Levy: Brasil está preparado para crise nos mercados mundiais

 

O Brasil está preparado para enfrentar a onda de mau humor nos mercados globais, desencadeada pelas incertezas sobre o futuro da economia da China, disse ontem o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Para ele, o momento é de volatilidade, mas os danos não serão permanentes, pois o governo brasileiro tem implementado medidas que estão consertando erros passados e promovendo uma reforma estrutural. Se este caminho for mantido, diz, o Brasil será “vencedor neste mundo” em transformação e voltará a crescer.

MARCELO CARNAVAL/19-8-2015Confiança. Levy: “Não acho que vai ter depressão nos mercados globais”

— Estamos preparados (...) Estamos ajustando a economia para um nova realidade, em que as mudanças dos termos de troca serão persistentes. Uma realidade brevemente também em que os juros globais talvez comecem a subir um pouquinho, e a gente sabe que isso vai ocorrer. O que nós estamos fazendo é preparar o Brasil para isso, para ser vencedor neste mundo — disse Levy, que classificou a crise chinesa como acomodação.

— Não acho que vai ter depressão nos mercados globais (...) Olhamos com atenção. É uma acomodação o que está acontecendo na China. Não era sustentável (o padrão de crescimento), está saindo de crescimento totalmente apoiado no investimento para mecanismos mais tradicionais de demanda. Esse é um trabalho de transição.

Levy aproveitou a conversa com correspondentes em Washington para negar que vá deixar o cargo ou que tenha ido à capital americana para discutir seu desligamento com a família. Segundo ele, sua viagem foi uma gentileza da presidente Dilma Rousseff, que concedeu alguns dias para que ele se despedisse de uma das filhas, que vive na cidade com a mãe e a irmã e está mudando-se para China.

Apesar dos boatos, Levy estava tranquilo e reforçou planos futuros. Por exemplo, disse que o trabalho do governo agora entrou numa fase de mais longo prazo — a reforma do Estado iniciada com a redução de 39 para 29 ministérios — e garantiu que estará em Lima, Peru, para a reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird), em outubro.

— A permanência no cargo não está em discussão, tá tudo certo, tem muita tranquilidade. A presidente Dilma teve a gentileza de me permitir vir aqui porque, vocês sabem, minhas filhas moram aqui, tem uma que vai passar um ano na China, eu vim me despedir dela, tá certo, dar um pouquinho de carinho, a gente também é pai.

TOMBINI: ‘MOMENTO DESAFIADOR’

Levy chegou sábado a Washington e, segundo ele, mesmo em agenda privada, manteve teleconferências e videoconferências com sua equipe na Fazenda e a própria presidente. Segundo o ministro, a equipe econômica está debruçada sobre os números finais do Orçamento de 2016, que será enviado ao Congresso na próxima segunda-feira, 31 de agosto. No exercício de estimativa de receitas e despesas, o cobertor está curto e a meta de superávit primário (economia para pagamento de juros da dívida) já foi derrubada para 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB).

Para Levy, o importante é que o governo apresente “Orçamento robusto, que dê confiança de que vamos alcançar os objetivos”. Por isso, não descartou aumento de impostos. Mas indicou que não deverá se mexer na Cide, que incide sobre combustíveis.

— Vamos tomar todas as medidas necessárias. Tenho impressão que não vai ter aumento da Cide. Vamos com calma — disse o ministro, que embarca de volta para o Brasil hoje

Em São Paulo, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que o momento atual é “especialmente desafiador" para as economias emergentes.

— O momento em que observamos aversão ao risco, mesmo para as grandes economias emergentes, reforça a necessidade de prosseguirmos no nosso processo de ajustes — disse Tombini, em evento do jornal "Valor Econômico".