Deputados cobram afastamento do cargo

18/07/2015
PAULO DE TARSO LYRA
 
Menos de cinco minutos após a entrevista coletiva do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciando o rompimento com o Planalto e o alinhamento com a oposição, o vice-líder do governo na Casa, Sílvio Costa (PSC-PE), defendeu o impeachment do peemedebista. “Ele não tem mais condições morais de continuar no cargo”, disse Costa, alegando falar por si, não pelo Planalto. Ele afirmou que conversará com juristas para avaliar a viabilidade do pedido.

O parlamentar pernambucano, que tem se destacado pelas críticas ao comportamento de Cunha na Presidência da Casa, lembrou que, sempre que surgem denúncias envolvendo ministros, a primeira cobrança feita por deputados e senadores é que os integrantes do governo se afastem até que prestem os devidos esclarecimentos. “A mesma coisa vale para o Cunha”, defendeu o vice-líder do governo. “Ele deve se afastar temporariamente enquanto durarem as investigações da Operação Lava-Jato”, completou.

Os presidentes da República, do Senado e da Câmara podem ser afastados do cargo, por processo de impeachment, se tiverem cometido crime de responsabilidade, como atentar contra a probidade da administração, os direitos políticos dos cidadãos ou a lei orçamentária. Cunha foi acusado pelo executivo da empresa Toyo Setal Júlio Camargo de ter recebido US$ 5 milhões em propina relativas ao contrato para compra de dois navios-sonda da Petrobras, avaliados em R$ 1,2 bilhão.

Para um dos vice-líderes do PT na Casa, deputado Alessandro Molon (PT-RJ), não foi tão enfático quanto Costa, mas também criticou as declarações de Cunha. “É uma reação pessoal, isolada e destemperada. A presidência da Câmara exige um mínimo de equilíbrio e isenção”. Para Molon, “a Casa não pode ficar refém de uma agenda pessoal, não pode se tornar instrumento de defesa ou de ataque de quem quer que seja”, criticou o petista.

Cautela

A bancada do PSol na Câmara divulgou uma nota intitulada “Eduardo Cunha deve se afastar” e classificou de inaceitáveis que se confundam denúncias feitas contra o presidente da Câmara e Renan Calheiros como um ataque ao Congresso. “Cada parlamentar e seu partido têm que responder pelas acusações que eventualmente sofram. Eduardo Cunha não tem direito de confundir suas posições e ódios com a função que ocupa institucionalmente de presidente da Câmara dos Deputados”, diz a nota do PSol.

“A confusão deliberada que Cunha produz, à guisa de defesa, evidencia sua incompatibilidade entre a função de presidente da Casa, que exige equilíbrio e postura de magistrado, e a condição de investigado na Operação Lava-Jato”, prossegue o texto.

Já o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), afirmou que, se Cunha deve se afastar para dar explicações sobre denúncias da Lava-Jato, a mesma regra deveria valer para a presidente Dilma Rousseff. “As contas de campanha dela também estão sendo investigadas no Tribunal Superior Eleitoral e ela foi citada mais de uma dezena de vezes nas delações da Operação Lava-Jato. É melhor evitar precipitações, pois investigados estão sendo a presidente e vários parlamentares. Essa sugestão sobre aqueles acusados que são presidentes de poderes pode ter um efeito bumerangue e atingir a própria presidente”, disse Freire.
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Na tevê com tuitaço e panelaço

18/07/2015
JOÃO VALADARES E JULIA CHAIB
 
No dia em que anunciou o rompimento com o governo de Dilma Rousseff e após ser acusado de receber propina em delação premiada da Operação Lava-Jato, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi alvo de um tuitaço. Os protestos contra o peemedebista figuraram entre os assuntos mais comentados nas redes sociais no Brasil e no mundo. À noite, Cunha fez um pronunciamento em cadeia de rádio e tevê às 20h25, quando houve panelaços e apitaços isolados em pelo menos quatro capitais no país. Na declaração, fez um balanço da gestão à frente da Casa.

Após conceder entrevista e anunciar o rompimento com o governo na manhã de ontem, a hashtag #CunhaNaCadeia entrou no Trending Topics (assuntos mais comentados) mundial. No início da noite, a expressão figurava no segundo lugar na lista. No Brasil, a hashtag chegou a ocupar o topo do ranking. A maioria dos comentários criticava a conduta de Cunha à frente da Câmara e relacionava o nome dele ao escândalo daLava-Jato.

À tarde, Cunha convocou um “aplausaço” ao seu pronunciamento na tevê, por meio de rede social. “Um político que escuta a voz das ruas e busca pôr em prática a vontade do povo acaba incomodando aqueles que colocam interesses próprios acima das demais vozes. Atitudes admiráveis merecem todos os nossos aplausos”, dizia a mensagem, seguida da convocação por aplausos.

No lugar de aplausos, porém, a fala do presidente da Câmara foi alvo de panelaços em alguns bairros de pelo menos quatro capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Brasília. Para o Planalto, os protestos são positivos já que mostram rejeição ao mais novo declarado opositor ao governo.

Durante a declaração de cinco minutos, Cunha fez um balanço em tom didático da sua gestão à frente da Câmara dos Deputados. Visivelmente sem jeito diante das câmeras, o parlamentar destacou que a Casa nunca trabalhou tanto. Redução da maioridade penal, terceirização e revisão do cálculo do fator previdenciário foram alguns pontos destacados pelo peemedebista.

“Temos dado respostas mais rápidas para problemas urgentes. A população não aguenta mais esperar. Na segurança, aprovamos projetos que combatem a impunidade, pois é ela que estimula o crime que amedronta a população. Com coragem e maturidade, debatemos a redução da maioridade penal e aprovamos um projeto com 323 votos, ampla maioria”, discursou.

“Vingança”

A fala do peemedebista ocorreu no dia seguinte à divulgação do depoimento do executivo da Toyo Setal Júlio Camargo, o qual afirma que Cunha pediu US$ 5 milhões em propina. O pronunciamento que foi ao ar ontem à noite havia sido gravado antes da denúncia. No depoimento, o empreiteiro afirmou que, em encontro no Rio de Janeiro, em 2011, o presidente da Câmara pediu propina de US$ 5 milhões. O acerto se referia a contratos que somam R$ 1,2 bilhão para aluguel de navios-sondas.

A saída do governo de Dilma foi motivada pela irritação ao ver seu nome cada vez mais envolvido com o escândalo. Ele nega as acusações, chamou o delator de mentiroso e diz que “é tudo vingança do governo”.