O globo, n. 29894, 12/06/2015. Economia, p. 23

Ex- executivo do BB é preso por suspeita de lavagem de dinheiro

Lino Rodrigues

Quadrilha forjava importações, superfaturadas em até 5.000%

A PF prendeu Allan Simões Toledo e outras dez pessoas acusadas de evasão de divisas e lavagem de dinheiro. - SÃO PAULO- A Polícia Federal prendeu ontem 11 pessoas acusadas de participar de uma organização criminosa, com negócios no Brasil e no exterior, para evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Entre os presos na Operação Porto Victoria está o ex- vice- presidente do Banco do Brasil Allan Simões Toledo. O executivo, em prisão temporária por cinco dias na carceragem da PF paulista, é atualmente diretor comercial no Banco Banif. Os mandados de prisão, cumpridos em São Paulo, no Paraná e no Estado do Rio, também atingiram o ex- secretário da Copa do Mundo de Curitiba Luiz de Carvalho. Segundo a PF, ele atuava como doleiro no esquema.

MICHEL FILHO/ 5- 3- 2012 Na mira. Allan Toledo, ex- vice do BB e hoje diretor do Banif: advogado considerou a prisão “estranha”

Durante nove meses de investigações, foram detectadas transações por meio de um esquema conhecido como “dólar cabo”, realizadas no Brasil e no exterior, à margem do sistema oficial de remessa de divisas. Segundo estimativas do Conselho de Controle de Atividades Financeiras ( Coaf ), há movimentações, que indicariam lavagem de dinheiro, de cerca de R$ 3 bilhões em três anos de atuação das empresas envolvidas. Nas operações de buscas, foram apreendidos R$ 1 milhão em dinheiro vivo ( euros, reais e dólares), bens móveis e imóveis, e até diamantes e lingotes de ouro.

A organização, segundo a PF, realizava exportações fictícias de produtos superfaturados em até 5.000% para a Venezuela. Depois, empréstimos e importações simuladas justificavam o envio do dinheiro para Hong Kong, que era encaminhado para outras contas ao redor do mundo. Na prática, no entanto, a grande maioria das transações ficava apenas no papel. Pelo menos 30 empresas, a maior parte delas de fachada, estão na mira da PF. Uma dessas empresas, de acordo com as investigações, movimentou cerca de RS 170 milhões em apenas um ano.

DOLEIRO PRESTES A EMBARCAR

De acordo com o delegado da PF Alberto Ferreira Neto, que coordena a Operação Porto Victoria, a ação foi deflagrada porque um dos doleiros, que tem cidadania estrangeira, estava com passagem comprada e embarcaria ontem ao exterior. A PF identificou cinco corretoras e uma instituição financeira como envolvidas no esquema. O grupo atuava em países como Reino Unido, Venezuela, Estados Unidos, Brasil e Hong Kong. O nome que batiza a operação é referência ao movimentado porto de Hong Kong, que também é uma atração turística.

Em 27 de dezembro de 2011, Toledo foi demitido do Banco do Brasil em meio a uma crise política na instituição e a acusações de favorecimento. Segundo fontes, sua demissão teria sido determinada pelo então presidente do BB, Aldemir Bendine, que hoje comanda a Petrobras. Na época, o nome de Toledo também foi citado em relatório do Coaf por movimentação atípica. Em entrevista ao GLOBO em 2012, Toledo negou ter sido demitido: disse que aderira a um programa de demissão voluntária e que apenas pediram que antecipasse seu desligamento.

O advogado de Toledo, o criminalista Roberto Batochio, disse que até o fim da tarde de ontem não tinha conseguido retirar uma cópia do inquérito na PF. Ele considerou a prisão “no mínimo estranha”, uma vez que seu cliente não tem envolvimento com a área de câmbio do Banif. Procurado, o banco informou que não vai se manifestar.

Já o BB, em nota, ressaltou que Toledo foi desligado da instituição em dezembro de 2011 e disse não ter informação sobre os fatos investigados.