24/07/2015
SIMONE KAFRUNI
Fechamento de 300 mil postos e maior procura por vaga causaram pressão e elevação taxa que atingiu 6,9% em junho.
O desemprego disparou 44,9% em junho deste ano na comparação com igual período do ano passado, o maior crescimento desde março de 2002, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) iniciou a série histórica da Pesquisa Mensal de Emprego (PME). A taxa de desocupação apurada pelo instituto passou de 4,8% em junho de 2014 para 6,9% este ano. Foi a maior taxa para um mês de junho desde 2010, quando atingiu 7%.
Em maio de 2015, o indicador foi de 6,7% e a elevação em relação ao mesmo período do ano anterior foi de 38,5%. “O crescimento da desocupação quebrou o próprio recorde em junho”, afirmou a pesquisadora da Coordenação do Emprego do IBGE, Adriana Beringuy. Ela justificou o salto, assinalando que os números de desocupação do ano passado foram muito baixos, inclusive com a menor taxa histórica, apurada em dezembro, de 4,3%. “Se for comparar com o mês anterior, o crescimento é só de 3,3%”, disse.
A pesquisadora explicou que dois movimentos aceleraram o desemprego no primeiro semestre de 2015. O fechamento de quase 300 mil postos no ano representou uma queda de 1,3% da população ocupada, a maior taxa desde o início da série histórica. “O aumento da procura por emprego também influenciou. São 522 mil pessoas a mais nesse grupo”, alertou. “Além de maior desocupação, desde janeiro há maior pressão no mercado de trabalho”, esclareceu.
Projeção
Para o economista da Tendências Consultoria Rafael Bacciotti, o resultado ficou um pouco acima da projeção, de 6,8%. “O aumento de 2,1 pontos percentuais na taxa de desemprego é reflexo do crescimento de 0,9% na População Economicamente Ativa (PEA) e retração de 1,3% na população ocupada. Além disso, a pesquisa mostrou a continuidade do ajuste sobre os salários, com queda de 2,9% do rendimento médio real na comparação com junho de 2014”, pontuou o analista.
Adriana, do IBGE, ressaltou que, em termos nominais, houve expansão da renda nominal. “O rendimento caiu quatro meses seguidos desde fevereiro deste ano. Mas essa trajetória foi interrompida em junho. Isso pode estar relacionado aos dissídios e à reposição da inflação nos salários”, avaliou a pesquisadora.
O renda média real dos ocupados ficou em R$ 2.149,10 em junho, com alta de 0,8% sobre maio (R$ 2.132,58 ) e queda de 2,9% ante junho de 2014 (R$ 2.212,87). A massa salarial real permanece fraca, em R$ 49,5 bilhões, 4,1% abaixo do nível do mesmo mês no ano anterior. “O encolhimento da massa salarial no ano reforça nosso cenário de contração no consumo das famílias em 2015”, destacou Rodrigo Miyamoto, economista do Itaú Unibabnco.
Para Bacciotti, da Tendências, o cenário apontado pela PME vai na direção do acompanhamento das negociações coletivas, evidenciando a perda do poder de barganha dos trabalhadores no atual cenário recessivo. “As diferentes pesquisas de emprego (PME, Caged e PNAD Contínua) convergem para mostrar um quadro de rápido e intenso ajuste no mercado de trabalho, com elevação da taxa de desemprego e retração dos rendimentos em termos reais”, afirmou. A expectativa da Tendências é de que o processo perdure ao longo do ano. “A projeção para a taxa de desemprego é de 6,7% na média do ano.”
A maior desocupação foi registrada em Salvador, onde o indicador passou de 9% em junho de 2014 para 11,4% no mês passado. A menor, no Rio de Janeiro, pulou de 3,2% para 5,2% no mesmo período.
Brasileiros pessimistas
Uma pesquisa do instituto norte-americano Pew Research Center, em 40 nações, mostra que 87% dos brasileiros consideram a situação econômica no país ruim, o percentual, há um ano, era de 67%. O pessimismo só não é pior do que na Ucrânia (94%), no Líbano (89%) e na Itália (88%). No período, a fatia da população satisfeita encolheu drasticamente, de 32% para 13% no Brasil. Os chineses são os que mostram maior contentamento com as condições econômicas atuais: 90% afirmaram que a economia vai bem. Apesar da insatisfação com o momento, 66% dos brasileiros esperam que a economia melhore nos próximos 12 meses; e 61% acreditam que a próxima geração superará financeiramente os pais, contra 35% que apostam em uma piora.
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