Cúpula do PT sai em defesa da Agenda Brasil

30 ago 2015

FERNANDA KRAKOVICS 

Direção do partido age para evitar ataques internos às propostas de Renan.

Apesar de não concordar com alguns pontos da Agenda Brasil, a cúpula do PT tenta conter ataques do partido ao conjunto de propostas defendido por Renan Calheiros (PMDBAL), investindo em uma política de bom relacionamento com o presidente do Senado. Ele é um dos autores do “pacote anticrise”, cuja apresentação foi o marco de sua reaproximação com o Planalto. Dirigentes petistas afirmam que, agora, o mais importante é tentar melhorar o ambiente político e mudar a pauta de discussões, que tem sido monopolizada pela crise econômica e de governabilidade.

AILTON DE FREITAS/25-04-2013Jorge Viana: “Vamos trabalhar pelo que nos une’’

Entre os pontos que contrariam o PT estão a ampliação da idade mínima para a aposentadoria, a flexibilização das regras para o licenciamento ambiental e a retomada da discussão sobre a regulamentação do trabalho terceirizado. Petistas afirmam que a agenda significa uma redução de direitos trabalhistas, da proteção social e do papel do Estado na economia.

Dirigentes do partido têm procurado petistas críticos ao pacote e pedido compreensão com o momento político difícil e a situação de fragilidade do governo. Nessas conversas, integrantes da direção do PT apostam que os pontos polêmicos nem devem ser votados, pelo menos a curto prazo.

— Vamos trabalhar pelo que nos une. Esses assuntos (polêmicos) não vão entrar agora. A agenda é tão extensa que, em dois anos, não a esgotaremos — disse o senador Jorge Viana (AC).

A direção do PT também evita turbulências para não prejudicar a votação dos pontos de interesse do governo: unificação do ICMS com convergência das alíquotas para o destino; regularização e repatriação de dinheiro não declarado de brasileiros no exterior; e reforma do PIS/Cofins, com a criação de uma alíquota única.

No PT, os críticos da Agenda Brasil a colocam no mesmo patamar da política econômica do ministro da Fazenda, Joaquim Levy — ou seja, veem suas propostas como um receituário estranho ao partido. É o caso do senador Lindbergh Farias (RJ), que prepara uma agenda alternativa com medidas para a retomada do crescimento econômico.

— Alguns setores tentam aproveitar a fragilidade do governo para impor uma agenda. De fato, houve um movimento importante quando Renan se separou do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e disse que o Senado vai ser uma Casa responsável. Mas isso não significa um compromisso nosso com pautas que prejudicam os direitos dos trabalhadores, que são contra nossa agenda histórica — argumenta Lindbergh.

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), tenta contemporizar:

— Acho que o próprio Renan vai ter o bom senso de ver que vários pontos polêmicos precisam ser discutidos.

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Governo: possível sabotagem na articulação política

JÚNIA GAMA

Dilma teria dito que indicações das bancadas para 2º escalão ‘não batiam’ com as que chegavam a ela.

Nas últimas duas semanas, a presidente Dilma tomou para si a negociação das nomeações de indicados políticos para cargos no governo, com o objetivo de restaurar a base aliada. E, segundo relataram ao GLOBO políticos que negociam diretamente com o Planalto indicações para o segundo escalão, o governo detectou uma possível sabotagem nas negociações anteriores da articulação política, com trocas nos nomes de indicados pelas bancadas.

O alerta no Planalto surgiu de uma conjunção de fatores. Mesmo com sinal verde para que os articuladores atendessem as demandas, as indicações não saíam e as bancadas continuavam a se queixar. Deputados que estão negociando cargos afirmam que surgiram especulações de que o ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil) estaria privilegiando seus aliados na articulação e, assim, contribuindo para que a base se mantivesse insatisfeita.

O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) seria outro foco de dificuldade para a efetivação das nomeações. Segundo parlamentares da base, isso ocorreu porque Mercadante estaria em guerra interna contra Padilha pela manutenção de sua esfera de influência no governo. Peemedebistas apontam que Mercadante tentou “boicotar” ações atribuídas a Temer. E pressões de alas que disputam poder dentro do PT junto a Mercadante ajudaram a complicar o processo.

Um dos exemplos dessa troca de indicações ocorreu há cerca de 10 dias, quando Dilma convidou o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), para uma conversa no Planalto, em que pediu que o deputado apresentasse as demandas da bancada. Dilma teria dito que os pedidos “não batiam” com o que estava chegando a ela.

Na lista de “trocas” são citados exemplos como o do senador Otto Alencar (PSD-BA), que teve uma indicação sua substituída por outra do deputado José Rocha (PR-BA), e de uma indicação de deputados do PMDB para a Caixa Econômica, que teria sido trocada por outro nome ao chegar ao gabinete da articulação.

Dilma encarregou seu assessor especial Giles Azevedo para tratar diretamente as indicações. Ele já esteve com representantes do PMDB, do PP, do PTB e de alguns partidos menores. Os deputados esperam que as nomeações comecem a ser efetivadas.

— O Giles não é o novo articulador político. Ele é o olho da presidente, é a pessoa de sua mais extrema confiança, como se fosse ela lá. Dilma viu que a história não estava chegando a ela como realmente era e resolveu agir. Se as coisas não andarem com Giles, aí não tem como culpar mais ninguém — diz um parlamentar.

Padilha negou que ele ou Temer tenham atuado para impedir qualquer nomeação:

— Repudio, veementemente, as irresponsáveis insinuações de que Michel Temer e eu obstaculizamos nomeações, em razão de disputas com outros articuladores. Os trapalhões que criaram ou propagaram tal boato trabalham contra a estabilidade política do governo e zombam da inteligência dos parlamentares.

A reportagem não localizou Mercadante.