Valor econômico, v. 16, n. 3796, 11/07/2015. Brasil, p. A3
Câmbio favorece rentabilidade da indústria
Por Marta Watanabe | De São Paulo
A rentabilidade da exportação da indústria de transformação cresceu 10,7% de janeiro a maio, na comparação com igual período do ano passado. A margem de ganho foi propiciada principalmente pela desvalorização cambial nominal de 27,3% nos cinco meses. A elevação da margem da indústria destoa da restante das exportações, cujo total perdeu 1,8% em rentabilidade.
Em maio contra igual mês de 2014 o ganho de rentabilidade dos embarques da indústria de transformação foi maior, 12,4%, devido principalmente à desvalorização cambial nominal de 37,9%. Na soma das exportações a margem recuou 0,4% em maio. O cálculo é da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
A variação cambial compensou o aumento de custo de 4,9% e a queda de preços de exportação de 8,6% de janeiro a maio contra iguais meses do ano passado.
O cenário dos segmentos extrativistas, diz Daiane Santos, economista da Funcex, foi bem diferente. Neles, explica ela, a redução de preços de exportação retirou a vantagem que o câmbio trouxe. Nos segmentos de extração de petróleo e gás e de minerais metálicos e não metálicos a queda de preços foi o determinante. Com redução de 48,8% no preço médio de exportação, esses setores sofreram recuo de 32,5% na rentabilidade das compras, mesmo com a queda de 3,8% no custo de produção e variação cambial a seu favor.
Os setores não industriais - agricultura e pecuária, produção florestal e pesca - chegaram a ter elevação da margem de ganho de 3,5%, variação bem menor que a da indústria de transformação. O custo de produção desses setores cresceu 5,1% e o preço caiu 14,3%, sempre de janeiro a maio contra igual período do ano passado.
O ganho de rentabilidade da exportação da indústria de transformação neste ano representa significativo avanço em relação ao que já havia conseguido no início do ano passado, destaca Daiane. De janeiro a maio de 2014 o índice de lucratividade da exportação da indústria de transformação aumentou em 4,2%, puxado pela desvalorização cambial nominal de 15,2% sobre igual período de 2013.
"O avanço de rentabilidade de exportação este ano é um ponto fora da curva", diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Para ele, a lucratividade da indústria manufatureira deve terminar o ano com avanço, mas em ritmo menor ao já verificado. "No decorrer dos próximos meses vai ficar mais evidente o efeito do reajuste da tarifa de energia elétrica no custo de produção da indústria, com repercussões para os demais custos, como de serviços e salários. Isso vai deve reduzir o índice de rentabilidade."
Daiane destaca que o efeito do aumento da rentabilidade para a indústria de transformação na balança comercial não deve ficar claro ainda este ano. "A participação dos manufaturados na pauta de exportação brasileira é pequena em relação aos básicos", diz. O que a rentabilidade pode propiciar é a redução de preços pelo exportador, que terá um produto mais competitivo. "Isso pode levar a uma elevação no volume embarcado e, como resultado, elevação do valor vendido ao exterior."
Esse caminho, porém, diz Castro, é longo e demorado. "Os produtos brasileiros ganham competitividade com o câmbio, mas as exportações demoram a se efetivar porque os contratos de comércio exterior são de longo prazo e a indústria nacional precisa conquistar o cliente externo."
"A competitividade da exportação também não se sustenta a longo prazo somente com câmbio", diz Daiane. Para ela, o governo tem sinalizado para uma mudança na política de comércio exterior que pode fazer diferença no médio prazo. "Há uma expectativa positiva relacionada ao plano de exportação anunciado, por exemplo."
Lia Valls, do Instituto Brasileiro e Economia (Ibre/FGV), avalia que o ganho de rentabilidade não é uniforme para todos os setores da indústria de transformação e o impacto da variação de câmbio nominal nem sempre gera ganho de margem para o exportador no mesmo nível.
A grande importância dos não comercializáveis, exemplifica Lia, cria uma pressão de custos de produção que tira parte da vantagem cambial. Há também pressões importantes que podem ser relevantes para alguns setores. As despesas com salários, diz, ainda geram uma pressão grande. "Apesar das demissões, o custo unitário do trabalho tem crescido, o que mantém muitas vezes a despesa com salários crescente de forma relativa."