Valor econômico, v. 16, n. 3793, 08/07/2015. Finanças, p. C2

 

Dólar atinge maior nível desde março

 

Por José de Castro e Silvia Rosa | De São Paulo

Incertezas em relação à situação da Grécia e preocupação com a China sustentaram a alta do dólar ontem.

O temor de uma desaceleração mais forte da economia chinesa afetou as moedas atreladas a commodities, como o real, que lideraram as perdas ante a moeda americana ontem.

No mercado local, o dólar subiu 1,24% para R$ 3,1805, maior patamar desde 30 de março.

 

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A moeda americana chegou a ser negociada a R$ 3,2009 na máxima do dia, mas reduziu a alta após notícias sobre a negociação de um acordo de curto prazo entre a Grécia e o Eurogrupo, que reúne os ministros de Finanças da zona do euro. Hoje a Grécia deve apresentar um novo pedido de resgate por meio do Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (ESM, na sigla em inglês) em troca de aprovar alguns projetos de reforma. A intenção é fechar um acordo até domingo. A Grécia tenta ganhar tempo enquanto negocia um acordo de longo prazo de reestruturação da dívida.

Além da incerteza em relação à Grécia, a China voltou a preocupar os investidores, após nova queda no mercado acionário chinês. Paralelamente, houve uma forte correção nos preços das commodities, afetando principalmente as moedas atreladas a esses insumos, como o real.

No mercado local, investidores continuam receosos com a escalada da crise política e os impactos disso para o ajuste fiscal.

Em uma tentativa de conter rumores de que o PMDB se alinharia à oposição em um movimento para afastar a presidente Dilma Rousseff do cargo, líderes da base aliada no Congresso divulgaram ontem uma nota em apoio à presidente e ao vice-presidente da República. O governo ainda anunciou na segunda-feira à noite o Plano de Proteção ao Emprego (PPE).

Para o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, essas discussões reforçaram as incertezas no mercado local, embora não veja o aumento do risco de "impeachment" da presidente. "Muito pelo contrário, em entrevista à Folha de S. Paulo [ontem], a presidente pareceu bastante firme e confiante", diz.

A atenção hoje estará voltada para a divulgação do IPCA de junho. De acordo com a pesquisa do Valor Data com 14 instituições financeiras e consultorias, a expectativa é de um avanço de 0,84% em junho, ante 0,74% em maio. Segundo Rosa, da SulAmérica, um aumento menor que o esperado do indicador poderia ajudar a reforçar a trajetória de queda das expectativas de inflação para 2016. No entanto, uma surpresa negativa dificultaria mais o trabalho do BC de promover uma convergência das expectativa para a meta.

Ontem, as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) recuaram na BM&F. O DI para janeiro de 2016 caiu de 14,16% para 14,12%, enquanto o DI para 2017 recuou de 13,75% para 13,72%.

Bovespa tem dia volátil com incerteza na Grécia

 

Por Téo Takar e Aline Cury Zampieri | De São Paulo

A volatilidade tomou conta da Bovespa ontem, por causa do noticiário sobre a crise da Grécia, as preocupações com o mercado acionário da China e a piora do cenário político doméstico. As ações da Petrobras e da Vale, que chegaram a cair mais de 5% pela manhã, fecharam com ganhos expressivos e ajudaram o Ibovespa a encerrar o pregão no azul.

Notícias sobre um acordo de curto prazo para a crise financeira da Grécia trouxeram alívio aos investidores na última hora de negociação. A Grécia receberia financiamento imediato e a perspectiva de uma futura reestruturação da sua dívida para os próximos dois ou três anos. A proposta deve ser analisada até domingo pelo Eurogrupo. Em troca, a Grécia vai aprovar parte das medidas de reforma exigidas pelos credores.

O Ibovespa fechou em alta de 0,37%, aos 52.343 pontos, com bom volume, de R$ 7,192 bilhões. Na mínima, o índice chegou a cair 1,95%, para 51.129 pontos. E na máxima bateu nos 52.388 pontos (0,46%). Entre as principais ações do índice, Petrobras PN (2,61%) terminou entre as maiores altas. A recuperação no preço internacional do petróleo à tarde e a mudança no cenário grego ajudaram os papéis da estatal.

Vale PNA (1,20%) também deu a volta por cima, mesmo após o novo tombo do preço do minério de ferro na China, que foi cotado a US$ 49,70 por tonelada no porto de Tianjin, queda de 4,4% frente ao preço de segunda-feira. No pior momento do dia, as ações atingiram o menor preço desde 2008.

Tanto petróleo como minério vêm sofrendo pesadas perdas nesta semana por conta de notícias vindas da China. A bolsa de Xangai caiu pela quarta vez em cinco dias, apesar das medidas para sustentar os mercados anunciadas no fim de semana pelo governo chinês.

O economista Darwin Dib, da consultoria Dib Macroeconomia, alerta que o "melodrama grego" está encobrindo a "tragédia chinesa". "A crise chinesa tem como base concreta, macroeconômica, a ausência de demanda agregada por parte de seus maiores consumidores: União Europeia e Estados Unidos", afirma. Dib considera como "desesperada" a recente tentativa do governo central chinês para conter o forte ajuste no mercado local.

Ele lembra que a alta das bolsas chinesas foi provocada basicamente pelo excesso de liquidez gerado pelo banco central chinês e pela falta de outras opções de investimento rentáveis no país, uma vez que o mercado imobiliário também está inflado.