Renan virá réu sob acusação de receber propina de empreiteira

 

A Justiça Federal abriu ação de improbidade contra o presidente do Senado, Renan Calheiros. Em 2007, ele foi acusado de receber propina da Mendes Júnior para pagar despesas pessoais. -BRASÍLIA- O juiz Waldemar de Carvalho, da 14ª Vara Federal de Brasília, abriu ação de improbidade contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDBAL), a partir das investigações sobre o caso em que o senador foi acusado de receber propina da empreiteira Mendes Júnior para bancar despesas particulares com a jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha numa relação extraconjugal.

DIVULGAÇÃO/21-02-2008Relação. Mônica Veloso, que teve uma filha com Renan: à época, o então presidente do Senado renunciou

A ação foi aberta oito anos depois das denúncias, que levaram Renan a renunciar à presidência do Senado em 4 de dezembro de 2007. E a ação contra o presidente do Senado foi apresentada no início do ano passado por seis procuradores do núcleo de combate à corrupção da Procuradoria da República no Distrito Federal.

“CAFÉ REQUENTADO”

“Ante o exposto, recebo a inicial”, escreveu o juiz em despacho publicado em 16 de junho. A ação pode resultar em punições que vão da devolução aos cofres públicos de valores eventualmente desviados até a perda dos direitos políticos. O caso tramita sob sigilo de Justiça.

Ontem, ao ser perguntado sobre a investigação, Renan disse:

— Toda e qualquer investigação é oportunidade para a pessoa se defender e esclarecer tudo. Estou absolutamente tranquilo.

Em nota, Renan disse que a ação é “café requentado”:

“Trata-se de uma pseudo denúncia muito antiga, café requentado com óbvias motivações. Mas, como sempre, de forma clara, pública, como já o fiz há 8 anos, farei todos os esclarecimentos que a Justiça desejar. Nada ficará sem respostas concretas e verdadeiras”.

As investigações sobre as relações entre Renan e Mendes Júnior começaram em 2007. O senador foi acusado de pagar despesas de Mônica Veloso com dinheiro repassado pelo lobista Cláudio Gontijo, ligado à Mendes Junior. Em troca, o grupo político do senador apresentaria emendas ao Orçamento favoráveis à empreiteira.

As denúncias levaram Renan a renunciar em 2007. O senador abriu mão do cargo antes do início da sessão em que seria julgado pelo plenário do Senado por quebra de decoro. Com a renúncia, acabou escapando da cassação e da perda de direitos políticos, e pôde se reeleger senador.

Renan também foi alvo de cinco representações no Conselho de Ética. O senador foi acusado de comprar, em parceria com o usineiro João Lyra, duas emissoras de rádio e um jornal e não declarar o negócio à Receita Federal. Pela acusação, teria usado laranjas para camuflar transações.

Os procuradores do Distrito Federal argumentaram também que a Mendes Júnior pagou R$ 246 mil a Mônica Veloso. À época, Cláudio Gontijo e Renan justificaram que esse dinheiro pertencia ao senador, mas que era repassado pelo lobista por sua amizade com o parlamentar.

O senador foi acusado de receber propina de obras e contratos de ministérios controlados pelo PMDB na época. Com forte influência sobre o conselho, Renan se livrou de todas as representações. Em 2013, voltou a ser eleito presidente do Senado.

Em 2013, cinco anos após o início das investigações, o então procurador-geral da República, Roberto Gurgel, denunciou Renan ao Supremo por peculato e falsidade ideológica. Numa outra frente de investigação, procuradores da República apresentaram, no início do ano passado, ação por improbidade administrativa contra o senador.

Renan também é alvo de inquérito na Operação Lava-Jato. É acusado de se beneficiar do esquema de corrupção controlado, em parte, pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.