Youssef: ‘novo colaborador’ falará sobre Palocci

 

Condenados na Lava-Jato, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef se abraçam após acareação na CPI da Petrobras. Sobre a contradição entre os dois a respeito de suposto pedido de doação de dinheiro do esquema para a campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010, Youssef disse que um “novo colaborador” da Lava-Jato vai esclarecer o caso. O dinheiro teria sido pedido pelo ex-ministro Palocci, segundo Costa, o que Youssef nega. O doleiro voltou a acusar aliado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de tentar intimidá-lo. -BRASÍLIA- O doleiro Alberto Youssef afirmou na CPI da Petrobras que um “novo colaborador” da Operação Lava-Jato vai esclarecer como foi feita a operação de repasse de R$ 2 milhões do esquema de desvio de recursos na estatal para a campanha presidencial de Dilma em 2010 por meio do ex-ministro Antonio Palocci. Ele participou de acareação na CPI com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que novamente afirmou que, “pelo que se lembra”, a operação teria sido feita por Youssef e que o montante foi descontado do caixa da propina que cabia ao PP. Palocci nega qualquer pedido.

UESLEI MARCELINO/REUTERSCara a cara. Youssef e Costa (de barba) durante acareação na CPI da Petrobras: divergências sobre repasses

— Ratifico meus depoimentos dados como réu colaborador. E vou dizer mais ainda. Vou me reservar ao silêncio com referência a esse assunto porque existe investigação desse assunto do Palocci que vai ser revelado e logo vai ser esclarecido. Outro réu colaborador está falando. Eu não fiz esse repasse — disse Youssef: — Vocês vão saber realmente quem foi que pediu o recurso e quem repassou. Assim que for revelado vocês vão saber.

Ontem, deputados do PP cogitavam a possibilidade de esse novo delator citado pelo doleiro ser o ex-deputado Pedro Corrêa, já envolvido no caso do mensalão e preso na Operação Lava-Jato.

ATAQUES E DECLARAÇÕES ANTERIORES

O doleiro estava protegido por um habeas corpus, mas respondeu a quase todas as perguntas e não quis falar apenas sobre a suspeita de grampo na sua cela no início da Lava-Jato, em março passado.

Na acareação, os delatores avançaram pouco. Costa destacou que já deu 126 depoimentos e, por isso, tinha pouco a esclarecer. O ex-diretor mudou o seu depoimento apenas para dizer que os recursos repassados ao senador Humberto Costa, líder do PT no Senado, vieram da White Martins e não de Youssef. A empresa nega a doação. Afirmou ainda que no caso do ex-ministro e senador Edison Lobão (PMDB-MA) o repasse não teria sido realizado pelo doleiro, mas pelo ex-deputado José Janene.

A maior parte das cinco horas de depoimento serviram para ataques políticos dos deputados e exploração de declarações anteriores. Parlamentares da oposição pediram que Youssef repetisse a afirmação de que o “Palácio do Planalto” sabia do esquema. Ele ressaltou que chegou a esse raciocínio com base nas conversas que teve, principalmente com Costa. Questionaram também o ex-diretor da Petrobras sobre a compra da refinaria de Pasadena, em 2006, para que ele repetisse que a responsabilidade pela compra era do Conselho de Administração da Petrobras, presidido na ocasião por Dilma.

Os parlamentares do PT, por sua vez, questionaram Youssef sobre a citação feita por ele ao senador Aécio Neves (PSDB-MG). O doleiro repetiu que ouviu de Janene que este dividia com Aécio recursos arrecadados em contratos em Furnas. A citação a Aécio foi arquivada pelo procurador-geral Rodrigo Janot. Em nota, o PSDB disse que as referências ao nome de Aécio durante a CPI foram uma tentativa do PT de criar um factoide. Segundo a nota, Youssef já declarou antes que não conhece Aécio e o STF concluiu que as citações são improcedentes.

Os petistas pediram para repetirem a acusação de que o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, já falecido, teria recebido R$ 10 milhões da Queiroz Galvão para enterrar a CPI da Petrobras de 2009.

Adversários do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aproveitaram para pedir que Youssef repetisse as informações de que o lobista Júlio Camargo lhe pediu ajuda para pagar a propina, por meio de Fernando Soares, o Baiano. E questionaram Costa para que confirmasse a intermediação de uma reunião de emergência de Camargo com Lobão, na qual o ex-ministro teria ligado requerimentos contra o lobista a Cunha. Costa confirmou a reunião, mas disse não saber do tema.

Os delatores reafirmaram acusações de repasses para vários políticos do PT, PMDB e PP. Em alguns pontos mantiveram divergências. No caso de Gleisi Hoffmann (PT-PR), ambos afirmam que houve o repasse a pedido do ex-ministro Paulo Bernardo, marido da senadora. Mas Youssef disse que foi Costa quem lhe pediu, enquanto Costa disse que o pedido veio do doleiro. As divergências se mantiveram sobre repasses a Lindbergh Farias (PT-RJ) e a Roseana Sarney (PMDB-MA). Quando a acareação acabou, Costa e Youssef se cumprimentaram com um abraço.