Divulgar processos da Lava-Jato é ‘democratização do poder’, diz Moro

 

Em palestra no congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), o juiz Sérgio Moro defendeu a transparência nas investigações da Lava-Jato e reagiu a seus críticos: “Não sou nenhuma besta-fera.” Em delação, o dono da UTC, Ricardo Pessoa, relacionou doações de R$ 20,5 milhões que fez ao PT a contratos de sua empreiteira com a Petrobras. Ele entregou planilha com repasses feitos a políticos de 14 partidos. O juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Lava-Jato, criticou ontem, em palestra no congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em São Paulo, a “demonização” de sua imagem. No início da semana, a presidente Dilma e o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Edinho Silva, criticaram o “vazamento seletivo” do conteúdo da delação premiada do empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC.

MICHEL FILHONa ponta da língua. Moro saúda jornalistas. Indagado sobre críticas à sua atuação na Lava-Jato, rebateu: “Não sou nenhuma besta-fera”

— Não sou nenhuma besta- fera — respondeu, quando questionado sobre as críticas à maneira como conduz o julgamento das ações.

O juiz criticou a lentidão da Justiça e o foro privilegiado, que impede políticos se serem processados em tribunais de primeira instância. Para Moro, o foro a fere o princípio da igualdade. Ele criticou o uso da prerrogativa como instrumento para causar morosidade aos processos penais.

— É contrário ao princípio da igualdade. Pensando o foro privilegiado como um forma de maior controle (da administração pública) é positivo. Mas pensando em outra forma, como um mecanismo de proteção (de figuras públicas), eu tenho dúvida da sua validade. Como eu gostava muito de revista em quadrinho, lembro daquelas fases do Homem-Aranha onde dizia “quanto maior o poder, maior a responsabilidade”. Acho que o sistema tem que ser construído em cima disso — declarou.

Moro defendeu a publicação das informações investigadas na Lava-Jato como instrumento de “democratização do poder”. Para ele, a ampla divulgação é um dever constitucional, ainda mais em casos envolvendo a administração pública.

O juiz se negou a responder sobre questões relativas ao julgamento da Lava-Jato. Questionado se aceitaria falar após a conclusão do processo, ele se mostrou aberto, mas disse que não era o momento para se pensar nisso.

— A única certeza é que quero tirar umas longas férias depois disso tudo — disse, provocando risadas.

Também durante o congresso da Abraji, os advogados criminalistas Fabio Tofic e David Azevedo criticaram a condução de Moro na Lava-Jato. Tofic e Azevedo, que defendem acusados de corrupção na Petrobras, afirmam que o magistrado desequilibra o julgamento em favor da acusação. Eles atacaram a maneira com que foram fechados os acordos de delação premiadas pelo Ministério Público Federal. Para Tofic, o instituto da delação premiada é válido e legal, mas virou um instrumento de coerção da acusação durante a Lava-Jato.

 

Youssef diz ter sido sondado para repatriar R$ 20 milhões

 

Em depoimento à Justiça Eleitoral, o doleiro Alberto Youssef afirmou ter sido procurado, no início do ano passado, por uma pessoa interessada em repatriar R$ 20 milhões do exterior para serem destinados à campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Youssef, um dos operadores do esquema de corrupção da Petrobras, disse que não executou a operação porque foi preso em março de 2014, com a deflagração da Operação Lava-Jato.

Em trecho do vídeo do depoimento, divulgado pelo jornal “Folha de S.Paulo", Youssef afirma que foi procurado por uma pessoa, “de nome Felipe”, uns 60 dias antes de ser preso.

Em ação na Justiça Eleitoral, os tucanos pedem a cassação da chapa Dilma/Michel Temer por abuso de poder político e econômico. A ação tramita na Corregedoria Geral Eleitoral e o ministro relator é João Otávio de Noronha

“Uma pessoa de nome Felipe me procurou para trazer o dinheiro de fora e depois não me procurou mais. E aí aconteceu a prisão”, diz Youssef no depoimento colhido no último dia 9 de junho, em Curitiba, onde ele está preso.