Saída de Temer da articulação é definitiva, afirmam aliados

 

A saída do vice Michel Temer do comando da articulação política fez o governo correr contra o prejuízo ontem. A saída, segundo aliados de Temer, é definitiva e ele se dedicará à sua atuação como vice. Em conversas internas, a avaliação é que o vice e seu principal auxiliar na articulação, o ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil) devolveram a “batata quente” das nomeações de cargos para a presidente Dilma e seus assessores mais próximos.

GIVALDO BARBOSATemer. Planalto quer passar impressão de que nada mudou no trato com vice

Temer explicou que agora ele se dedicará a se encontrar com lideranças políticas para tratar dos grandes temas do país. Perguntado por uma jornalista se seu afastamento do controle da articulação política como um todo abre caminho para pavimentar um processo de impeachment contra Dilma, Temer disse ser “absolutamente falso” esse entendimento. O vice afirmou que sua relação com Dilma não ficou arranhada.

— A presidente Dilma fez um pedido, naturalmente enalteceu gentilmente minha colaboração nessa primeira fase, mas concordou plenamente que estamos em uma segunda fase e devo exercitar outra espécie de atividade, ainda na coordenação política. Não há embaraço — disse.

O Palácio do Planalto, por sua vez, tenta passar a impressão de que nada mudou.

Ontem, Temer atuou e conseguiu evitar uma derrota do governo na votação de uma das propostas da chamada pautabomba: a emenda constitucional que impede que o governo federal ou o Congresso imponha medidas que impactem os cofres de estados e municípios. O problema para o Planalto é que isso libera os parlamentares para aprovar medidas populistas que impactem os cofres federais. Temer acionou o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), para construir um acordo e inviabilizou o movimento do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e seus aliados que pretendiam votar a emenda ainda esta semana no plenário da Casa. Temer conseguiu até mesmo convencer o relator da emenda, deputado André Moura (PSC-SE) a modificar seu texto. O relator deverá apresentar hoje o novo texto.

 

Panaceia ou não, afinal?

 

Há 158 dias Dilma Rousseff disse que reforma ministerial não era uma “panaceia”. Ou seja, não servia como solução para os males do governo. Na segunda-feira, porém, a presidente surpreendeu ministros e aliados anunciando o corte de pelo menos 10 pastas e mil cargos.

De março — quando rejeitou a reforma ministerial como solução — para cá a sustentação política da presidente e os índices econômicos pioraram bastante. Ela atingiu um recorde de impopularidade. O Datafolha mostrou que este mês 71% da população consideram o governo ruim ou péssimo. É a maior rejeição de um mandatário desde a redemocratização, diz o instituto.

No período, a articulação política do governo com o Congresso foi testada em inúmeros formatos, sem assegurar a governabilidade. A Secretaria de Relações Institucionais (SRI), responsável pelos acordos para as votações e por negociar as emendas parlamentares, foi comandada por Pepe Vargas, que tinha pouca autonomia e sofria forte influência do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, rejeitado pela base.

Não deu certo e, em abril, Dilma entregou a função ao ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha. Ele recusou, mas num arranjo pouco usual a presidente pediu que o vice-presidente Michel Temer, presidente do PMDB, assumisse as negociações com o Congresso e Padilha o auxiliou no “varejo”, tentando distribuir cargos e emendas aos aliados na Câmara e no Senado.

Temer e Padilha anunciaram que deixarão as negociações com o Congresso. Até agora, Dilma não apontou um novo negociador do governo, que, por causa da reforma, terá menos cargos para negociar com a base.

De março pra cá, foram presos na Operação Lava-Jato os dois presidentes das maiores empreiteiras do país, Marcelo Odebrecht, da Construtora Odebrecht, e Otávio Marques de Azevedo, da Andrade Gutierrez, e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.

Nesses 158 dias, o desemprego cresceu de 6,2% em março para 7,5% em julho, segundo o IBGE. A palavra “impeachment” foi citada quase que semanalmente no Congresso, em entrevistas e discursos de aliados e oposicionistas. E as manifestações de rua continuaram intensas. Segundo o Datafolha, 66% querem o impedimento da presidente.

Em março, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ainda era um aliado rebelde. Agora, anunciou o rompimento com o governo, abriu CPIs e, já na condição de um dos denunciados na Lava-Jato, tenta convencer o PMDB a abandonar a aliança com Dilma.

Diante desse agravamento sem precedentes das condições políticas e econômicas, a presidente anunciou a reforma administrativa que tinha classificado como um “escândalo” e “cegueira tecnocrática” dos adversários que defendiam a redução de pastas na campanha eleitoral. E agora, será panaceia?