Título: Investimento perde força no 2º trimestre
Autor: Martins, Victor ; Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 03/09/2011, Economia, p. 14

Desaceleração da economia é reflexo da queda no ritmo do setor produtivo, que só não foi pior devido à compra de máquinas no exteriorNotíciaGráfico

Embora tenham crescido 1,7% em relação aos primeiros três meses do ano, os investimentos na economia brasileira exibiram uma forte desaceleração em relação ao primeiro trimestre de 2010. Os números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, na comparação entre trimestres, a Formação Bruta de Capital Fixo ¿ que mede o nível de injeção de recursos no setor produtivo ¿ cresceu 5,9% em 2011, contra 28,1% no ano anterior. Pior: tal desempenho só foi possível em razão da importação de máquinas e equipamentos, que superou toda a produção nacional e o setor da construção civil, disse Rebeca Palis, economista do instituto.

A relação entre taxa de investimento e de poupança (patrimônio do país disponível para injeção na economia) ficou invertida, quando comparada ao primeiro trimestre do ano. Nos primeiros três meses, os recursos representavam 17,8% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país). Agora, em 18,1%, eles são maiores do que o volume de investimentos, que recuou de 18,2% para 17,8%. O pico desse indicador no país foi em 2008, quando chegou a 20,7% (veja gráfico).

"O mais estranho é que a taxa de investimento caiu justamente no período em que aumentaram os aportes do Tesouro para bancos públicos a pretexto de acelerar o fomento. Será que as empresas tomaram o crédito estatal, mas diminuíram os aportes próprios? É preciso debater mais esse circuito, que envolve endividamento público para dar crédito ao setor privado", sugeriu o economista e consultor José Roberto Afonso. Ele destacou que o apenas o crédito para consumo aumentou. "Isso resulta em crescimento sem sustentação a longo prazo", completou.

O vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso Dias Cardoso, também alertou para essa redução do investimento no segundo trimestre do ano. A queda da taxa, para Cardoso, é resultado de vários fatores, como alta taxa de juros, aumento de importações devido ao dólar barato, e elevada carga tributária. Para a Abimaq, o governo precisa reduzir a taxa de câmbio, além de prosseguir na redução dos juros. "Vemos com bons olhos a decisão do Banco Central em reduzir a Selic (taxa básica de juros), mas acreditamos que ainda não é suficiente", disse.