Osistema de saúde brasileiro tem problemas estruturais graves, a começar pelo ensino. Criar novos cursos de medicina sem adequadas condições de funcionamento — professores qualificados e instalações — vai aumentar o risco desse instável e assimétrico sistema. Formar meios médicos para tratar meias doenças nunca se viu antes neste país. Agora veremos!
Grande parte das localidades escolhidas para instalação desses novos cursos não tem rede de saúde de qualidade, condição mínima para se estabelecer uma faculdade. O critério foi político e financeiro, já que o ensino da medicina é o mais lucrativo e o mais longo — seis anos de mensalidades e taxas.
O valor dobrou nos últimos quatro anos, hoje em média de R$ 6 mil. O lucro é enorme, pois o maior custo ocorre nos primeiros dois anos do curso, com os laboratórios de anatomia, histologia, fisiologia, entre outros. A partir do terceiro ano, os estudantes começam a ter aulas práticas, participando e ajudando nos cuidados dos pacientes. O custo é praticamente só para o pagamento de professores e obrigações administrativas. A maioria das faculdades não tem hospital universitário ou não proporciona adequada supervisão com professores para os acadêmicos dos últimos anos. Estes acabam virando mão de obra gratuita em obscuros convênios estabelecidos entre faculdades caça-níqueis e hospitais terceirizados.
Esse sistema está fracassado: ensinase inadequadamente e aprova-se irresponsavelmente. Infelizmente, 95% dos estudantes recebem o diploma de médico, pois as faculdades não reprovam.
O Conselho Regional de Medicina de São Paulo ( Cremesp), preocupado com a qualidade profissional, vem realizando desde 2005, de forma optativa, e a partir de 2012, de forma obrigatória, uma prova de medicina geral, para todos os formandos. O índice de reprovação em 2014 foi de 65% nas escolas privadas e de 33% nas escolas públicas.
Infelizmente, o Cremesp não pode condicionar o registro para o exercício profissional ao resultado da prova. Para tanto, seria necessária uma lei federal. Por exemplo, a prova da Ordem dos Advogados do Brasil que reprova 84% dos bacharéis de direito e, assim, não permite que eles exerçam a profissão.
Não tenho dúvida de que, entre as novas escolas, algumas, como a do Einstein e a da PUC-RJ, formarão médicos competentes. Mas a maioria não terá condição de formar profissionais completos, técnica e eticamente.
O Brasil tem 257 escolas médicas, sendo 118 criadas nos últimos 12 anos, 57% particulares. Só perdemos para a Índia, com 381. Ultrapassamos a China, que tem 150, e os EUA, com 141. Temos uma faculdade para cada 809 mil habitantes, enquanto na Índia essa razão é de 1 para cada 3,2 milhões; na China, 8,6 milhões; nos EUA, 2,2 milhões.
Outro absurdo está no currículo impositivo, que define as doenças dos pacientes do SUS. Quantidade sem qualidade: o resultado de mais essa pedalada serão médicos desinformados.
Precisamos de médicos mais bem formados.