O globo, n. 29894, 12/06/2015. Economia, p. 22

Números e percepção

Míriam Leitão

O secretário de segurança do Rio, José Mariano Beltrame, desceu na Primeiro de Março, determinou que os seguranças não o seguissem, foi andando até a Praça Mauá e depois voltou. Foi sendo parado pelas pessoas que contavam dos roubos de que foram vítimas no Centro e de que maneira os ladrões escapam. Há uma sensação de que tudo está piorando. Beltrame constata isso quando conversa com as pessoas.

Osecretário, há oito anos no cargo, é sempre abordado com as mais variadas queixas que extrapolam em muito a segurança. Ouve reclamações contra outros serviços públicos. Em relação aos crimes, ele tem algumas convicções. Primeiro, a que lhe dá os números, mesmos os que não são do governo:

— Veja o Mapa da Violência ( feito por Julio Jacobo Waiselfisz) quando se compara 2002 com 2012. Em óbitos por armas de fogo, o estado do Rio era o primeiro do país, o pior índice. Em 2012, havia caído para o 16 º do país. As taxas de mortes encolheram 54,9%, a segunda maior queda depois de São Paulo. Quando se comparam as capitais, o Rio era o terceiro pior índice e agora é o 21 º .

Ele admite que, apesar de os números estarem ao lado dele, a sensação das pessoas não é esta. E afirma que é preciso trabalhar duro para mudar essa percepção. Beltrame contratou consultoria externa para estabelecer um plano de ação estratégica para a segurança no Rio. Por isso, quando 70 empresários foram procurá- lo, perguntando se poderiam ajudar, ele tinha metas e projetos nos quais eles teriam possibilidade de investir. Já foram feitas três reuniões com os empresários dispostos a investir de forma voluntária no esforço de segurança do Rio.

Beltrame avisou que não quer dinheiro — “dinheiro na mão é vendaval”— mas há projetos específicos que eles podem fazer, como recuperar motos para o patrulhamento que estão paradas pelas mais variadas necessidades de conserto, que vão desde lanterna quebrada até retífica de motores. Há um projeto de parques, logradouros públicos, em que se pode investir na instalação de quiosques e patrulhamento. O planejamento de três áreas está pronto: Lagoa, Parque de Madureira e Quinta da Boa Vista.

Mas tudo pode parecer pequeno perto da assombrosa necessidade da política de segurança na cidade que em um ano receberá o maior evento olímpico e onde os moradores vivem horrores como o da morte do médico Jaime Gold, na Lagoa Rodrigo de Freitas, supostamente por menores armados de facas, ou o do assassinato do menino Eduardo, por um policial no Complexo do Alemão. Além disso, voltaram a ocorrer confrontos armados nas UPPs, mesmo no Dona Marta, que sempre foi considerado o caso mais bem sucedido de pacificação.

Em entrevista que me concedeu ontem na Globonews, o secretário Beltrame nega que esteja havendo perda de controle sobre áreas pacificadas. Ele disse que nunca afirmou que a violência acabaria, nem prometeu a eliminação completa da presença de bandidos ou traficantes nessas áreas, mas acha que as conquistas dos últimos anos permanecem. E, de novo, as estatísticas mostram queda de morte de pessoas pela polícia.

Sobre o polêmico projeto de redução da maioridade penal, Beltrame acha que a sociedade está discutindo “se encarcera ou não o menor”, quando o importante é saber o que acontecerá com o menor, de onde ele veio, o que o levou ao crime:

— Ele pode não ser preso, mas uma coisa eu sei: ele não pode ficar na rua. Porque aí ele cometerá os crimes. O menor que supostamente cometeu o crime na Lagoa foi preso 15 vezes e foi solto. Se na oitava vez ele tivesse permanecido preso, não ocorreria a tragédia.

Outra reclamação que ele faz é em relação ao caso dos traficantes Claudinho e Fu da Mineira, condenados a mais de 80 anos de prisão, levados para Rondônia, e de lá soltos por um juiz para passar dias com a família. Eles fugiram. Essa fuga produziu um enorme retrocesso na segurança do Morro de São Carlos, pelos ataques dos bandidos.

O secretário tem bons argumentos, admite a culpa da Polícia em casos como o do Amarildo, demonstra estar indignado com os crimes, nega que esteja perdendo o controle de territórios conquistados e tem uma coleção de boas estatísticas. Mesmo assim, a percepção do morador é de aumento da insegurança.