PMDB intensifica arranjos para 2018

11/07/2015
 
PAULO DE TARSO LYRA
 
Em crise constante com o governo de Dilma Rousseff e o PT, o PMDB promoveu um encontro ontem, no Rio de Janeiro, com a presença das duas apostas do partido para a corrida do Planalto em 2018: o prefeito fluminense, Eduardo Paes, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. A sexta-feira foi reservada às articulações políticas, discutidas em um hotel da cidade. Hoje, os caciques da legenda visitarão as obras dos Jogos Olímpicos do próximo ano, que podem alavancar a candidatura de Paes à sucessão de Dilma Rousseff.

Com o cenário nebuloso no âmbito nacional, o PMDB se equilibra entre o apoio a Dilma e as conversas com a oposição. Cunha tem se encontrado frequentemente com o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG). Segundo a Constituição, é o presidente da Câmara que tem o poder de autorizar a abertura de processo de impeachment contra o presidente da República. Por enquanto, o peemedebista tem reforçado o discurso de que não há provas suficientes para julgar a petista por crime de responsabilidade devido às pedaladas fiscais nas contas públicas.

As palavras de Cunha são endossadas pelo líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). “Não esperem de mim uma atitude golpista porque não vamos contribuir para qualquer coisa nesse sentido. Eu lutei muito pela democracia para aceitar rupturas”, disse Eunício ao Correio. O parlamentar, no entanto, faz uma ressalva: “Uma coisa é se aparecer, de fato, algo contra ela (Dilma). Mas, até o momento, não há nada”.

O PMDB também negocia com outras lideranças políticas, com o intuito de se cacifar politicamente para as próximas eleições. No início desta semana, Eunício e o senador Romero Jucá (RR) jantaram com a senadora Marta Suplicy (sem partido-SP). A ex-petista tem flertado com o PMDB e o PSB para definir o futuro nas eleições municipais de 2016. “Para ela entrar no PMDB, só falta a benção dos paulistas. A bancada de senadores está de braços abertos para ela”, assegurou Eunício.

Além do flerte para abrigar a ex-petista, o PMDB do Senado também aproxima-se do senador José Serra (PSDB-SP). Com pouco espaço entre os tucanos, Serra tem visto seus projetos e propostas serem bem acolhidos por Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado. Essa aproximação tem gerado muita especulação nos bastidores do Congresso. Há quem diga que Serra, sem chances de se tornar pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, poderá se filiar ao PMDB para concorrer ao Planalto em 2018. “Isso é puro chute”, desconversou um aliado de Renan.

Entre rumores e possibilidades, todos esses cenários são alvo de discussão no encontro que os peemedebistas promovem desde ontem no Rio. No centro das conversas, a unidade do partido rumo à candidatura própria ao Planalto. Paes, eleito e reeleito prefeito da capital fluminense, aposta todas as fichas nos Jogos Olímpicos de 2016 para definir seu futuro. Por enquanto, ele é nome do partido para concorrer à sucessão de Luiz Fernando Pezão (PMDB), atual governador do estado. Mas, se os Jogos forem bem-sucedidos, Paes pavimentará seu caminho para disputar a pré-candidatura ao Planalto.

No início do ano, pouco depois de vencer a disputa para a presidência da Câmara, Eduardo Cunha lançou o nome de Paes para o Palácio do Planalto em 2018. O prefeito, no entanto, disse que será candidato ao governo fluminense. O jogo de empurra faz parte da mise-en-scène do partido para não adiantar nenhum passo político. Em entrevista ao Correio, o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha, defendeu que, após as eleições municipais do ano que vem, a legenda desembarque do governo para costurar a candidatura própria. “Defendo — e acredito que essa posição (deixar o governo) é majoritária dentro do PMDB — a ideia de que isso ocorra depois das eleições municipais de 2016”, afirmou, colocando Cunha e Paes como os nomes mais prováveis na disputa interna.

Parcimônia
Para integrantes da cúpula partidária, contudo, é preciso cautela. Paes apareceu em recente pesquisa de opinião com apenas 2% das intenções de voto para presidente. Cunha nem sequer aparece entre os citados, embora esteja se tornando um político mais conhecido nacionalmente por ser presidente da Câmara. Inclusive, tem viajado pelo país com o projeto Câmara Itinerante, justamente para expor o próprio nome.

Existe também outro problema. Não há como negar que o PMDB do Rio, hoje, é a ala mais forte do partido. Tem o presidente da Câmara, Eduardo Cunha; o líder da bancada na Casa, Leonardo Picciani; o governador Luiz Fernando Pezão; o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes; o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani; e o presidente da Câmara Municipal, Jorge Felippe. “Mas eles se comportam como uma entidade à parte, inclusive criticando a direção nacional. Para pensar em voos maiores em 2018, é preciso que eles se integrem ao conjunto do PMDB antes”, criticou um cacique nacional.

