi localizada ontem. No meio jurídico, comentase que ela estaria de mudança para Miami, nos EUA.

Beatriz deixou a defesa de Camargo na semana passada logo depois do longo depoimento em que ele acusou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), de receber propina de US$ 5 milhões. Outros US$ 5 milhões, segundo o lobista, foram para Fernando Soares, o Fernando Baiano, acusado de operar para o PMDB na Petrobras. As comissões eram de um contrato de navio- sonda. Segundo Camargo, também o ex- diretor da Petrobras Nestor Cerveró recebeu propinas. Os acusados negam.

Depois desse depoimento, Júlio Camargo anunciou que seu novo advogado seria Antonio Figueiredo Basto, o mesmo que representa o doleiro Alberto Youssef. Já Barusco e Augusto Mendonça ainda não anunciaram os seus novos defensores.