Título: Cruzada contra a corrupção
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Fonte: Correio Braziliense, 25/08/2011, Opinião, p. 20

A faxina iniciada pela presidente Dilma Rousseff precisa ser conduzida com firmeza e seguir até o fim. É inadmissível que convênio sob investigação da Procuradoria da República em São Paulo e da Polícia Federal, com fortes indícios de má aplicação dos recursos, superfaturamento, uso de empresas fantasmas e favorecimento a pessoas físicas e jurídicas seja prorrogado. Pois foi justamente isso o que fez o Ministério do Turismo, injetando mais R$ 1,1 milhão no que, tudo indica, é um saco sem fundo montado sobre eficiente sorvedouro de dinheiro público.

O aditivo foi assinado com a Associação Brasileira de Transportes Aéreos Regionais (Abetar) pelo então secretário executivo e ordenador de despesas da pasta, Frederico Silva da Costa. Número dois do órgão, ele é um dos 36 detidos na Operação Voucher da PF, que desbaratou quadrilha de empresários e servidores que surrupiava recursos de convênio destinado à capacitação turística no Amapá, com valor de R$ 4 milhões. Coincidência ou não, o contrato cuja prorrogação ¿ por 26 meses ¿ foi revelada ontem pelo Correio é também para capacitação profissional, parte do programa Bem Qualificar Copa. Ironicamente, o conteúdo inclui ética, cidadania e comportamento.

Espera-se mais zelo do Estado com a pesada carga tributária imposta aos brasileiros. Se não resta dúvida de que há algo de podre no reino do peemedebista Pedro Novais, ministro do Turismo, um pente-fino sobre cada ato da gestão era o mínimo com que a sociedade contava. O próprio titular admitiu comandar pasta repleta de "informalidades". Mesmo que esteja certo ao culpar antecessores pelas assumidas irregularidades e ainda que tenha exonerado funcionários pegos em flagrante, não pode eximir-se de responsabilidade sobre decisão publicada no Diário Oficial ao entrar no oitavo mês de exercício do cargo.

O ministro Novais teve sua primeira audiência individual com Dilma apenas na segunda quinzena de julho, convocado por ela exatamente para esclarecer suspeitas envolvendo contratos (no caso, de R$ 52,2 milhões). Enquanto a determinação da presidente não tiver eco em cada peça do governo e na sua base aliada no Congresso Nacional, ela será um Quixote na luta contra a corrupção. Essa é uma bandeira a ser desfraldada aos ventos de norte a sul, de leste a oeste do país, tanto no setor público como no privado.

O Brasil está cansado de assistir a impunes assaltos ao erário. Sinais de frouxidão no trato da questão serão, inevitavelmente, injeções de desânimo e de descrédito que arriscarão pôr a perder a verdadeira cruzada em que precisa ser transformada a iniciativa presidencial. Urge, pois, resgatar o Ministério do Turismo do noticiário policial. Ainda mais que a pasta está diante de desafio e oportunidade únicos. Por um lado, há o histórico desperdício do notável potencial turístico nacional. Por outro, os dois maiores eventos esportivos do planeta, a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, estão a caminho do país. A seguir de escândalo em escândalo, em vez dos louros que elevarão nossa autoestima em nível internacional, colheremos monumental e malcheiroso vexame.