À procura de um bombeiro  

Paulo de Tarso Lyra

24/07/2015

O fracasso do governo da presidente Dilma Rousseff em promover uma articulação política capaz de tirar o país da atual crise e o agravamento do relacionamento com a própria base têm reforçado a tese de que é preciso criar pontes com a oposição. Nomes com bom trânsito nas duas vertentes, como Nelson Jobim e José Sarney, estão entre os possíveis mediadores, segundo apontam interlocutores do Planalto. Jobim, por exemplo, foi presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e titular da Defesa na gestão do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Já o ex-parlamentar maranhense presidiu o Senado por três vezes ao longo dos últimos 20 anos.

Com o agravamento dos problemas institucionais, parlamentares, ministros, ex-ministros e analistas ouvidos pela reportagem começam a defender, em especial, a necessidade de uma reaproximação entre Lula e FHC. Em entrevista ao Correio há duas semanas, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) afirmou que chegou a conversar sobre o assunto com o tucano. Ontem, no Rio de Janeiro, o ministro da Defesa, Jaques Wagner, também mostrou-se simpático à tese. Ele alegou, no entanto, que a medida não deveria ser considerada uma trégua, mas um diálogo pelo bem da nação. “É fundamental que a gente mantenha cada qual a sua função, mas não perca o norte de que há algo superior a convicções ideológicas e político-partidárias, que é o futuro do país”, disse o ministro.

Na quarta-feira da semana passada, o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto também disse que o momento pede diálogo com a oposição. Segundo ele, diante do impasse entre Executivo e Legislativo e da paralisia do PIB brasileiro, é oportuna uma velha máxima de Ulysses Guimarães: “Olha, vamos sentar e conversar”. Delfim Netto, que foi conselheiro econômico de Lula, especialmente durante a crise financeira de 2008, mantém bom relacionamento com FHC e poderia ser um desses interlocutores.

Tido como hábil negociador e com trânsito livre nos dois estratos políticos, Nelson Jobim é outro que, em tese, não teria dificuldades em desempenhar o papel de mediador. Mas precisaria contornar a saída dele do governo Dilma Rousseff. Ministro da Defesa até 2011 na gestão petista, Jobim deixou a pasta após uma série de controvérsias. A que culminou com a exoneração foi uma entrevista à revista Piauí na qual classificou de “atrapalhada” a política do governo para divulgação de dados sigilosos. Na mesma ocasião, ele disse que a então ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, era “fraquinha”, e comentou que a ministra-chefe da Casa Civil à época, Gleisi Hoffmann, “sequer conhecia Brasília”.

Mensalão

Presidente do Senado nas gestões de Fernando Henrique e de Lula, José Sarney também pode repetir o papel de bombeiro que exerceu em 2005, durante a crise do mensalão. Na época, contou com o auxílio do então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que viajou para São Paulo a fim de conversar com FHC no instituto mantido pelo tucano. As negociações deram certo, e o pedido de impeachment de Lula não foi adiante.

A aproximação entre Lula e FHC, no entanto, não é vista como solução definitiva para a crise. Os próprios tucanos estão céticos quanto a essa movimentação — segundo o jornal Folha de S.Paulo, o petista já teria autorizado interlocutores a buscarem Fernando Henrique na tentativa de iniciar um diálogo que ajude a tirar o país da crise e evitar o impeachment de Dilma. “Lula é aquele habilidoso jogador que, quando está acuado no campo, vira a bola para o outro lado. É uma tática para desviar de si próprio e de sua pupila o desgaste da crise política que eles criaram”, ironizou o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).