Lula aconselha Dilma. Aécio ataca

15/07/2015  
 
PAULO DE TARSO LYRA E JORGE MACEDO
 
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou ontem, pessoalmente, da presidente Dilma Rousseff que viaje mais pelo país para sair das cordas e criar uma agenda positiva para o governo. Há duas semanas, Lula tinha dito que a presidente precisa “colocar a cabeça no ombro do povo”. Ontem, foi mais claro: “Saia do Planalto, mesmo que não tenha uma inauguração ou programa a ser lançado”, disse ele, segundo fontes do Planalto. “As viagens, por si só, criarão a agenda positiva”, disse o ex-presidente, lembrando a experiência própria da época do mensalão.

Enquanto Lula, Dilma, quatro ministros (Aloizio Mercadante, Jaques Wagner, Edinho Silva e Miguel Rossetto) debatiam a agonia do governo no Palácio do Planalto, o PSDB reunia a Executiva Nacional para discutir a crise política vivida pelo país, os desdobramentos da Operação Politeia e as acusações de golpismo atribuídas ao PSDB por alguns setores do PT. “Não se preocupem com o PSDB, foquem os esforços na defesa quando for preciso dar explicações ao TCU e ao TSE em relação a eventuais delitos que possam ter ocorrido”, comentou Aécio.

O presidente nacional do PSDB disse que o país vive um sentimento de perplexidade. “Nada pode impedir que as investigações avancem. Sempre é recomendada prudência em casos assim, mas o que estamos vendo são desdobramentos de investigações que já vinham ocorrendo lá atrás. Sempre que as instituições forem atacadas, como é o caso da Petrobras, cabe ao PSDB defender. Vamos acompanhar de perto todos os desdobramentos de mais essa operação”, destacou.

O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) seguiu o raciocínio de Aécio. Ele revelou que acordou assustado hoje pela manhã. “Passei pela residência do Collor e vi vários homens encapuzados da Polícia Federal, foi algo tenebroso, me causou um sentimento ruim.” O também senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) disse que o partido acompanha atentamente as investigações da PF. “Não há como negar que o Brasil vive hoje um clima tenso. O PSDB defende que todos os fatos sejam apurados e que as instituições se fortaleçam com o aparecimento da verdade.”

Lava-Jato

Lula não quis, segundo relato dos presentes, abordar diretamente a questão da Operação Lava-Jato. Segundo apurou o Correio, o ex-presidente acha que, mais importante do que debater a ação da PF e do Ministério Público, o Executivo tem de arrumar um antídoto para sair das cordas. Ficou definido que o chefe da Casa Civil, ministro Aloizio Mercadante, será o responsável por elaborar uma agenda de viagens mais consistente para a presidente Dilma. A visita que ela fará hoje a Santa Catarina já está prevista, mas outras escalas nacionais entrarão no roteiro presidencial.

Lula também quer a presidente mais próxima dos movimentos sociais. Caberá ao secretário-geral da Presidência, Miguel Rossetto, promover essa reaproximação, já que muitos dos representantes da sociedade civil organizada estão distantes do Planalto, sobretudo por conta do ajuste fiscal conduzido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, já foi incumbido por Dilma para elaborar um plano minucioso de reforma agrária para atrair o MST. Em agosto, Dilma pretende lançar a terceira etapa do Minha Casa, Minha Vida.

No fim do dia, Dilma reuniu-se com governadores do Sudeste, que manifestaram apoio à votação do pacote de mudanças do ICMS, em tramitação no Senado. Do Planalto os governadores seguiram para um encontro com o presidente do Senado, Renan Calheiros, sobre o mesmo tema.

“Não se preocupem com o PSDB, foquem os esforços na defesa quando for preciso dar explicações ao TCU e ao TSE em relação a eventuais delitos que possam ter ocorrido”
Aécio Neves, senador.