Título: Brasil na articulação
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 25/08/2011, Mundo, p. 22

Embaixador no Egito mantém "contato permanente" com os rebeldes. País participará de conferência a convite da França

Embora não tenha ainda reconhecido politicamente o Conselho Nacional de Transição (CNT), que representa politicamente os rebeldes líbios, o governo brasileiro estará à mesa de uma conferência internacional de "países amigos", no próximo dia 1º, em Paris. A reunião foi anunciada ontem pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, depois de ter recebido no Palácio do Eliseu o número dois da coalizão rebelde, Mahmud Jibril. "Decidimos convocar uma grande conferência internacional para ajudar a Líbia livre de amanhã", disse.

Sarkozy confirmou que também foram convidadas a Rússia, a China e a Índia, que formam com o Brasil a articulação dos Brics. Os quatro países se abstiveram, ao lado da Alemanha, na votação em que o Conselho de Segurança das Nações Unidas autorizou o uso da força contra as tropas de Muamar Kadafi, em março, para proteger a população civil. A África do Sul, que se integrou mais recentemente ao Brics e também ocupa uma cadeira não permanente no conselho ¿ como Brasil e Índia ¿, votou a favor da resolução, proposta pela França e pelo Reino Unido, com apoio dos Estados Unidos. O presidente francês não esclareceu se os sul-africanos também serão convidados à conferência de Paris.

A diplomacia brasileira mantém contato permanente com o CNT, no Egito, e se diz preparada para estabelecer relações bilaterais com uma nova administração pós-Kadafi. O embaixador do Brasil no Cairo, Cesario Melantonio Neto, explicou ontem ao Correio que tem conversado regularmente com os representantes do CNT na capital egípcia e assegurou que não haverá qualquer desconforto com a mudança de regime em Trípoli. Falando à imprensa no Itamaraty, na terça-feira, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, tinha afirmado que os rebeldes prometeram honrar os contratos firmados pelo regime de Kadafi com empresas brasileiras, que conduzem grandes e importantes projetos de infraestrutura urbana em território líbio.

Melantonio reuniu-se em julho com o presidente do CNT, Mustafah Abdel Jalil, em Benghazi, capital da revolução. Os contatos tinham sido estabelecidos meses antes com representantes da coalizão rebelde baseados no Cairo. Eles ajudaram a preparar a ida do embaixador brasileiro à Líbia e garantiram que ele fosse recebido pela cúpula do CNT. As conversas têm sido mantidas com regularidade, segundo o diplomata, tanto em telefonemas para Benghazi como pessoalmente com os enviados no Cairo.

Com quase uma década de experiência diplomática em países muçulmanos, Melantonio está à frente da embaixada no Egito há três anos e também representa o Brasil no papel de observador permanente perante a Liga Árabe, que tem sua sede no Cairo.

Interesses mútuos Na avaliação do embaixador, há interesses mútuos em uma relação bilateral entre o Brasil e um novo governo líbio, tanto no campo político quanto no econômico. Melantonio garantiu não ter ouvido reclamações do CNT sobre o fato de o Brasil ainda não o ter reconhecido como governo legítimo, e destacou que há respeito e grande interesse por parte dos rebeldes para com o Brasil. "As conversas estão indo bem e são muito positivas", garantiu.

Anteontem, Patriota afirmou que o Brasil aguardará a definição a ser dada pela Organização das Nações Unidas na Assembleia Geral, no fim de setembro, para então saber quem será o governo líbio a ser reconhecido.