Valor econômico, v. 16, n. 3800, 17/07/2015. Brasil, p. A4

 

Para analistas, 102 mil vagas foram fechadas em junho

 

Por Camilla Veras Mota | De São Paulo

Depois de resultados negativos em janeiro, fevereiro, abril e maio, a economia formal continuou fechando vagas no mês passado. A estimativa média de 11 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta 102,6 mil demissões líquidas no registro do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de junho.

As projeções para o dado, que será divulgado hoje pelo Ministério do Trabalho e Emprego, são todas negativas e variam entre fechamento líquido de 70 mil e de 161 mil postos. No mesmo mês de 2014, o resultado foi positivo em 25,4 mil.

 

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Para Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, a composição do indicador deve ser parecida com a dos meses anteriores, com perda de vagas na indústria, construção e serviços. Esse último setor, cuja dinâmica de contratações em 2014 evitou uma desaceleração maior do saldo de vagas formais criadas no país, já acumula resultados negativos em abril e maio, os primeiros para esses meses na série do ministério, que começa em 1992.

"Não há indícios de mudança na dinâmica recente da atividade", afirma o economista. A estimativa de corte de 100 mil postos com carteira em junho representa, em termos dessazonalizados, 152 mil demissões - a nona consecutiva na série elaborada pela consultoria.

Em maio, o Caged apurou saldo líquido negativo de 115,6 mil empregos, com perda de 60,9 mil vagas na indústria, 29,8 mil na construção e 32,6 mil nos serviços. Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, o resultado dos serviços em junho deve vir em patamar semelhante, com redução de 25 mil postos.

Para a equipe do Bradesco, o saldo negativo do registro de junho - projetado em 107 mil postos - reforça a expectativa de retração do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre. Além do dado de emprego, os indicadores relativos a maio divulgados no decorrer da semana, como a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) e a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), mostram a mesma tendência, ressalta a instituição em relatório.

Diante da deterioração do mercado de trabalho em ritmo mais intenso do que o esperado neste ano, as projeções para o Caged fechado de 2015 já chegam próximo ao fechamento de um milhão de postos de trabalho com carteira assinada, levando em consideração a série sem ajuste, que contabiliza apenas as informações enviadas ao ministério dentro do prazo legal.

A estimativa da consultoria AZ Quest, por exemplo, passou de saldo negativo de 650 mil no mês passado para corte de 800 mil empregos. O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, por sua vez, revisou a expectativa para o ano - de 600 mil para 856,5 mil vagas a menos. Até maio, pelo mesmo critério, o país acumula 278,4 mil demissões.

 

Índice de atividade do BC deve apontar ligeira alta em maio, de acordo com as projeções

 

Por Tainara Machado | De São Paulo

Com a pequena reação da indústria em maio, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) também deve mostrar ligeira alta no período, após dois meses de queda. De acordo com a média das estimativas de 16 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, o índice calculado pelo BC, que tenta reproduzir a variação mensal do Produto Interno Bruto (PIB), deve ter aumentado 0,1% em maio, após queda de 0,84% em abril, sempre em relação ao mês anterior, com ajuste sazonal. As estimativas para o IBC-Br, que será divulgado hoje pelo BC, variam entre queda de 0,3% até alta de 0,5%.

A expectativa de variação positiva, porém, não afasta perspectivas bastante pessimistas para o PIB no segundo trimestre, dizem economistas, para quem os sinais são de queda forte da atividade em junho.

 

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Alexandre Andrade, economista da GO Associados, avalia que o aumento de 0,6% da produção industrial entre abril e maio, feitos os ajustes sazonais, deve ter contribuído para a alta de 0,5% do IBC-Br no período, mas esse avanço foi pontual, diz. "Não é uma mudança de trajetória. Em relação ao ano passado, o IBC-Br ainda deve mostrar contração de 4%", afirma o economista.

Para Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, a alta da indústria e a queda de 0,9% das vendas do varejo, de acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio divulgada quarta-feira, indicam estabilidade do IBC-Br na passagem mensal. Em seu modelo, Velho incorpora também informações do mercado de trabalho, que continuou a mostrar desaquecimento no período.

A taxa de desemprego subiu para 6,7% e a renda real dos trabalhadores encolheu 5% em relação a maio de 2014. Por isso, diz, a projeção é de queda de 3,4% da atividade econômica na comparação com igual mês do ano anterior.

Para o economista da INVX, a estabilidade do IBC-Br entre abril e maio não altera a expectativa de que o segundo trimestre seja o pior do ano, "com queda intensa e generalizada de empregos por diversos setores". Em junho, comenta, aconteceram diversas paralisações de produção em fábricas, especialmente nas montadoras, o que deve ter impacto acentuado sobre a indústria.

Outro dado negativo já divulgado, comenta Andrade, da GO Associados, é a arrecadação de junho, que teve queda de 2,44% em termos reais, pior desempenho para o mês desde 2010. Segundo o economista, a projeção de recuo de 1,2% do PIB no segundo trimestre, em relação ao primeiro, feitos os ajustes sazonais, pode até ser "otimista" diante dos indicadores que têm sido divulgados. Andrade não descarta que a queda fique mais próxima de 1,5% no período.

Para o economista, o segundo trimestre deve ter sido pior do que o primeiro principalmente por causa da surpresa negativa com a inflação, que abalou a confiança de consumidores e empresários. "Sabia-se que reajuste dos preços administrados ia acelerar o IPCA, mas não se esperava que fosse acontecer nessa magnitude. Além disso, no mercado de trabalho, o desemprego subiu mais rápido do que se imaginava", diz.

Como o crédito também está escasso e mais caro, a inadimplência aumentou e as famílias reduziram consumo. Em sua avaliação, é pouco provável que esse cenário se altere substancialmente no terceiro trimestre, período para o qual a GO Associados estima nova queda do PIB, de 0,7%. Só no quarto trimestre é que a atividade econômica deve se estabilizar, o que já será uma boa notícia, comenta.

Para o ano, o economista projeta contração de 1,5% do PIB. "Os dois principais fatores que vão influenciar positivamente o cenário são controle da inflação e ajuste fiscal, e dificilmente vamos ver números mais positivos nestes dois fronts ainda em 2015", observa.