Valor econômico, v. 16, n. 3803, 22/07/2015. Política, p. A7

 

Apoio ao impeachment surpreende Planalto

 

Por Fernando Exman | De Brasília

A trajetória de queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff já vinha sendo apurada nas mais recentes pesquisas de avaliação do governo. Assim, a notícia divulgada ontem pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e o instituto MDA de que a aprovação da petista caiu de 10,8% em março para 7,7% em julho não chegou a surpreender autoridades do Palácio do Planalto. O mesmo não pode ser dito, porém, em relação ao dado segundo o qual cerca de dois terços da população apoiam o impeachment da presidente. Agora, o risco de Dilma é tal estatística traduzir-se em maior volume de manifestantes nos protestos contra o governo que devem ocorrer neste segundo semestre.

Em março, a pesquisa CNT/MDA calculou em 59,7% os entrevistados que apoiavam o impedimento da presidente. No mais recente levantamento, feito neste mês, o percentual atingiu 62,8% - alteração preocupante para quem pode depender da boa vontade de um presidente da Câmara dos Deputados que acaba de romper com sua administração e enfrenta ações no Tribunal de Contas da União (TCU) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que, no limite, podem levar à perda de seu mandato.

Em pergunta estimulada apenas aos que se disseram favoráveis à interrupção do segundo mandato da presidente, 26,8% mencionaram que a medida se justificaria devido à existência de irregularidades nas prestações de contas do governo, as chamadas "pedaladas fiscais". Outros 25% citaram a corrupção na Petrobras investigada pela Operação Lava-Jato, ante 14,2% que apontaram ilegalidades na prestação das contas da campanha presidencial de 2014. Para 44,6% dessa parcela dos entrevistados, todos os três motivos embasariam o impeachment de Dilma.

Apenas 1,5% citaram outros assuntos como justificativa e outros 1,8% não souberam ou não responderam. Além de apontar uma maioria favorável ao impeachment da presidente da República, a pesquisa demonstra que grande parte dos críticos do governo sabe exatamente os motivos de sua indignação. Com o risco de enfrentar novos panelaços se for à televisão para explicar as ações de sua gestão ou vaias em eventos públicos em que o cerimonial do Palácio do Planalto não tiver o controle total da plateia, a margem de manobra da presidente também parece cair a cada dia.

 

Movimentos esperam mais adesão a protestos

 

Por Cristiane Agostine | De São Paulo

Grupos contrários à presidente e ao PT apostam na baixa popularidade de Dilma Rousseff para turbinar os novos protestos contra o governo e em favor do impeachment no dia 16 de agosto. Movimentos como o Brasil Livre e o Vem Pra Rua comemoraram ontem os resultados da pesquisa CNT/ MDA, que mostram a desaprovação do governo por 70,9% da população e da presidente por 79,9%. O MBL disse que já confirmou protestos em 100 cidades. O Vem Pra Rua, em 55.

Líder do Vem Pra Rua, Rogério Chequer disse que a pesquisa "comprova a indignação com as políticas adotadas nos últimos anos". "O governo tem adotado práticas tão ineficientes que consegue bater recordes de queda de popularidade. Isso tende a levar mais gente para as ruas", afirmou.

A pesquisa mostra que 62,8% da população é a favor do impeachment de Dilma.

Representante do MBL, Rubens Nunes afirmou que o descontentamento gerado com o aumento do desemprego e da inflação "deve ser sentido nas ruas". "Isso está refletido na pesquisa. A população que foi 'iludida' nas urnas está acordando".

A expectativa dos grupos contrários à presidente é de voltar a mobilizar um grande número de pessoas, assim como foi no primeiro protesto, em março. O ato de abril foi esvaziado. "Foram dois atos em seguida. Isso tornou mais difícil a mobilização. Agora teremos fatos novos, como os julgamentos do TCU [Tribunal de Contas da União] e do TSE [Tribunal Superior Eleitoral], além do rompimento do [Eduardo] Cunha com o governo", disse Nunes.

O MBL defende o impeachment só de Dilma. O grupo evita criticar o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) e poupa o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado pelo consultor Julio Camargo, delator na Operação Lava-Jato, de ter pedido propina de US$ 5 milhões. "Apoiamos qualquer medida que venha a afastar Dilma. Mas sobre as denúncias contra Cunha ainda estamos estudando. Pode ser que isso [a denúncia] tenha sido retaliação contra ele", disse Nunes. "No protesto nosso tema será um só: o impeachment de Dilma". O grupo protocolou um pedido de impeachment em maio e posou para fotos ao lado de Cunha. Na internet, o MBL vende produtos como a caneca "Marcha pela Liberdade" por R$ 50 e uma camiseta "Fora PT" autografada pelo apresentador Danilo Gentili por R$ 500.

Além do protesto no dia 16, o Vem Pra Rua está organizando um panelaço contra o PT no dia 06, quando será veiculada a propaganda partidária petista.

O PT analisa com cautela os próximos protestos. A sigla prevê que será forte o panelaço durante a veiculação da propaganda petista, que deve exibir o ex-presidente Lula e defender o legado do PT. A participação de Dilma ainda não está definida. O protesto do dia 16 ainda é "uma incógnita" para dirigentes petistas, mas há o temor de que a crise econômica leve ao aumento da presença de eleitores petistas "desiludidos".