Tensão em alta nos mercados

18/07/2015

Rodolfo Costa

 
O agravamento da crise política, após o rompimento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, com o governo, analou o mercado financeiro. Ainda que analistas e investidores já tivessem a clara noção de que o peemedebista fosse um adversário contumaz da presidente Dilma Rousseff, permanecia a visão de que, mesmo rebelde, ele acabava seguindo a linha do partido de apoiar pontos importantes para o Palácio do Planalto no Congresso. 

Agora, acreditam os especialistas, a guerra foi declarada tanto que, logo depois de anunciar o rompimento com o governo, Cunha aprovou a instalação de duas comissões parlamentares de inquérito (CPIs), uma sobre fundos de pensão, outra sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que vinham sendo proteladas por ações do Planalto. A sensação no mercado é de que, se estava ruim com Cunha como aliado, agora ficará pior com o presidente da Câmara inimigo declarado de Dilma. 

Neste ambiente tenso, a Bolsa de Valores de São Paulo caiu e o dólar subiu. O Ibovespa, índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas no pregão paulista, recuou 1,37%, para os 52.341 pontos. Os analistas observam que, desde anteontem, com a decisão do Ministério Público do Distrito Federal de abrir investigações contra o ex-presidente Lula por suposto tráfico de influência em favor da Odebrecht, o clima no mercado acionário já não era bom. Ontem, piorou de vez. 

Teme-se que a crise política chegue a um ponto extremo, que inviabilize o ajuste fiscal prometido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Várias das medidas anunciadas pela equipe econômica para atingir a meta de superavit primário (economia para pagamento de juros da dívida) de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) dependem do apoio dos parlamentares. O clima pesou de vez, desabafou um técnico do governo. Na semana, o Ibovespa acumulou baixa 0,47%. No mês, o tombo chega a 1,39%. No ano, o saldo está positivo em 4,67%. 

Rebaixamento 
No mercado de câmbio, o nervosismo foi ditado pelo temor de que a crise política postergue a retomada do crescimento somente para 2017 e de que leve o Brasil a ser rebaixado pelas agências de classificação de risco, a ponto de perder o grau de investimento (chancela de bom pagador). Esperava-se que, com o início do recesso parlamentar, as coisas se acalmassem em Brasília. Mas, com a denúncia de que Eduardo Cunha recebeu US$ 5 milhões em propina, o clima azedou de vez, afirmou um operador de um banco estrangeiro. O nível de incerteza foi para as alturas, o que é péssimo para a economia, acrescentou. 

O resultado disso foi que o real apresentou o segundo pior desempenho ante o dólar entre as moedas emergentes, só perdendo para o peso chileno. A moeda norte-americana apontou alta de 1,13%, cotada a R$ 3,194 para venda. Na semana, a valorização foi de 1,10%. No mês, já subiu 2,73%; no ano, 20,1%. Na máxima do dia, o dólar bateu em R$ 3,202. Com certeza, os próximos dias serão de muito nervosismo. Os investidores deverão ter muito sangue-frio para aguentar o sobe e desce dos mercados, frisou um agente financeiro. 
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Meta depende de dados do Tesouro
 

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse ontem que a revisão da meta de superavit depende da análise de receitas e despesas do Tesouro Nacional. "Vamos ver o que o relatório bimestral indica e trabalhar dentro dos parâmetros da Lei de Responsabilidade Fiscal", afirmou. Ele participou, no Rio, da reunião dos secretários estaduais de Fazenda (Confaz), e voltou a dizer que a demora na votação das medidas de ajuste gera "incerteza ao setor produtivo".

Ele mencionou o adiamento da decisão sobre o projeto de desoneração na folha de pagamentos como um entrave ao equilíbrio das contas públicas. "Você tira do bolso do Tesouro para pagar a contribuição patronal de determinadas empresas. Essa é uma despesa de R$ 25 bilhões - duas vezes o Minha Casa Minha Vida.

Apesar da demora em concluir o ajuste, Levy já vê melhora no cenário interno. "Aos pouquinhos, a economia vai se recuperando. Demora, mas é preciso ter paciência, como em toda travessia", disse. Na opinião dele, com "o efeito do realinhamento de preços e do próprio câmbio, a gente começa a ver empresas com mais disposição, começando a ter mais resultados na exportação".

Segundo o ministro, a própria hidrologia ajudou em 2015, contribuindo com o setor elétrico. "Este ano, as chuvas estão melhores, então a gente talvez até comece a ver nos próximos meses redução no preço da eletricidade", afirmou. No relatório do Operador Nacional do Sistema (ONS), ontem, a previsão é de que as chuvas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, que responde por 70% da armazenagem do país, atinjam 133% da média para o período em 31 de julho.

O titular da Fazenda ressaltou o apoio recebido dos governadores à iniciativa do governo de reformar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e admitiu que a Medida Provisória nº 663 pode sofrer pequenos ajustes em relação ao desembolso do Fundo de Desenvolvimento Regional e Infraestrutura, um dos fundos criados para ressarcir os Estados após a convergência das alíquotas.