Projeto quer ampliar a 10 anos prazo para porte de armas de fogo

 

Mantido sob sigilo, o relatório do projeto que esvazia o Estatuto do Desarmamento pretende ampliar para 10 anos o prazo de renovação do porte de arma de fogo, que hoje tem de ser feita a cada três anos, segundo revelaram fontes ao GLOBO. De autoria do deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC), o relatório propõe ainda a possibilidade de posse definitiva de arma, acabando com a necessidade de revalidar o registro a cada três anos. A apresentação do projeto seria nesta semana, mas acabou adiada por 15 dias

Além de determinar uma diminuição de até 70% nas taxas administrativas pagas ao governo federal para legalizar uma arma, o texto prevê regras mais flexíveis para a instalação de indústrias estrangeiras do setor no país. Esse último ponto, em especial, desagradou parte da comissão especial que se debruça sobre o projeto. Dos 27 titulares do colegiado, ao menos cinco receberam doações da indústria armamentista nacional nas duas últimas campanhas eleitorais.

A retirada da Polícia Federal como centralizadora do processo de registro de armas no país, estendendo a tarefa às polícias civis por meio de convênios, foi outro ponto do relatório mal recebido por um grupo de parlamentares que pediu acesso antecipado ao texto. O relatório estava pronto desde o retorno do recesso parlamentar, no início do mês, e já havia sido revisado pela Consultoria da Câmara dos Deputados para ser apresentado anteontem. Mas, numa manobra de integrantes da comissão, a apresentação acabou adiada.

INSATISFAÇÃO COM TEXTO

Embora a justificativa oficial tenha sido de que muitos segmentos da sociedade pediram para serem ouvidos, nas últimas 48 horas antes da apresentação do relatório, o adiamento se deu por pressão de parte da comissão que quer um tempo a mais para contornar pontos do texto.

Segundo deputados envolvidos na articulação, parte da comissão chegou a se reunir, num encontro informal, para debater o relatório. Na ocasião, trechos do texto foram bombardeados. Na última hora, decidiram postergar a apresentação do documento. Procurado pelo GLOBO, o deputado Laudívio Carvalho ( PMDB- MG), relator do projeto, não retornou o contato da reportagem. A comissão especial remarcou para 10 de setembro a apresentação do relatório sobre o projeto de lei.

A manobra atual dos parlamentares lembra o desfecho, no ano passado, da mesma comissão. Depois de instalado às pressas em 2014, o colegiado indicou Cláudio Cajado (DEMBA) como relator. Ele fez uma série de mudanças no projeto e provocou discórdia entre os deputados. Cajado acabou ganhando a pecha de “moderado demais” dos deputados mais radicais, sobretudo os integrantes da chamada bancada da bala. O clima de insatisfação esvaziou a comissão especial, que foi encerrada no final da legislatura sem votar o relatório.

CUNHA INDICOU PRESIDENTE

Quando o projeto foi desarquivado, este ano, Cajado esperava ser novamente relator, o que não aconteceu. Depois de ser preterido, o deputado chegou a lançar seu nome para presidir a comissão especial, mas o deputado Marcos Montes ( PSD- MG), indicado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), ficou com o cargo.