“Defendo — e acredito que essa posição (deixar o governo) é majoritária dentro do PMDB — a ideia de que isso ocorra depois das eleições municipais de 2016”
Eliseu Padilha, ministro da Secretaria de Aviação Civil




» Aliado incômodo
Confira algumas das desavenças do PMDB com o governo Dilma Rousseff nos últimos meses

Chapa definida
» Em junho de 2014, o partido fez a convenção nacional para ratificar a indicação de Michel Temer como vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff à reeleição. O resultado foi apertado: 398 votos favoráveis e 275 contrários.

A ascensão do desafeto
» O Palácio do Planalto não conseguiu evitar a eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara, no início de fevereiro. Renan Calheiros (PMDB-AL) foi reeleito para a presidência do Senado porque o ex-presidente Lula amarrou, nos momentos finais da disputa, o apoio dos petistas ao senador alagoano.

Arrocho fiscal sob ameaça
» Em março, após um acúmulo de insatisfações do PMDB, Renan Calheiros (PMDB-AL) devolveu a medida provisória da desoneração da folha de pagamentos.

Pena e pressão
» Durante reunião interna com a bancada de deputados do PMDB, em abril, Eduardo Cunha disse que o PT “só ganha uma votação quando nós (peemedebistas) temos pena”. No mês seguinte, Cunha e Renan Calheiros reuniram os 27 governadores a Brasília para reclamar que a União concentra verbas e deixa estados e municípios com o ônus de serviços essenciais, como segurança, saúde e educação.

Ataques em série no Congresso

» No intervalo de dois meses — maio e junho — os presidentes da Câmara e do Senado puseram em votação projetos que contrariaram o Planalto, como a PEC da Bengala, que prorroga para 75 anos o prazo para a aposentadoria compulsória de ministros do Supremo Tribunal Federal, impedindo Dilma Rousseff de nomear novos titulares para a Corte até o fim do seu mandato; e a PEC que reduz a maioridade penal para 16 anos em caso de crimes hediondos. Outra investida contra o Executivo promovida por Cunha e Renan é a proposta de sabatina para diretores de empresas estatais. O Senado ainda aprovou o reajuste de quase 60% dos salários dos servidores do Judiciário.

A “sabotagem” do PT
» Este mês, Cunha disse que o vice-presidente da República, Michel Temer, tem sido sabotado pelo PT na função de articulador político. Com o apoio de um grupo de peemedebistas, o presidente da Câmara prega o desembarque imediato do governo, abrindo nova crise entre o Planalto e o partido aliado. 
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Extradições permeiam visita de Dilma à Itália

Depois de participar da reunião dos Brics, na Rússia, a presidente Dilma Rousseff encontrou-se ontem, em Roma, com o primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi. Além de buscar financiamentos para a infraestrutura brasileira, a petista tenta elevar a um novo patamar as relações entre os dois países, estremecidas após os imbróglios diplomáticos envolvendo o ex-ativista italiano Cesare Battisti e o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato. Em declaração conjunta após a agenda com Dilma, Renzi afirmou que espera, do Brasil, uma decisão favorável em relação aos assuntos que interessam os italianos.

“Penso e espero que as relações renovadas, baseadas na cortesia, também possam trazer soluções em casos difíceis, como nos relacionados à Justiça”, disse o primeiro-ministro italiano. A declaração foi interpretada como um pedido do governo da Itália para que o Brasil reconsidere a situação de Battisti. O ativista político foi condenado à prisão na Itália, mas fugiu. Em 2007, foi preso no Rio de Janeiro. O então ministro da Justiça, Tarso Genro, vetou a extradição e garantiu asilo, o que seria confirmado em 2010 pelo presidente à época, Luiz Inácio Lula da Silva.

A visita de Dilma à Itália é a primeira após a decisão do governo de aceitar a extradição de Henrique Pizzolato para o Brasil — o ex-diretor do BB, entretanto, aguarda julgamento de recurso. Embora o tema não tenha, oficialmente, sido discutido no encontro entre os dois governantes, a expectativa de pessoas que acompanharam o encontro é de que o “Palácio do Planalto entenda que o gesto do governo italiano foi inédito e que, agora, é tempo de retribuição”.

Dilma e Renzi também discutiram sobre economia. A presidente brasileira convidou as empresas italianas a participarem do plano de concessões lançado pelo governo federal. “A Itália é um parceiro essencial”, disse a petista. No Brasil, existem 1,2 mil empresas italianas, com um estoque de investimentos de quase US$ 20 bilhões. O comércio, em 2014, também colocou os italianos entre os 10 maiores parceiros comerciais. “No comércio, Brasil e Itália tem um caminho a percorrer. As nossas relações se darão no mais alto nível”, afirmou Dilma.

“Penso e espero que as relações renovadas, baseadas na cortesia, também possam trazer soluções em casos difíceis, como nos relacionados à Justiça”
Matteo Renzi, primeiro-ministro da Itália