Lula: ‘Dilma tem que encostar a cabeça no ombro do povo’

 

Dois dias depois de uma nova pesquisa mostrar que a popularidade da presidente Dilma Rousseff nunca esteve tão baixa, o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem a funcionários da Petrobras apoio a sua sucessora e defendeu a volta às ruas por parte dela e da militância como antídoto para a crise. O petista condenou o que chamou de campanha agressiva e desrespeitosa contra Dilma nas redes sociais e disse que tem pedido a Deus tranquilidade para ela. Mais uma vez, ele defendeu que Dilma fique menos no gabinete presidencial e mais “conversando com o povo”.

RICARDO STUCKERT/INSTITUTO LULACrise. Lula, com macacão com símbolo da Petrobras: “Se quiserem me derrubar, vão ter que me derrubar na rua”

— Eu nunca vi tanta agressão como a que companheira Dilma tem sofrido. Inclusive por muitos irresponsáveis que, escondidos na internet, fazem coisas que jamais uma pessoa com dignidade teria coragem de fazer. Eu peço a Deus todo dia para a Dilma não perder a tranquilidade. Estamos vivendo um tempo difícil, mas vamos consertar. E é isso que a nossa presidente está fazendo — afirmou Lula.

“QUEM ROUBOU QUE PAGUE”

O pronunciamento foi feito na 5ª Plenária Nacional da Federação Única dos Petroleiros (FUP), em Guararema, região metropolitana de São Paulo. Falando à vontade para cerca de 200 funcionários da estatal, o petista apontou as ruas como o caminho para reverter a crise do governo. Pesquisa CNI-Ibope divulgada na semana passada mostrou que a reprovação a Dilma está em 68% e só não é pior do que a registrada em 1989 pelo ex-presidente José Sarney.

— O nosso governo, outra vez, está precisando conversar com o povo brasileiro e eu acho que é isso o que a presidenta vai fazer. Acho que a companheira Dilma tem a noção exata do que eu estou falando. Ela conviveu muito tempo comigo e sabe que, nas horas difíceis, nas horas mais difíceis, não tem outra alternativa a não ser encostar a cabeça no ombro do povo e conversar com ele. Mostrar quais são as dificuldades e quais são as perspectivas. Eu acho que vamos ter um 2015 difícil. Mas estou convencido que a presidenta Dilma vai ser motivo de orgulho até o final do mandato dela — declarou.

O ex-presidente lembrou de outros momentos difíceis pelos quais passou o país e da postura de governantes como Getúlio Vargas e João Goulart. E mandou um recado aos adversários:

— Não vou me matar, não vou sair do país. Eu vou para a rua. Se quiserem me derrubar, vão ter que me derrubar na rua.

Uma das poucas palavras de Lula sobre as investigações dos desvios de recursos na Petrobras foi para criticar o vazamento de informações das delações premiadas na Operação Lava-Jato.

— O vazamento tem endereço. É para pegar alguém ou acusar um partido. Eu denunciei isso em dezembro dentro do Ministério da Justiça. A pessoa só pode ser chamada de ladrão na hora em que você provar que é ladrão — defendeu Lula, que concluiu: — Quem roubou que pague.

Pela primeira vez, o ex-presidente comentou a aprovação pela Câmara da redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.

— Será que o estado brasileiro cumpriu com suas obrigações com os jovens de 16 e 17 anos? Será que oferecemos a educação necessária? Será que criamos oportunidades para esses jovens? Eu falo isso sabendo que fui presidente por oito anos. O Estado que não cumpriu com suas obrigações resolve, então, acabar com a violência colocando moleque na cadeia. Eu sei que é um tema que se for para um plebiscito ganha mesmo para colocar (na cadeia), como ganha a pena de morte. Mas eu acho que essa meninada está precisando de oportunidade e não cadeia.

 

MPF denuncia servidor que tentou reter document

 

O Ministério Público Federal (MPF) no Distrito Federal denunciou o diplomata João Pedro Corrêa Costa pelos crimes de prevaricação e advocacia administrativa. Segundo reportagem do GLOBO, no dia 12 de junho, Costa, diretor do Departamento de Comunicação e Documentação do Itamaraty, tentou retardar a liberação de documentos referentes à construtora Odebrecht, solicitados por um repórter da “Revista Época" via Lei de Acesso à Informação.

O objetivo era ganhar tempo para tentar classificar os arquivos como secretos e, dessa forma, blindar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após a notícia, o Itamaraty negou ter montado uma operação abafa e determinou a liberação de todos os documentos.

Em memorando assinado em 9 de junho, publicado na reportagem, o diplomata admitiu a intenção de estender o caráter sigiloso à parte dos documentos para ocultar o envolvimento de Lula em transações comerciais e internacionais com a Odebrecht, o que é apontado pelo MPF como defender “interesse privado” perante a Administração Pública. Costa também teria agido de forma “ilegítima” ao tentar classificar como secreta parte da documentação que, nos termos da Lei de Acesso à Informação, havia perdido o status de reservada.

Como a soma da pena mínima dos crimes de prevaricação e de advocacia administrativa é igual ou inferior a um ano, o MPF ofereceu, junto com a denúncia penal, um acordo. Pelos termos propostos, Costa terá de pagar R$ 11.235 à organização não governamental Artigo 19, que defende a liberdade de informação em todo o mundo. A Justiça ainda tem de aceitar a denúncia.