Título: Governo aumenta os gastos
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 03/09/2011, Economia, p. 12

Desembolsos da União crescem 1,2% no segundo trimestre, superando a expansão da economia e até mesmo o consumo dos brasileiros. As despesas correntes foram maiores que os investimentos públicos no período

Contrariando o discurso atual do governo, os gastos da União continuam crescendo em ritmo superior ao da economia. A desaceleração do avanço do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) para 0,8% no segundo trimestre, anunciada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não foi seguida pelas despesas correntes da máquina pública, reforçando dúvidas sobre a real disposição de contê-las. A expansão sobre o trimestre anterior foi puxada, de novo, pelo consumo das famílias (1%), mas, sobretudo, pelas despesas do governo (1,2%). Na comparação com igual período do ano passado, a gastança avançou 2,5%.

Com esse avanço, as despesas do governo, calculadas pelo IBGE, chegaram a R$ 207,3 bilhões. O montante é superior aos R$ 182,3 bilhões de investimentos do período, à arrecadação de impostos sobre os produtos e serviços (R$ 148,6 bilhões) e à poupança bruta, que chegou a R$ 185,4 bilhões.

Segundo os técnicos do IBGE, o aumento dos gastos do governo não deve ser classificado como despesa, mas como oferta de serviço público. "A oferta está crescendo", disse Rebeca Palis, economista do IBGE. "Essas despesas pegam gasto de custeio, mais remuneração de funcionários das três esferas de governo. Por definição, é o valor da produção do governo", explicou Roberto Luís Olinto, coordenador de Contas Nacionais do instituto. Para especialistas, o custo do Estado aumentou.

Controle Para o analista de contas públicas Raul Velloso, os números evidenciam o peso dos gastos públicos correntes. A seu ver, as despesas federais, incluindo as que crescem além da vontade do governo, estão se tornando mais estratégicas. "Se o Banco Central (BC) corta juros diante de gastos correntes em ascensão, sinaliza que está esperando o cumprimento da promessa do governo de arrefecer esse ímpeto", disse.

Fabio Giambiagi, economista do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), acredita que as contas nacionais saíram basicamente como o previsto. Apesar disso, ele também acha que a importância do controle dos gastos correntes está na possibilidade de abrir espaço para o aumento da poupança e do investimento. "Se a despesa pública crescesse a taxas inferiores às da economia, outras variáveis, como o investimento, ampliariam sua participação no PIB", ressaltou.