Collor volta a atacar Janot: ‘sujeitinho à toa’ e ‘fascista’

 

Em um discurso feito no início da tarde de ontem para um plenário no qual estavam presentes apenas quatro colegas, o senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL) chamou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de “fascista” e “sujeitinho à toa”. Collor foi denunciado na semana passada ao Supremo Tribunal Federal (STF) por suposto envolvimento no escândalo investigado pela Operação Lava-Jato — ele é acusado de receber propinas por contratos firmados pela BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras. O expresidente voltou a reclamar das buscas realizadas em suas residências e empresas e exibiu, em um telão, um vídeo de dois minutos. O filme, gravado na porta de seu apartamento funcional em Brasília, mostra um bate-boca entre agentes que realizavam a operação e integrantes da Polícia Legislativa do Senado. Ele usou as imagens para questionar a forma como foi feita a diligência.

ANDRÉ COELHOPlenário vazio. Collor deixa a tribuna: discurso marcado por agressões ao procurador-geral da República foi acompanhado por apenas quatro colegas

Collor, que, no início do mês, na mesma tribuna, já havia xingado Janot de “filho da p...”, acusou novamente o procurador-geral da República de abuso de autoridade. Ele destacou que, por duas vezes, teve depoimentos desmarcados e questionou o caráter sigiloso dado à denúncia apresentada ao STF, ressaltando que seus advogados ainda não tiveram acesso ao conteúdo.

— Trata-se o senhor Rodrigo Janot de um fascista da pior extração e cuja linhagem pode ser refletida nas palavras de Plutarco: “Nada revela mais o caráter de um homem do que seu modo de se comportar quando detém um poder e uma autoridade sobre os outros. Essas duas prerrogativas despertam toda paixão e revelam todo vício” — disse Collor.

SABATINA SERÁ AMANHÃ

O senador tem feito diversos ataques a Janot na tentativa de criar embaraços para a recondução de Janot à ProcuradoriaGeral da República (PGR). Ele será sabatinado amanhã pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Collor apresentou um voto em separado, no qual incluiu cinco petições que pedem a destituição de Janot e citou dois processos em andamento no Tribunal de Contas da União (TCU) sobre contratos firmados pela PGR.

—É a esse tipo, sujeitinho à toa, de procurador-geral da Republica, da botoeira de Janot, que queremos entregar à sociedade brasileira? Possui ele a estabilidade emocional e a sobriedade que sempre lhe faltam nas vespertinas reuniões que realiza na Procuradoria? Está ele dotado da conduta moral que se exige para um cargo como esse? Não, senhoras e senhores. Não me parece ser o caso — acusou Collor.

A PGR estimou em R$ 26 milhões o montante das propinas recebidas por um grupo do qual o ex-presidente faria parte. No vídeo que ele apresentou ontem para questionar a legalidade das buscas em suas residências e empresas, delegados da Polícia Federal e procuradores impedem que integrantes da Polícia Legislativa do Senado entrem no apartamento funcional de Collor em Brasília.

O diretor da Polícia Legislativa do Senado, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, afirmou que, como haveria uma busca dentro de um imóvel funcional, deveria acompanhar a diligência. Os investigadores rechaçaram seu argumento, e Carvalho tentou forçar a entrada, mas foi impedido por agentes do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. Na confusão, um dos investigadores empurrou Carvalho. Ontem, Collor disse que tal atitude representou um ataque ao Congresso.

A Polícia Federal reiterou que a diligência estava sob sigilo judicial. A PGR não se manifestou.